O Teatro Mágico e a metamorfose polêmica com o novo álbum “Grão do Corpo”

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No dia 9 de maio de 2014, o Vivo Rio recebeu, no Rio de Janeiro, a trupe O Teatro Mágico com a apresentação do show de divulgação do seu novo álbum “Grão do Corpo”.

Para surpresa dos fãs, a abertura contou com a apresentação solo de um ex-integrante da banda, o cantor, compositor e instrumentista Galdino que agora se dedica ao seu projeto “O Baile de Máscaras”.

Com uma apresentação modesta, o artista fez brincadeiras com o publico e apresentou algumas musicas do seu novo show. A conveniente oportunidade de convocar o público para sua apresentação no Rio de Janeiro acabou ofuscada pela baixa qualidade do som que, por muitas vezes, dificultava a compreensão das melodias.

O show de O Teatro Mágico, marcado para as 22h, começou com meia hora de atraso, aceitável se comparado a outras apresentações da banda. O grupo subiu ao palco apresentando sua nova formação: Daniel Santiago (guitarra, vocal), Fernando Anitelli (voz, violão, guitarra), Sergio Carvalho (contrabaixo), Rafael dos Santos (bateria), Ricardo (percussão), Guilherme Ribeiro (teclados e vocal). Abrindo a apresentação com a música “Mãos aos desolados”, Anitelli agitou o público e causou frenesi, principalmente dos fãs mais ouriçados que estavam desde 20h, abertura da casa, esperando e disputando os melhores lugares em frente ao palco. Todas as faixas do novo álbum foram executadas, com destaque para “O sol e a peneira”, “Da luta” e “Quando a fé ruge”. A manifestação dos fãs com cartazes de protestos e bandeiras do Brasil reforça que, após a trilogia do espetáculo, esse novo álbum trouxe um conceito claramente voltado para as questões sociais e políticas em que se encontra o atual cenário brasileiro.

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Para aqueles que acompanham a trupe desde “Entrada para Raros”, seu primeiro álbum, as mudanças foram chocantes em diversos aspectos. As roupas circenses foram deixadas de lado e substituídas por outras no mínimo intrigantes. O tom simples e circense que caracterizava o grupo e cativava pessoas de todas as idades, aos poucos vem sendo deixado e substituído por um tema mais sofisticado, político e adulto. Isso explica a escolha do figurino cinzento que parece retirado de um filme dark de época, criado em parceria com o estilista Marcelo Sommer. Parceria essa um tanto questionada pelos fãs, acostumados com álbuns recheados de críticas ao sistema capitalista.

A performance no palco também causou uma certa estranheza. Um vocalista mais sério, ainda mais militante (Até Marcelo Freixo assistia de camarote), sem piadas, sem circo e nem pão contrastou com as turnês dos 3 álbuns anteriores que pontuavam uma trupe lúdica e interativa com belas apresentações em tecido, lira, meninas cospe-fogo e malabaristas.

 As novas meninas trouxeram um novo formato de apresentação para a turnê, no qual atuaram de forma expressiva como um grito, dramaturgicamente, causando uma sensação de “o que é mesmo que se passa?”, como toda arte plástica sem legenda. As cenas de protesto como, por exemplo, bailarinas que mordiam fitas cassetes desenrolando-as com as mãos e coreografias com passos de robôs, surpreenderam a todos. Em uma das cenas, a nova bailarina lia Bukowski- “Crônicas de um amor louco”, vestindo bermuda social masculina, fita tampando os seios, blusão masculino aberto, boina e salto alto. Foram coreografias fortes trazidas pela enigmática Andréa Barbour, atual namorada do vocalista, e que parece influenciar fortemente essa nova fase do frontman, tanto quanto o novo diretor musical e guitarrista Daniel Santiago influenciou na sonoridade da banda. A trupe já não tem mais o violino, o DJ e a sonoridade de violão e percussão que marcavam a alma da banda nos álbuns anteriores.

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Na parte final, os fãs fizeram um show à parte: diversos balões coloridos foram levantados e centenas de bolhas de sabão vindas da plateia invadiram o palco, o que tornou o final emocionante como uma verdadeira declaração de amor à banda.

O resultado foi uma metamorfose artística em todos os aspectos visuais e sonoros, tal qual a obra deHermann Hesse (autor frequentemente citado por Anitelli), gerando uma divergência de opiniões entre os seguidores da banda. Da leveza lúdica da sua trilogia anterior, O Teatro Mágico opta por mudar para o pesado comportamento crítico nessa nova etapa de sua carreira.

Por Danilo Percú e Vivi Rocha


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