Noite absoluta da pregação “bluezeira” dos BLIND BOYS OF ALABAMA

 

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Segundo dia de Back2Black e o início é sempre aquela correria, pela questão já explicada ontem, do show na GRANDE SALA que desmantela completamente a grade da programação. Hoje não foi possível assistir por completo as apresentações de MAYRA ANDRADE e da ORQUESTRA BAOBAB no palco RIO. A cantora do Cabo Verde conquistou o público rapidamente com seu timbre agradável, sua beleza, doçura e uma sonoridade que apesar de ter a latinidade como bandeira primordial, flerta bastante com a nossa MPB. Aquele som para dançar juntinho e evoluir nos salões da vida. Uma agradável surpresa, fica a dica!

A ORQUESTRA, presenciamos apenas da metade para o final. Os senegaleses desbundaram qualidade com sua etnicidade latente, com forte influência da música cubana. E o visual estético da banda era “África total”, de grande beleza! Mais um som para dar aquela “viajada”, dançar coladinho, pareceu uma continuação (só que mais radical) da proposta do show de MAYRA. Aliás, foi um dia de sonoridades mais cadenciadas predominarem, talvez para equilibrar a explosão que foi o dia anterior.

Em termos, porque na GRANDE SALA, o “bicho pegou” com a apresentação dos BLIND BOYS OF ALABAMA. Os três tenores cegos com vozes fantasticamente harmoniosas, despejando seus cantos GOSPEL em um repertório com o melhor do rhythm and blues e forte influência daqueles “lamentos” típicos do puro blues nascido às margens do rio Mississipi.

Uma banda de apoio despejando “feeling” violentamente, com “tempero” de rock, soul e jazz, e que juntamente com a singela e pungente “pregação coral”, fez com que todos nos sentíssemos em um daqueles cultos animadíssimos e repletos de emoção, que até hoje são características marcantes na cultura dos bairros negros americanos.

Ainda mais com a presença de um dos mais célebres “pregadores” da América no palco, o reverendo JESSE JACKSON. Todos com as mãos para o alto e celebrando além de tudo, o amor a música! A BOA música, aquela feita realmente com verdade e sentimento. Show curto, mas o suficiente para entrar para a história como um dos melhores já ocorridos nos palcos do Back2Black.

Um detalhe interessante: o NOVÍSSIMOS, foi a única atração a fazer parte do casting neste ano a ter participado da edição do ano passado. E mais uma vez fizeram bonito no palco ESTROMBO. Sua “salada” de ritmos brasileiros, jazz, salsa, deixando a festa com clima de gafieira, é sempre certeira! E em companhia da cantora NATASHA LLERENA, colocaram o povo para dançar JUNTINHO! Mais uma vez… Vale destacar a perfeita simbiose com a voz doce de NATASHA, uma perfeita comunhão. Mais uma vez o NOVÍSSIMOS deixa seu recado com louvor.

A expectativa era MUITO grande para o grande tributo em homenagem a uma das maiores expressões da história musical do continente africano. MIRIAN MAKEBA fez sua carreira nos EUA juntamente com o marido, o trompetista HUGH MASEKELA (uma das atrações da edição passada do festival, fazendo show antológicol!), em virtude do exílio sofrido por ambos como decorrência do insano regime do APARTHEID, que assolava a África do Sul naqueles tempos.

Homenagem mais do que justa a MAMA AFRICA (como era chamada), pela sua importância musical e política em sua trajetória de vida (faleceu em 2008). Uma das maiores cantoras do mundo e que não tivemos a oportunidade de presenciar em solo brasileiro. Só que infelizmente a coisa não ocorreu como era esperada. Para começar, a quantidade de convidados foi extremamente grande e com o tempo, o público foi ficando cansado e toda a homenagem que era emanada do palco com sinceridade e emoção por parte de todos, acabou se perdendo pelo excesso.

Só quando a fantástica “big-band” atacava com canções de africanidade explosiva, é que o público acabava interagindo. Nas músicas mais reflexivas, principalmente a que teve o discurso “baianês” do nosso GILBERTO GIL (explicando a proposta política da canção, etc), a reação era enfadonha. Para funcionar bem, da forma como se planejou, talvez fosse melhor ser incluída no meio do festival ou à parte, na GRANDE SALA. Vale destacar as performances imponentes de SAYON BAMBA, YEOKA e BUIKA (que se apresentará hoje!), que colocaram o povo para se esbaldar.

Os trajes típicos, a negritude, a sonoridade… A África estava ali, aos nossos olhos, uma bela continuidade do clima instaurado pela ORQUESTRA BAOBAB naquele palco. Tudo muito bonito, MIRIAM MAKEBA foi honrada na sua importância, mas infelizmente não funcionou como deveria. A noite foi dos “meninos cegos do Alabama”, que mostrou que quantidade em termos de TEMPO, necessariamente não se transmuta em qualidade, por mais nobre que tenha sido a proposta da homenagem… Hoje tem mais, é o ÚLTIMO DIA!

Por Alessandro Iglesias

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