Crítica do filme “Antes da meia-noite”

Antes da meia noite 2

O FIM DO AMOR ROMÂNTICO IDEALIZADO! Assim poderia se chamar ironicamente “Antes da meia-noite” (“Before Midnight”), terceiro capítulo de uma trilogia iniciada com “Antes do amanhecer” (“Before Sunrise”), de 1995. Sim, a história dos dois jovens (o americano Jesse e a francesa Celine) que se conhecem num trem de Budapeste para Viena, optando em saltar na capital austríaca e papear longamente por toda a noite, com a promessa inesperada de só desfrutarem da companhia um do outro até o amanhecer (daí o título!), foi o grande romance cult dos anos 90. Com mais do que o dobro de seu modesto custo arrecado, Urso de Prata para a direção de Richard Linklater e desempenho inesquecível de Ethan Hawke e Julie Delpy, arrebatou uma legião de adoradores da verborragia “cabeça” e ao mesmo tempo romântica daquele inusitado encontro dos personagens. E mesmo num tempo onde nem sonhávamos com redes sociais, o clamor por uma continuação era ouvido ao redor do mundo inteiro.

Pois em 2004, nove anos depois daquela noite, os protagonistas voltam a se encontrar (dessa vez em Paris) em “Antes do por do sol” (“Before Sunset”). Celine se transformara numa ferrenha ecologista e tinha um namorado ausente. Jesse se casou, teve um filho e estava na capital francesa para lançamento do seu livro de grande sucesso na América, sobre uma certa paixão de um casal de jovens com duração de uma noite apenas … O novo encontro entre eles é repleto de ansiedade, descobertas incríveis, muito senso de humor e com o efeito transformador trazido pela maturidade consistindo-se em grande tensão sexual. O desdobramento de mais um momento de grande “falação”, em uma das mais originais e inesquecíveis declarações de amor da história do cinema, fez o filme não apenas ser um sucesso, mas entrar no seleto grupo das continuações que superariam o original.

Agora, outros nove anos depois de “Antes do Pôr do Sol” e 18 anos desde o primeiro filme, Linklater, Hawke e Delpy, reencontram-se novamente em “Antes da Meia-Noite” e a exemplo do anterior, escreveram juntos o roteiro e o produziram de forma independente. O casal de protagonistas finalmente esta unido, possuem lindas gêmeas para criar e estão numa paradisíaca Grécia passando férias em família. Só que nos deparamos com grandes diferenças dos filmes anteriores. Para começar, na construção das imagens. A fotografia opta por não se ater incessantemente a planos fechados nos dois personagens e nos desfruta mais da bela ambientação local.

Mas a proposta clássica da série em nos oferecer um grande plano sequência (com verborragia ininterrupta entre os dois), esta lá e acontece em mais de um momento dessa vez. Um questionamento surgido na primeira cena por Jesse, virá a descambar na frase que citei no início desse texto. O casal inesperadamente começa a fazer uma revisão radical da sua relação até ali, com todas as agruras que o desgaste de um casamento pode ocasionar

A história fatalmente pode decepcionar os fãs dos filmes anteriores, exatamente porque agora trata-se de um choque de realidade, uma espécie de “conto de fadas desconstruído” e não mais dos sonhos juvenis e expectativas românticas anteriores. Lembrando que os personagens entraram na casa dos 40 anos e dessa vez temos uma relação que se perdura desde o filme anterior (nove anos). É o momento de avaliação do que se viveu e analisar o futuro dali então… E a ousadia passou à frente do romantismo na condução do fechamento da trilogia. Pois quem disse que o amor não possui varias nuances comportamentais e as pessoas dentro de uma relação não se transformam ao longo do tempo?

Exercício obrigatório de lirismo cinematográfico! Analise toda a sequência na ordem estabelecida e terás um belo exemplo de amor VERDADEIRO em toda a sua real consistência, somada a evolução, desevolução (como queiram chamar) e maturidade do ser humano, simples assim… Mais um “golaço” dessa série, com total mérito para o trio que roteirizou, interpretou e dirigiu essa singela obra-prima do cinema moderno.

http://youtu.be/6syXJVCgJDA

Por Alessandro Iglesias

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