Lady Gaga abandona a figura exótica em “Joanne” e busca no soul a sua alma musical

Depois de alguns anos com pouco retorno comercial e muitas experiências, Lady Gaga enfim divulgou seu novo disco “Joanne”, lançado oficialmente nesta sexta-feira, 21. O álbum chegou às plataformas digitais, além de estar disponível também para a compra em lojas físicas. Ao todo são 11 faixas no CD e 14 no online. Produzido por ela mesma, BloodPop, Kevin Parker, Mark Ronson e RedOne, é algo um tanto quanto curioso ouvir a cantora abandonar, parcialmente, seu estilo tradicional e flertar com o soul e folks mas à sua maneira.

Há alguns anos cantou com Tony Bennett, grande nome do jazz, além de trazer para seus shows influências que fogem absolutamente de tudo o que seus fãs estão acostumados.  Desta vez a nova iorquina nos brinda com um disco que é a maturidade musical de alguém que percebeu que não pode ser esquecida como a “figura excêntrica do Pop”. E é isso que ouvimos. Agrada quem é mais conservador e decepciona quem ama seu estilo não-tradicional visto em “The Fame” ou “Born This Way”, por exemplo. A maior prova é a canção “Hey Girl”, um absoluto encanto e primor.

Nesta quinta-feira, o colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo, revelou também que Gaga será uma das atrações do Palco Mundo do festival Rock In Rio, em 2017. A produção do festival ainda não anunciou oficialmente o nome da cantora. Mas se for contar pelo trabalho novo, não poderá colocá-la no Dia do Pop. Lady parece até meio perdida quanto a que rumo tomar na carreira com o disco.

Lady Gaga talvez tenha feito a experiência de pisar num terreno fértil de talento e perigoso para os ousados, mas consegue se destacar. Mesmo que seus fãs fiquem confusos quanto sobre quem ou o que estão ouvindo.

Faixa a faixa e o que encontramos

O disco abre com “Diamon Heart”, música onde a voz da cantora mistura diversas batidas eletrônicas com uma bateria que dita o ritmo. Ela já é um indício de que o “lado Pop exótico” não aparece tão marcante nesse trabalho, o que “A-YO” comprova. Dançante e bem diferente do seu estilo, a canção lembra sonoridades dos anos 90 e começo de 2000. Seus vocais, inclusive, nesta segunda faixa, lembram bastante a da líder da Halestorm, Lzzy Hale, que faz agudos “de arranhar” e agressivos.

O que contrasta com a seguinte e que dá nome ao disco, “Joanne”. Uma balada tocada ao violão acústico, traz uma letra que poderia ser até uma pergunta para Gaga e este estilo Soul: “Aonde você pensa que está indo?”. Mas parece que ela sabe onde vai e vai bem. A música é a prova refutável de que Lady pode bem mais que as manchetes de jornais, com a sua figura bizarra, porque sempre teve talento vocal para mais. Bem mais.

A sequência seguinte sobe o tom novamente e segue mesclando nuances rítmicas. Com “John Wayne”, uma pegada característica dos seus trabalhos, o que não acontece com a “Dancin’ in Circles” e sua batida quase tribal. E a mensagem é clara, “tire esses sapatos e vamos agitar”. E agitar é o que faz “Perfect Ilusion”, single lançado há quase dois meses e que vem ganhando fama por estarem comparando a “Cilada”, do Grupo Molejo. A batida acústica com a letra chiclete é a fórmula antiga para o sucesso.

“Million Reasons” é outra balada onde a desilusão amoroso é tema. Só que “Sinner’s Prayer” é diferente de tudo. Nada mais folks que ela. Tem até banjo e teclados. Não à toa carrega o mesmo nome de uma famosa canção gospel do lendário Ray Charles. Mas as semelhanças param aí. Os versos são de um pecador que destruiu seu coração.

“Come to Mama” vai mais para trás ainda. Anos 50 na letra e melodia, inclusive com os metais que fazem o arranjo viajar para uma época em que Lady Gaga talvez tente buscar inspiração para se repaginar. A prova é “Hey Girl”, que é um estilo soul clássico. E com direito a falsetes e uma participação da Florence Welch, líder da Florence and the Machine, reconhecida por sua potência musical. Para os saudosistas, é um dos grandes momentos do disco. Ainda que seja Gaga e seus exageros. A canção pode ser ouvida centenas de vezes sem cansar.

“Angel Down” finaliza o trabalho diferente de como começou. Se a melodia com arranjo feito para piano dá um ar gospel, de novo, a sua letra é forte. “Tiros disparados na rua, perto da igreja onde costumávamos nos encontrar.” Só os fãs dirão agora se ela irá para o céu ou para o inferno. A certeza é que não está no purgatório musical e talvez acerte ao se desvincular de uma imagem tão exótica que durante anos cobriu sua carreira.

Classificação: Bom

OUÇA “JOANNE”

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