A Flor de lotus de Aguilera se abre para a indústria da música

O sétimo disco da cantora de sucesso Christina Aguilera reflete com dignidade o nome que lhe foi dado: Lotus. Extremamente autoafirmativo, e verdadeiro, ele emerge em meio a inúmeros álbuns genéricos.

Amanhã (9) é lançado oficialmente o novo disco de Christina nos EUA, e como aqui no Brasil as músicas já foram vazadas, estão também gerando opiniões controversas sobre o possível sucesso ou fracasso. Decidimos então, ouvir o que Aguilera tem a cantar depois de tantas reviravoltas em sua vida.

É de certo que o ser humano evolui muito mais através do sofrimento, e no caso de alguns artistas, rendem mais do que experiências, e sim grandes discos ou afastamento da vida musical mesmo. Christina Aguilera parecia ter voltado de uma grande guerra emocional ao lançamento de Stripped, decidida a soltar o vozeirão  quis também dividir com o mundo suas memórias conturbadas de abuso doméstico e conjugal. Mas não eram apenas de composições sobre superação que o álbum era feito. Uma mulher de atitude acabava de nascer, ou aparecer? Christina confirma que muitas vezes se reprimiu em meio ao mundo cruel da indústria da música, que não se expressava como realmente queria, portanto, singles como “Can’t Hold us down” e “Dirty” davam vida a mulher que antes havia sido machucada e fragilizada, ela agora redescobriria sua própria sexualidade e capacidade física. Ela havia se tornado também um vulcão, e este vulcão não deixou de entrar em erupção até hoje.
Back to basics foi uma experiência enriquecedora para uma cantora que não preza apenas pela sua imagem comercial, mas que vai além do óbvio, do famoso “feijão com arroz” das cantoras pop, e precisa experimentar sons, e trabalha para que as músicas tenham alma. Bionic foi parte também desse mundo experimental, sons eletrônicos foram adicionados em algumas canções dando aspecto futurístico.  Até mesmo o auto-tune teve forte presença em algumas canções as quais sua voz estava robotizada e plástica. Pelas baixas vendas e falta de apelo público, terminou sendo uma espécia de “objeto de arte” o qual Aguilera se orgulha muito, mas jamais teve tal reconhecimento pela crítica e pelos fãs. Nesse meio termo mudanças decisivas ocorreriam em sua vida novamente. O divórcio com Jordan Bratman que de acordo com boatos seria devido a uma traição por parte do empresário, o nascimento de seu primeiro filho, o programa The Voice, e o aumento notável de peso. Motivos os quais a mídia tratou de persegui-la em todos os aspectos, incitando agulhadas inclusive de Kelly Osbourne que havia feito cirurgia, se tornado magra, e tinha sido alvo de cruéis críticas da própria Christina. O que vai volta.

Mas se todos pensaram que Aguilera continuaria se dedicando ao The Voice, e se escondendo dos fracassos de vendas, estavam muito enganados. Em silêncio, no meio das enxurradas de especulações, a cantora norte-americana jamais desistiria de compor e cantar. Christina encabeçou o processo de criação do sétimo álbum “Lotus”, e anunciou que seria um disco sim com inspirações futuristas, mas equilibrado suficiente para que os fãs de antes, e os novos pudessem sentir tal ligação emocional. “Como em todo álbum, é o meu coração. É um trabalho de amor. Não são apenas músicas para mim; elas são sangue, suor e lágrimas e coisas do coração”, confirmou em uma entrevista a MTV Americana.

E se a nova geração não pode vivenciar a época de “Fighter”, irão assistir a mesma Christina Aguilera de antes, agora desabrochar sua flor de lótus como uma guerreira ainda mais forte.

No oriente, de acordo com o símbolo do budismo, a flor de lótus representa pureza espiritual e está associado ao amor e compaixão de Buda, capaz de nascer em qualquer ambiente ainda que obscuro. Em outras palavras, a flor cresce em água lodosa, e consegue ainda sim florescer com beleza e força. Baseado nessa filosofia, Christina Aguilera convidou Max Martin, produtor que já esteve à frente de artistas de nome como Britney Spears, e Kelly Clarkson para fazer um disco cheio de traços pessoais, porém modernos.

O álbum possui uma intro seguindo a mesma fórmula que Stripped e Back To Basics foram apresentados e nos causa estranhamento sobre que timo de clima será criado, e nos toma completamente a atenção. “Lotus intro” começa com um R&B lento, e bastante arrastado pelos sintetizadores, no fundo um grito abafado masculino anuncia a voz de Aguilera, que surge etérea e levemente robótica: “Este é o começo, levante-se lótus, levante, este é o começo”.

Army of me: Então vem o choque. De primeira, uma das melhores canções que você irá ouvir do álbum, e não é nada precipitado dizer isso, porque seu refrão forte e cheio de personalidade gruda facilmente, e é fatalmente o hino de liberdade de todo o álbum. Ainda que não tivesse a intro, essa música é uma espécie de sirene que toca e nos chama para ouvir o lotus inteiro. Cheio de influência da disco music dos anos 80, arrisco a dizer como facilmente Cher cantaria tal música com disciplina e qualidade, mas jamais teria a emoção de Christina. “Você me quebrou em vários pedaços, mas eu dei a cada pedaço um nome. Uma de mim é mais esperta, outra de mim é mais forte”, os agudos de Aguilera são arrepiantes, é quando você se dá conta “é a Christina mesmo”.

Red Hot Kinda Love: Os arranjos eletrônicos não escondem em nada, o início da canção que tem uma pitadinha latina e gostosíssima de dançar. Essa é uma típica canção pop chiclete para estourar nas rádios e ter um clipe bem legal. De letra fácil e ritmo acelerado, ela representa o lado divertido do disco, e está muito bem situada depois da army of me.

Make The World Move: Participação muito bem-vinda de Cee-Lo Green na produção da faixa. Tem aquela batida tipicamente black, e se torna completamente viciante com os vocais que gritam, unidos ao sintetizador futurista: “Move, move, move, move, make the world move!”. Se a Christina te chamou pra dançar e se libertar, aceite o convite.

Your Body: Há quem não gostou do primeiro single escolhido por Christina, a produção de Max Martin e Shellback criou uma música que nasce também do R&B (que se encaixa como uma luva na voz da cantora) mas que tem vocação para outros estilos também. E portanto, os gêneros eletrônicos são incorporados com vigor, sem perder a base inicial, incluindo nessa torta musical, uma deliciosa camada de dubstep no meio da melodia. É definitivamente a canção chave, e ajuda a levar o vigor das músicas agitadas e sensuais adiante.

Let There Be Love: É a música mais comercial do álbum, atire a primeira pedra aquele que não desejava uma canção assim. A voz poderosa de Christina tem espaço para ser forte e solta, mesmo que esteja rendida as batidas eletro genéricas tão padronizadas nos hits de rádio. Essa nasceu pronta para bombar nas pistas de dança, e quem somos nós para impedir? Há tempos Christina não fazia algo tão bom e porque não, tão FÁCIL encaixe comercial. Seria um single em evidência?

Sing for me: Chegamos ao momento das baladas emocionais. Se “Lotus” está parecendo para você uma união muito boa de “Bionic” melhor aproveitado com “Stripped” tenho tanto a dizer, você está certo. Christina Aguilera lança seus poderosos agudos para informar a você que “não, não é uma música sobre amor” é uma música sobre revolta com satisfação pela liberdade, ela não se importa sobre o que o mundo tem a dizer sobre sua vida, sua personalidade, é sobre o quanto ela expressa quando o som sai de sua boca. Forte.

Blank Page: Outra balada, suave e melancólica. Mas não convence. Músicas como Beautiful, The Voice Within e até mesmo Hurt, passam na frente à galopes, e talvez por isso não te conquiste, o que não quebra em nada o crédito de uma boa composição.

Cease Fire: Se estamos nas faixas em que a voz tem mais evidência, não podia faltar outra canção de peso e atitude. Cease Fire é uma música arraigada nos ritmos da black music. O que qualquer outra cantora negra americana faria com competência, Christina domina os altos e baixos de cada trecho que traz dramaticidade como só ela consegue demonstrar. Essa faixa é um grito de ajuda, que clama por uma trégua mas que traduz sobrevivência e alívio final.

Around the World: Música sem identidade. Apesar do ritmo acelerado, fica completamente perdida entre as outras canções, não disperta sentimento algum, e dificilmente agradará aos fãs.

Circles: Nem tudo está perdido. Depois de pular a intragável around the world você se depara com um presente. Quer um ritmo completamente diferente do que você anda ouvindo? Essa é a resposta, que não se parece em NADA com o que a cantora já produziu. De letra e ritmo divertido, Aguilera brinca com sua voz em tons diferentes e debochados, que vão de encontro com o refrão abusado. A voz metalizada canta: “Gire em círculos no meu dedo do meio”. É amor a primeira vista. Inclusive todo os gritos, risadas e gemidos em meio a música.

Best of me: Boa canção mas muito parecida com as que tocam hoje em dia. Uma balada de autoafirmação e melodia confortável que não evolui.

Just a fool: No que será que vai dar uma música que passeia pelo R&B e conta com a participação do artista country Blake Shelton? Outra balada romântica que seria melhor aproveitada como sound track em algum filme drama. A canção consegue passear pelo ritmo country, mais especificamente dos anos 90 sem deixar de ser pop, poderia ser facilmente cantada por Carrie Underwood hoje em dia. É bela, um pouco sofrida, emociona, e traz nostalgia.

Light up the Sky: Canção forte e libertadora. Demora para engrenar, mas é belíssima e convincente no refrão.

Empty Words: O Disco começa dançante e termina introspectivo. Têm todas aquelas músicas que te fazem tirar o pé do chão, no entanto, é voltado mesmo para as baladas regadas de narrativas sobre tristeza e superação. O auge dessa canção se assemelha muito as composições restantes do álbum stripped, inclusive as que não viraram single, como “Soar”, principalmente pelo instrumental.

Shut Up: Temos a Christina de “Can’t hold us down” dando as caras. Fortes pinceladas de Hip hop, trazem a atitude desejada a outra canção de protesto contra o excesso de críticas da mídia.

Christina Aguilera tenta provar que há formas de se construir músicas, equilibrando o emocional ao racional (ou seria comercial?). É como praticamente ocorre na vida de todos, principalmente depois de momentos conturbados: ocorre a entrega ao sofrimento,seguido de introspecção, redenção, mudança, e comemoração. E assim o lótus de cada um desabrocha mais uma vez. Esse é álbum cheio de esperança, força e sem frescuras.

 

Por Juliana L. Farias

2 Replies to “A Flor de lotus de Aguilera se abre para a indústria da música”

  1. Concordo em quase tudo é o melhor cd da cristina nota 1000 , mais a musica around the world q vc disse q os fãs nao gostariam vc esta enganado e a melhor musica do album não paro de escutar BRAZIL TO IBIZA :d

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