MARTY FRIEDMAN sensacional no teatro Odisséia

 

MART 2Nos anos 80 tínhamos alguma idéia de quem era Marty Friedman através das revistas especializadas. Os lançamentos fonográficos demoraram muito a serem simultâneos com o resto do mundo aqui no Brasil. Sabíamos que o cara angariava prêmios e elogios juntamente com o também gênio das seis cordas Jason Becker (possuidor atualmente de uma doença muito rara que paralisa todos os músculos do corpo) na banda CACOPHONY.

O anúncio de sua entrada no MEGADETH gerou extrema ansiedade… Como seria um autêntico “guitar-hero” em uma banda de Thrash Metal? A banda ficaria “rebuscada” demais, perderia sua agressividade? Mesmo em um nicho formado por grandes guitarristas, era notório que Marty estava no Olimpo em termos de técnica e estilo. O resultado foi um dos maiores álbuns do gênero, o magistral “Rust in Peace”. Não é que a química com o temperamental Dave Mustaine funcionou magnificamente?

Nós brasileiros pudemos logo em seguida vislumbrar sua genialidade com o MEGADETH no Rock in Rio 2, em 1991, no estádio do Maracanã (o antigo, BEMMM maior em termos de capacidade) lotado, show que foi considerado um dos grandes momentos daquela edição. Marty Friedman deixou a todos de queixo caído. Sim, sua versatilidade abrilhantou o Thrash! Foi considerado um dos instrumentistas que mais se destacaram naquele evento. Sua performance realmente era impressionante!

Fez ótimos álbuns com o MEGADETH por quase 10 anos e saiu logo após o lançamento de “Risk”, em 1999. Como o nome já denuncia, o disco foi uma imposição de Friedman para que a banda abrisse seus horizontes musicais e dessa vez a coisa não funcionou muito bem… Era hora de novos ares e desafios! Em sua busca incessante por sonoridades exóticas (algo que sempre foi recorrente em seu trabalho), foi para o Japão, onde consolidou brilhante carreira solo, abraçando a música japonesa de forma intensa.

Além de acompanhar diversos artistas locais e lançar álbuns diversos, apresenta programas televisivos, se tornando uma figura local muito popular. Ainda excursiona pelo mundo inteiro fazendo workshops e clínicas. Também é colunista de publicações especializadas diversas, entre elas a americana “Guitar World” e as japonesas “Young Guitar” e “Burn”.

Pois desde os anos 90 sem poder desfrutar ao vivo e a cores do seu talento, eis que temos essa oportunidade ímpar e histórica de ter acesso a um “workshow” com nosso “quase” cidadão japonês no teatro Odisséia, domingo (08/03), bairro da Lapa, justamente onde a alquimia sonora acontece mais intensamente na cidade maravilhosa. O MEGADETH veio recorridas vezes em nossas paragens naquela década, então realmente foi bem sentido ficar tanto tempo sem vislumbrar do seu raro apuro técnico e melódico.

Depois de um longo “Meeting&Greetings”, onde os fãs tiveram acesso a autógrafos e fotos (muitos levaram guitarras), eis que Mr. Friedman é chamado ao palco. A sensação de “deja vu” foi inevitável, porque o cara simplesmente não mudou NADA fisicamente, incrível! Em cima de uma base pré-gravada e sem nenhuma pedaleira de efeitos, a crueza só deixou ainda mais latente o seu inconfundível feeling. É realmente indescritível vê-lo tocar. E quando abria espaço para a platéia com a ajuda de um intérprete, além de histórias fantásticas, o mito era desconstruído através de grande humildade, fazendo com que se tornasse uma conversa intimista como em uma mesa de algum bar qualquer ali da Lapa.

Tive o prazer de lhe fazer a primeira pergunta. Quis saber se ainda mantinha contato com o antigo parceiro Jason Becker. Se a premissa fosse positiva, notícias referentes à sua saúde, algo que a imprensa há muito tempo não noticia. Respondeu que Jason é um dos seus melhores amigos, o estado clínico realmente é preocupante, mas que ele não quer que sintam pena dele. Na medida do possível participou em uma faixa do recém lançado álbum “Inferno” de Friedman. E comovendo a todos, afirmou que quando estivesse com o cara, diria que quando esteve no Rio de Janeiro a primeira pergunta foi sobre ele e a sua saúde, o que fez a casa vir abaixo! Emocionante…

E as histórias surpreendentes foram muitas! Após o estouro de “Rust in Peace”, o sucessor álbum mais cadenciado “Countdown To Extinction” foi uma tentativa de alcançar um público ainda maior. Não descartou uma volta ao MEGADETH no futuro. Suas principais influências para se tornar músico foram KISS e RAMONES. É apaixonado por música japonesa, um dos principais motivos por ter se instalado no país. Vai querer ouvir Maracatu, sugestão dada de um ritmo percussivo “exótico” que lhe agradaria. Muita prosa referente a técnicas diversas dentro do seu estilo. E a pedidos, executou na íntegra o matador solo de “Tornado of Souls” e a canção “Rio”, que não estava no set-list. Brincou dizendo que como não tinha pensado nisso antes, era óbvio que teria de tocar essa música!

Contou que a mesma foi composta após o show do Rock in Rio. Ele estava doido para conhecer a cidade, ir a alguma festa, achou as brasileiras “gostosas” (em bom português, provocando riso geral) e eram tantos fãs na porta do hotel acampados, que a produção por questão de segurança achou melhor que não saísse. Aproveitou para compor essa pérola mediante a frustração de estar “preso” no Rio de Janeiro. Detalhe: tocou no “workshow” com uma guitarra emprestada por um fã de Volta Redonda, já que as suas ficaram presas na alfândega.

Entre músicas, solos e histórias maravilhosas, uma noite de SONHO na companhia do grande Marty Friedman. A felicidade mútua era latente. Um golaço da Blog’n’Roll Produções por ter proporcionado esse evento aos fãs brasileiros, não só no Rio de Janeiro, mas em várias outras cidades .

Texto de Alessandro Iglesias

Foto de Raquel Moss 

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