RPM como nos velhos tempos

TEXTO: Alessandro Iglesias

FOTOS: Gabriela Esteves

 


Eu sei que fica MUITO difícil para quem não viveu a década de 80 entender com exatidão o que foi o fenômeno RPM. Esse comentário do brilhante jornalista Nelson Motta, diz muita coisa sobre esse impacto: “Pela primeira vez, tínhamos uma banda de rock perfeita e acabada, com todos os ingredientes: o crooner gatíssimo, o grande instrumentista dos teclados, música rock, atitude rock, temática rock, shows com tecnologia de ponta… O pop brasileiro já estava no mainstream. O que tinha que surgir para consagrar o novo estilo? Um mega artista, enchendo estádios, viajando o Brasil inteiro, histeria de fãs, hotéis cercados, coisa de Roberto Carlos dos anos 60. E abriu caminho para as outras bandas. Foi importante para o rock, para a indústria, para todo mundo. O RPM acertou no milhar, todos queriam ter o seu RPM.”

E detalhe, com um som antenado com o melhor do pop rock da época (DURAN DURAN, A-HA, GENESIS) e letras com influência direta do rock progressivo. O tempo nos mostrou que apesar do sucesso meteórico (recorde de shows e apresentações na TV, programa Globo Repórter especial sobre a banda, álbum de figurinhas próprio, um dos discos mais vendidos da indústria fonográfica brasileira, o “Rádio Pirata Ao Vivo”), não eram tão descartáveis quanto pareciam na época.

Não resistiram a superexposição, ao uso excessivo de drogas e alcool, aos egos inflamados, as divergências musicais (quantas vezes já não vimos essa história no rock’n’roll?) e encerraram atividades ainda nos anos 80. Só foram ter novamente  valor reconhecido no final dos anos 90, quando começou a haver um resgate da boa música dos anos 80. Exatamente quando resolveram voltar as atividades, com a gravação de um registro ao vivo em 2002 pela MTV, acompanhados por uma orquestra. Os shows da turnê foram ótimos, sem a mesma proporção anterior (claro, impossível!) uma nova geração de fãs começou a surgir, emplacaram a musica tema do BIG BROTHER, só que mais uma vez os problemas voltaram e a banda acabou novamente em meio a um clima super hostil promulgado pela imprensa na época.

 Um hiato de longos anos, com todos em seus respectivos trabalhos paralelos e mais uma vez procuraram resolver as antigas diferenças. Acenaram com um novo retorno em 2007. Fizeram questão de afirmar que o amadurecimento decorrente da idade mais avançada e das infrutíferas experiências anteriores, os fariam voltar em grande estilo e dessa vez pra valer! Entraram em estúdio em 2011 e lançaram o autoral (depois de muitossss anos!) “Elektra”, uma ótima atualização do flerte de rock, pop e eletrônica que sempre caracterizou o trabalho da banda, e com ênfase nos indefectíveis sintetizadores, principal marca registrada.

E são duas desse novo trabalho que abrem o show do CITIBANK HALL neste sábado: a política “Muito Tudo”, e a eletrônica “Dois Olhos Verdes”. A pergunta que não quer calar: o que mudou no RPM daquela época para agora? A superprodução de palco esta lá, com muitas luzes frias, gelo seco em abundância e um excepcional jogo de luzes e lasers diversos; todos se mostram melhores instrumentistas ainda do que nos anos 80; sim, Paulo Ricardo ainda arremata suspiros e gritos de LINDO durante todo o show (em nenhum momento você imagina que o cara já teve um passado toxicômano, está em excelente forma física); a platéia ainda é predominantemente feminina (tradição!); e o ápice da banda, o disco “Rádio Pirata Ao Vivo”, foi tocado quase na íntegra.

O que tínhamos de diferente então??? Casa não lotada num show com mesas, que sabemos que diminui e muito a capacidade local, uma pena. Público em parte ainda com mais idade do que os componentes da banda. Pensei o porque, refleti e ficou fácil a resposta: o RPM não foi um RESTART, que só adolescentes mesmo conseguem engolir. Como a banda tem qualidades indiscutíveis em seu repertório, até os pais dos jovens daquela época curtiam o som da grupo. Tá explicado! Mas mesas definitivamente não é para uma banda como o RPM, aquela frieza contemplativa… Depreciava o ótimo show que estávamos vendo.

A coisa só esquentou quando na dramática interpretação de “London London”, Paulo resolveu descer até a plateia e a mulherada causou um alvoroço só em cima do moço! O povo levantou de vez e a coisa agitou muito até o fim, com todos em pé, como deveria ter sido desde o início!!! Foi engraçado, mas providencial.

Bem interessante o formato do set acústico com várias músicas na língua inglesa que funcionaram muito bem na voz do sexy frontman (que aliás está cantando MUITO melhor!). A história da banda sendo contada através das canções também foi algo que somou bastante ao espetáculo, como após “Naja”, muitos saberem que foi a única instrumental a ter feito sucesso nas rádios brasileiras; que o mega hit “London London” (obscura canção feita por Caetano Veloso no exílio) foi gravado por indicação do diretor artístico da turnê na época, Ney Matogrosso e em retribuição a essa dica tão valiosa, fizeram “Flores Astrais”, do repertório lado B do SECOS E MOLHADOS (banda integrada por Ney nos anos 70), que também fez muito sucesso!; e ao final, antes do clássico “Olhar 43”, a homenagem sincera ao Chacrinha, que através do seu programa na época, deu espaço a toda aquela cena dos anos 80 que vinha surgindo.

O RPM mostrou que está em forma, acertados (todos se abraçavam a todo momento) e tenho certeza que esse show funcionaria numa ambientação mais rock, como o Circo Voador por exemplo… Alcançar as novas gerações é questão de tempo, pois a garotada quando tiver acesso ao trabalho e ao show dos caras, se tiver senso e bom gosto, vai imaginar que coisas como NX ZERO não eram nem para terem existido. O rock brasuca precisa do RPM, simplesmente porque não temos nada que chegue sequer perto da sua qualidade e tenha surgido. Que dessa vez essa volta seja pra valer! Ponto para o RPM.

 SET LIST:

 Muito Tudo

Dois Olhos Verdes

Louras Geladas

Rainha

Vida Real

Juvenília

Guerra Fria

A Cruz e a Espada

Partners

Intro Blues/ Exagerado

Mergulho/ Naja

Beatiful Girl/ Imagine/ One

Wish You Here/ Dois/ Easy

London London

Flores Astrais

Revoluções por Minuto

Alvorada Voraz

Rádio Pirata

 BIS

 Ninja Remix

Olhar 43

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4 Replies to “RPM como nos velhos tempos”

  1. Olá sou do fã clube do RPM a muitos anos e adorei a crítica, porém só uma correção, a primeira música do bis sechama Ninfa (tocada na versão remix) e não Naja como foi publicado.

  2. ja vi o show duas vezes em SP e concordo com tudo que foi dito na materia fazer o mesmo sucesso que nos anos 80 é questão de tempo e que venha a Revolução

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