Vida Alves: objetivo além da arte

Atriz fala ao Cult Magazine sobre a fase atual da televisão e a necessidade de preservar a memória do que já foi feito.

Talvez pouco conhecida da nova geração de noveleiros, Vida Alves é peça fundamental da história da TV brasileira. Além dos papéis marcantes como a heroína Laura, do folhetim O Amor Tem Cara de Mulher (1966), e a baronesa Catherine de Meu Filho, Minha Vida (1967), foi dela a primeira cena de beijo da telinha em Sua Vida me Pertence (1951). Em entrevista exclusiva ao Cult Magazine, a atriz de 84 anos conta um pouco sobre os momentos marcantes de sua carreira e sobre o trabalho que desenvolve desde 1995 como presidente da Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da Televisão Brasileira, ou simplesmente Pró-TV, instituição que tem o objetivo de resguardar a memória da televisão nacional.

Vida Amélia Guedes Alves começou sua carreira no rádio e migrou para a TV logo que ela “nasceu” no país, em 1950, pelas mãos do empresário paulista Assis Chateaubriand. Começou atuando em programas como TV de Vanguarda, um dos principais da TV Tupi na época, e em telenovelas. O beijo inaugural – na verdade, um inocente selinho – no último capítulo de Sua Vida me Pertence foi “dividido” com o galã Wálter Forster (1917-1996), que também era diretor e roteirista do folhetim. “O beijo foi apenas orientado pelo Forster. Foi simples, uma cena qualquer, não teve nem ensaio. Algo inteiramente técnico”, minimiza a estrela.

Vida se diz admirada ao observar o avanço da telenovela brasileira ao longo de mais de 6 décadas, sobretudo na parte estrutural. “A novela no começo era como se fosse uma cidade do interior. Agora é uma ‘grande metrópole’. O número de núcleos, de histórias, de atores é muito maior. A parte técnica também é infinitamente melhor”, compara. “Mas acho que não devemos desprezar as produções antigas. Com toda a simplicidade, às vezes os temas eram bons e emocionantes também.”

Afastada da telinha desde o longínquo 1969, quando viveu Irene na novela Os Estranhos (TV Excelsior), a atriz mineira vê o trabalho à frente da Pró-TV como uma missão. “Acho que senti como uma obrigação de deixar aos que vierem a história dos que se foram. Não podemos deixar morrer toda a saga, toda a luta que foi a implantação da televisão no Brasil”, defende Vida. Desde que foi fundada, em 1995, a entidade luta pela criação do Museu da TV Brasileira em São Paulo, cidade onde foi inaugurada a primeira emissora do país. O museu foi oficialmente inaugurado em 28 de maio de 2008, pelo então prefeito da cidade, Gilberto Kassab, mas até hoje não tem sede própria. “Apesar de já termos solicitado desde 1995, ainda não obtivemos do poder público a sede. A maior dificuldade, acredito, é a pouca importância que o brasileiro dá à memória, à cultura, ao passado. Esperemos. Um dia a coisa acontece”, torce Vida.

Atualmente, a Pró-TV é situada na própria casa de Vida Alves, onde é aberta para visitas agendadas. Entre as maiores conquistas da entidade, estão a instauração em calendário oficial do “Dia Nacional da TV”, comemorado em 18 de setembro, e a Exposição 60 Anos da Telenovela Brasileira, realizada em parceria com a Rede Globo. A mostra itinerante, que desde o início do ano tem passado por diversas capitais e cidades do país, reúne um acervo de mais de 200 itens, entre fotos, vídeos, objetos de cena e figurinos de personagens, que representam de alguma maneira a história da telenovela no Brasil. Esteve recentemente no Paraná e agora se encontra em Porto Alegre (RS). “A exposição vai até dezembro deste ano, quando termina a parceria com a Globo. Esperamos que seja feita outra parceria na sequência, para outro evento”, adianta a presidente.

Se ela pensa em voltar à telinha? Vida Alves afirma que não. “Deixei as novelas por conta dessa causa. Não foi uma decisão fácil, mas algo que seguramente me fez crescer. E hoje levo avante um trabalho relevante, imprescindível. Estou feliz assim”, completa, segura de seu objetivo.

Para saber sobre o trabalho da Pró-TV, acesse: www.museudatv.com.br .

Por Felipe Brandão.

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