O samba Zé do Caroço ganha versão rock de banda carioca

canto cegoO peso das guitarras da Canto Cego se encontra com a força de “Zé do Caroço”, o ilustre personagem imortalizado por Leci Brandão, em 1978. A canção de quase quatro décadas permanece atual quando se observa o tratamento destinado aos moradores da periferia do Rio. No clipe, os “Zé do Caroço” atuais são retratados em suas primeiras horas do dia. Muito mais do que levar para a tela os moradores de diversas localidades do subúrbio do Rio, o vídeo deseja mostrar que a liderança proposta na clássica canção está viva na rotina das pessoas comuns.

“Antes de tudo, as favelas e periferias são muito mais o espaço de pessoas honestas e trabalhadoras do que lugares onde a criminalidade prospera. Infelizmente, a informação massificada de violência mascara a natureza incrível dessas pessoas que estão diariamente dando o melhor de si. Nossa ideia foi trazer pra perto esses heróis da vida real. Líderes que estão passando ao nosso lado todos os dias. É fundamental a gente olhar pros lados, reconhecer e se identificar com a força dessas personalidades”, elucida Roberta Dittz, vocalista e responsável pela direção do clipe.

Confira o clipe:

Figura marcante na história do Morro do Pau da Bandeira, localizado em Vila Isabel, o líder comunitário Zé do Caroço era um policial aposentado chamado José Mendes da Silva. Conhecido pelo inusitado apelido e dedicado a defender a favela, ele colocou um alto-falante na laje de sua casa para transmitir notícias relevantes aos moradores da redondeza. Foi quando a esposa de um militar que morava em rua próxima ao Morro reclamou que o serviço de Zé do Caroço a incomodava quando assistia à novela.

A história foi contada a Leci Brandão, na época moradora da Mangueira, que compôs a música lamentando que não havia figura parecida em seu bairro, e elogiando a iniciativa de Zé, que fornecia informação alternativa para os moradores. A canção “Zé do Caroço” é a mais regravada de Leci Brandão, segundo levantamento do Ecad, e também a mais polêmica. Quando a sambista quis inserir a música em seu sexto disco, que seria lançado em 1981, a Polydor proibiu. Corajosa, Leci rescindiu o contrato e gravou outro álbum em 85, quando estava na gravadora Copacabana.

Os músicos Ruth Rosa (bateria), Rodrigo Solidade (guitarra), Magrão (baixo), além de Roberta, acompanharam o descaso do Estado em relação à segurança pública e o acesso a serviços básicos. No clipe da Canto Cego, a banda procura resgatar a autoestima dos moradores por meio de exemplos positivos. “Todo mundo se entristece e sente o peso dessa violência toda, mas é importante reconhecer nossa força natural, o que nos impulsiona em meio a tantos cenários ruins, e recuperar pelo menos parte da confiança”, completa Roberta.

O vídeo traz artistas, ativistas e líderes sociais do Complexo do Alemão, Bangu e Nova Iguaçu, além da própria Leci, em participação especial.

“Escolhemos essas pessoas com base em projetos que admiramos. Moramos perto do Alemão, o Rodrigo cresceu lá, de forma que já sabíamos quem poderia colaborar com nossa ideia. E nossa maior honra é ter também a Leci Brandão, compositora da música, uma mulher sambista que tem uma trajetória linda e passou por diversas gerações do samba. A gente já amava a música e ela, e tê-la no clipe é algo muito precioso. Mas tiveram muitas outras participações que vieram das situações dos lugares por onde circulamos, e que expressam o dia a dia de muitas pessoas. A professora é a mãe do Rodrigo que realmente é professora, e temos a avó, primo e tio dele também. A sobrinha da Ruth aparece indo pra escola. Nossos líderes estão por todo lado”, conta Roberta.

É por meio de sua música que eles levam o nome da periferia carioca para todo o mundo. Antes mesmo do disco de estreia, “Valente” (2016), o grupo já era conhecido graças à participação no Festival de Jazz de Montreux (2015), na Suíça, onde fizeram uma pequena turnê; além de passagens no Planeta Rock (2014) e a conquista do primeiro lugar no Festival da Nova Música Brasileira (2012). Em destaque no repertório, sempre aparecia sua versão para o clássico de Leci Brandão. Mesmo após tantos anos, “Zé do Caroço” ainda faz sentido para os moradores da periferia do Rio.

“Por mais que a gente não viva uma ditadura anunciada, e a liberdade de expressão esteja superficialmente garantida, a desigualdade econômica e de informação ainda perdura por todos os lados. A arte de uma maneira geral tem esse poder de falar com vários tempos, e com essa música não é diferente. A forma simples e direta que ela aborda o caos e a esperança é muito atual. Ainda precisamos de novos líderes e muitos Zés do Caroço. Ainda bem que eles continuam nascendo”, finaliza Roberta.

Agradecimentos:

Dudu De Morro Agudo, Mc Martina, Raul Santiago, Roseli Medeiros, Josivaldo Solidade, Marcelo Madureira, Enaldo Solidade, Leonardo Solidade, Edvalda Matildes dos Santos, Anna Luiza Rosa, Leci Brandão, Juliano Souza, Auricelia Padilha Mercês, Maria Rosa Galvão Padilha Mercês, Simone Ribeiro da Conceição, Mariana Maia da Silva, Reginaldo Severino da Silva, Rosiel Cruz, Stephanie Alves A. De Souza Dutra, Ruth Consuelo do Nascimento, Encadeart, Instituto Enraizados, Museu Casa Bumba Meu Boi, Coletivo Papo Reto, Paulo Barros, Sheila Rocha, Bruno Henríquez, Ayumi Souza, Toca Discos, Constança Scofield e Felipe Rodarte.

Gravado em:

Complexo do Alemão, Complexo da Maré, Ramos, Bangu, Inhaúma, Encadeart, Instituto Enraizados, Nova Iguaçu, Santo Cristo, Museu Casa Bumba Meu Boi e Assembléia Legislativa de São Paulo.

Canto Cego é Magrão, Roberta Dittz, Rodrigo Solidade e Ruth Rosa

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