Álbum inédito de Marília Pêra chega às lojas

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Depois do single “A cara do espelho”, lançado em janeiro de 2018, o álbum “Por causa de você”, que traz os últimos registros de Marília Pêra no estúdio da Biscoito Fino, já está nas plataformas digitais e lojas físicas. Marília registrou vozes guias em 6 canções: no dia em que começaria a gravar as definitivas sua saúde piorou e ela não voltou mais ao estúdio. São elas: “A cara do espelho”, “Duas Contas”, “Não me deixes mais”, uma versão para “Ne Me Quite Pas e “Lua e Flor”, que Oswaldo Montenegro compôs para a peça “Brincando em cima daquilo”.

Familiares e amigos de Marília Pêra gravaram as outras seis canções que completam o álbum, uma empreitada de amor, como nos conta Sandra Pêra.

Por Sandra Pêra

Quando a falta de saúde traiu minha irmã, quando ela silenciava corajosa seus temores, a Kati apareceu e perguntou: “Marilinha, vamos fazer um disco?”.  Aquela pergunta, acendeu outra vez a chama da paixão pelo trabalho, a possibilidade de ficar de pé e poder cantar, mesmo que ficar de pé lhe trouxesse muita dor.


Kati trouxe José Milton e este chegou a mil, entusiasmado, falante, feliz, respeitoso e já trazendo um Cristóvão Bastos genial, poderoso, com mãos de bruxo. Junto na vida, Paula Leal com ouvido de mestra e o coração de PÊRA, Ricardo Graça Mello, filho escudo e amado e eu, esta irmã pronta pra tudo, começamos a feliz tarefa de fazer o disco, escolher músicas. De cara, a certeza de que Chinelinho Chinfrim estaria no repertório. Única letra composta por ela, logo após o nascimento da Nina, que na época ela achava que nós, Frenéticas, cantaríamos, com melodia de Guilherme Lamounier. Ela me dizia: “Finalmente vamos gravar o Chinelinho!”

Pensamos nas músicas que fizeram parte de alguma maneira da sua vida, da sua carreira, e fomos separando A Cara do Espelho, de Nelson Motta e Guto Graça Mello, de um LP gravado em 1975, A Feiticeira. Liguei para Nelsinho (Motta) e perguntei se ele tinha alguma música interessante para nos mandar. Lua e Flor, que Oswaldo Montenegro compôs especialmente para a peça de grande sucesso protagonizado por ela, Brincando em cima daquilo.A valsa Dona Felicidade, com letra do nosso tio Nestor Tangerine e música de Benedito Lacerda, faz parte da história da nossa família. Pinçamos músicas que ela cantou em tantos shows que fez neste Brasil, como Risque Faz-me rir.

Fabiano Canosa lhe sugeriu Mulher, de Sadi Cabral e Custódio Mesquita. José Milton trouxe a versão de Fausto Nilo para Ne Me Quite PasNão Me Deixes Mais, que tinha sido gravada lindamente pelo Fagner. Ela ficou louca com a possibilidade de gravar Rio Antigo, de Chico Anysio: Marília e Chico eram dois monstros que se amavam, se identificavam muito. E naquele desfile de preciosidades, ela também escolheu Duas Contas e Por Causa de Você

Eram momentos muito agradáveis na casa dela, tirando o tom com Cristóvão. Momentos em que eu via minha irmã saudável, únicos momentos em que ela sorria. Era música na veia. Entramos no estúdio/casa da Biscoito Fino com aqueles músicos feras, Paula filmando tudo, Ricardo sempre atento e engraçado. Enquanto eu massageava sua perna, acreditando que faria a dor sumir, ela colocava a voz guia. Ali, ao lado de uma Marília fragilizada pela doença, chegava aos nossos ouvidos uma voz muito frágil, nada parecida com a voz da exigente Marília Pêra.

Havia 11 músicas e Nelsinho nunca mais deu notícia. Liguei e ele mandou imediatamente três versões: de uma canção italiana, de uma valsa do Lírio Panicalli e outra de As Time Goes By. Ela ficou muito, muito feliz por Nelsinho ter mandado essas versões e escolheu a terceira. Tínhamos 6 vozes guias e no dia em que estava marcada para começar a colocar a voz definitiva, quando ela estava pronta pra sair, sua saúde piorou, não conseguiu mais voltar ao estúdio.

Quando Marília nos deixou, em 5 de dezembro de 2015, recebi da Biscoito Fino os CDs e não pude sequer abrir o envelope. Estávamos convivendo intensamente com a dor que a acompanhava dia e noite, a dor do corpo e a da alma. O que ouvíamos saindo da sua garganta era lindo, mas muito frágil, não achava que pudesse estar bom, principalmente sabendo como era dura e exigente com ela mesma. Guardei aquele embrulhinho e jurei não mexer.


Então, um ano e meio depois, tomamos coragem: Paula Leal, eu, José Milton e Kati nos enfiamos no estúdio para ouvir. Pensei que fosse morrer, eu ouço a saliva dela e para nossa surpresa, ouvimos uma voz afinadíssima. Paula e eu nos acabamos de chorar. Sim, uma voz frágil, mas a voz dela em seus únicos momentos de alegria, nos últimos tempos conosco. Claro que só concordamos em lançar o CD depois de sabermos que ela não estaria exposta de forma alguma, seria uma traição.

Mas eram só 6 vozes guias. Seria um CD com 6 músicas? Mais uma vez, Kati: “A Marília sempre trabalhou com os amigos e a família, ela gostava disso, por que não fazemos o mesmo com as outras 6 faixas?”

E foi assim, dentro daquela abençoada casa da Biscoito Fino, que tentamos terminar o que ela começou, com o as músicas que escolheu e rodeada de gente que a amava profundamente. Amora, minha filha, neste mutirão familiar, ficou encarregada dos arranjos vocais e coro. José Milton, produtor inigualável, com seu coração de anjo, nos conduziu com gentileza e talento nesta empreitada literalmente de AMOR.

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