“À Beira do Caminho” é para ver e se emocionar
Anos depois do sucesso de Dois Filhos de Francisco (2005), o cineasta Breno Silveira volta à temática regionalista na história simples e comovente de À Beira do Caminho. Direção equilibrada, forte carga dramática e boas atuações são apenas alguns dos ingredientes certeiros da história do caminhoneiro João (João Miguel) e do menino Duda (Vinícius Nascimento), que viaja do Nordeste até São Paulo em busca do pai que nunca conheceu.
A primeira parte passa uma impressão equivocada do longa. Muito centrada na relação entre os dois personagens principais, é previsível, arrastada e bastante clichê. Fugindo de um passado que aos poucos se desenha diante do espectador, João encontra Duda viajando escondido em seu caminhão e, sem outra opção, decide aturar o garoto até ter a chance de deixá-lo com as autoridades da cidade mais próxima – mas acaba, claro, conquistado pelo adorável intruso. A semelhança com o antológico Central do Brasil (1998) nesse primeiro momento é inevitável, e só faz acentuar o deja vu.
O roteiro toma fôlego narrativo e emotivo a partir da aparição de Rosa (Dira Paes), antigo caso de amor de João e peça importante do trágico drama familiar que ele jamais superou. As emoções até então discretas começam a aflorar no encontro desses três personagens principais, e a partir daí envolvem o público entre revelações e reviravoltas que dificilmente lhe permitirão conter as lágrimas.
João Miguel faz uma performance digna de seu sólido currículo no cinema brasileiro, sem nenhuma repreensão. O mesmo vale para a sempre competente e expressiva Dira Paes. Agora, quem realmente rouba a cena no filme é o pequeno estreante Vinícius Nascimento. Com apenas 10 anos, o garoto cativa com a desenvoltura e simpatia diante das câmeras, e não faz feio mesmo nas sequências mais dramáticas de Duda. É digno mencionar ainda a participação da atriz Ludmila Rosa (Helena), que surpreende pela naturalidade peculiar em cena.
À Beira do Caminho é feliz na escolha das locações, na produção cuidadosa e ainda na trilha sonora, que destaca o repertório de Roberto Carlos além de uma bela trilha incidental orquestrada. O desfecho é não apenas bonito e satisfatório, mas realmente ideal – ponto extra para a roteirista Patrícia Andrade (Salve Geral). Não se trata de um dos ápices do cinema brasileiro da última década, mas com certeza um filme que vale à pena ser assistido.
Por Felipe Brandão