Show “Mais uma página” de Maria Gadú lota Circo Voador

Maria Gadú mostra sinais de amadurecimento artístico e muita desenvoltura no palco. Fãs lotaram o circo voador e se emocionaram com as melodias e participações especiais.

Parece que foi ontem, que o primeiro álbum da cantora era apresentado ao público. “Shimbalaiê” era tocada por todas as rádios, e trilha sonora marcante da novela Global “Viver a Vida”. Um ano depois, em 2010 a graciosa Maria Gadú pisava nos palcos para seu primeiro DVD multishow ao vivo. Mesmo já tendo se apresentado em lugares menores antes de ser conhecida e depois tendo participações especiais ao lado de Eagle-Eye Cherry, Ana carolina e até mesmo Chitãozinho e Xororó, havia muito ainda de ser lapidado no comportamento em palco. Alguns fatores podem ter dado uma nova cara a apresentação que mesmo debaixo de chuva, atraiu quase todos que estavam na lapa para dentro do Circo Voador nesse sábado (17). Primeiramente, o Circo voador tem vocação para liberdade. Em meio a diversas casas de shows, ainda depois de anos de mudanças e retorno, o Circo continua sendo um reduto alternativo. Através dos preços, das atrações diferenciadas que são convidadas, principalmente bandas novatas e por fim, a tal liberdade que o artista tem para guiar seu show em um espaço simples entretanto íntimo, próximo do calor humano da platéia e no berço da boemia e da democracia musical: a Lapa. Outro motivo importante que deve ser considerado é o processo de transformação sutil mas ainda sim presente, no estilo do último álbum de Gadú “Mais uma página”. O disco traz mais temas da própria autoria da artista, e regravações extremamente especiais de Beto Guedes e Caetano Veloso. Esse projeto é inteligente e arrisca em diversas sonoridades que antes não havia sido usada. Temos letras mais densas, entre pitadas de baião, canções embebidas nas sonoridades dos Los hermanos e até uma viagem mais zen em músicas suaves e étereas. Resumindo, Gadú deu um bom passo a frente em manter seu estilo mas explorar outros caminhos da música também, modificando a visão engessada ou errônea que muitos tem da nova MPB. Se uma Gadú diferente nascia através de uma nova fase, o show que apresenta o disco não podia seguir outra linha.
Era 29h e as pessoas já se amontoavam em filas sem fim para a abertura dos portões do Circo Voador que ocorreriam às 22h. Atrasos quase sempre ocorrem, mas nesse sábado foi um pequeno tormento. O portão se abriu aprox 23h, e a chuva já caía forte. Porém, nada afastou a galera que se manteve forte na porta. Quando a fila havia sido diluída, mais demora nas apresentações de abertura. O som de Dj Lili Prohmann que ocorreria nos intervalos, não se viu, a banda Playmobille pareceu animar assim que apareceu, mas na verdade deixou muita gente entediada que passeava pelo bar entre um drink e outro, sem dar muita atenção nem mesmo para o telão. Não que a banda seja ruim, mas foi cansativo o tempo prolongado que cantaram e tocaram. As pessoas já estavam exaustas de tanto esperar por Maria Gádu, que no auge das 01h ao subir no palco acordou quem já estava dormindo de tanto esperar. A cantora carismática como sempre, tinha seus olhos brilhando devido ao carinho do público, e era sorrisos e sorrisos. O show teve mais de 25 músicas bem equilibradas, parte focadas nas composições do novo álbum, alguns que não animaram tanto como as antigas “bela flor” e “Dona Cila”, mas outros que foram cantados com tamanho vigor que Maria permitiu que o coro do Circo cantasse boa parte nas músicas. “Axé acapella” foi anunciada com os primeiros e óbvios trexos “Pararam pra reparar? Estão ouvindo esse som?” e tamanho alvoroço foi criado em resposta. O auge da agitação foi com a música “Linha Tênue” composição de Dani Black, e o corpo solto de Gadu se movimentava e lado a lado, cantando com tanta atitude muito além da música versão de estúdio, e que na memória da geração mais velha presente no show, se abraçaria facilmente a lembraça de Cássia Eller e seu jeito grave de cantar, com mil trejeitos e músculos contraídos. Gadu estava incrivelmente mais aberta a interpretar sua música no palco, e tal música deixou todos sem fôlego. A imagem que antes era tão ligada a artista caía à terra: banquinho, voz e violão, nada mais. Tudo isso com direito os deliciosos covers “Maria Solidária”, “Amor de Índio” de Beto Guedes, “Tempo perdido” do Legião Urbana, o que de fato causou arrepios na platéia, e teve o convite de Thiago Iorc para uni-la no vocal, mantendo o arranjo suave e nos remetendo a um clima nostalgico e apaixonante.
A noite prometia ser longa, o show acabou aprox. 3h, tornando um pouco cansativo, mas nada entediante. As participações dos artistas Cícero e Leandro Léo haviam tomado boa parte do setlist. Muitos que estavam ali eram fãs dos dois artistas e de Gadú, o que fez com que eles fossem abraçados pela galera que cantaram suas músicas até mesmo quando Maria se sentou num canto e disse que iria “assisti-los”. Paulinho Moska também foi um dos convidados, sendo que na banda de abertura já havia se apresentado relembrando “Um Móbile no furacão” seu grande sucesso da década de 90. Não pareceu agradar nem desagradar um público que não conseguia recordar quem era mesmo o cantor. De alguma forma, seu retorno no palco pareceu levemente insistente já que ele anda meio apagado mesmo após o lançamento do disco “Muito ou Pouco” de 2010, e já havia bastante artistas no palco. Porém, nada como a canção romântica de sucesso, e talvez uma das melhores músicas de Paulinho “Pensando em você”, para chamar a atenção de todos derreter os corações. Em meio as baladas que eram trazidas de volta dessa pequena retrospectiva saudosita, pode-se dizer que “Versos” do skank está no top dos melhores da noite também. Uma nova versão agradou à todos que cantaram do início ao fim, toda a letra da música.
O que ninguém esperava era que entre a performance de “Podres Poderes” de Caetano Veloso, Maria Gadú cantasse “Dog days are over” da banda atual “Florence And The Machine” que mesmo desafinando por sua voz ser grave e a canção necessitar de extremos agudos, empolgou os mais novos que até dançaram debaixo da chuva que voltava a cair.
Maria Gadú tem talento, quem duvida? Ela está evoluindo cada vez mais como artista dando os primeiros passos para a renovação de estilo como uma mente sensível e perspicaz tem que fazer, cedo ou tarde. O show foi nada mais nada menos do que a nossa Gadú: Personalidade, um carisma capaz de derreter os corações mais frios, violões bem dedilhados, boas letras e elementos variados de percussão, sua única falha foi ter colocado um show com duração tão longa depois de tanto atraso. Mesmo sendo considerada por muitos críticos longe de se tornar um personagem inovador na MPB, posso afirmar que ao sair da mesmice e manter sua marca, Maria Gadú está escrevendo novas e importantes histórias, de forma gradual e especial no mundo da música, esse show é parte da comprovação.

Fotos: Jefferson Ribeiro
Texto: Juliana L. Farias

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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