Amok Teatro apresenta a Trilogia da Guerra
Após a estreia em junho do último espetáculo que compõe a Trilogia da Guerra, a Cia Amokrealiza em agosto curta temporada com as três peças, que serão apresentadas na sequência, sendo uma por semana. As apresentações de “Histórias de família”, “O dragão” e “Kabul”acontecem a partir do dia 1º e vão até o dia 19 de agosto (quarta a domingo), no CCBB Rio.
Maior projeto do grupo desde a sua criação, a trilogia procura discutir no teatro as questões do mundo contemporâneo sob o olhar do outro, trazendo três espetáculos independentes, com diferentes linguagens cênicas.
“Histórias de família” estreou em junho, no festival Cena Brasil Internacional, e foi selecionado para participar de dois dos maiores festivais de teatro do mundo: o de Avignon, na França, e o de Edimburgo, na Escócia.
O espetáculo “O dragão” foi considerado pela crítica especializada como uma das melhores montagens do ano em sua estreia. E “Kabul” recebeu o prêmio APTR pela música, executada ao vivo com instrumentos originais persas e afegãos, por Beto Lemos. As duas primeiras montagens da trilogia já foram apresentadas em 65 cidades, tendo percorrido todas as regiões do país. A partir dos espetáculos, o grupo Amok realizou mais de 170 horas de debates com o mais variado público.
A ideia do projeto da trilogia surgiu em 2006, a partir do ECUM – Encontro Mundial das Artes Cênicas, fórum internacional que reúne artistas, pesquisadores e profissionais em torno de uma reflexão sobre o teatro. Com curadoria de Ana Teixeira, que dirige a Cia ao lado do francês Stephane Brodt, o ECUM trouxe o tema “O teatro em tempos de guerra”, uma proposta de teatro nas zonas de conflito. Após os encontros o Amok iniciou uma extensa pesquisa, que resultou na criação dos três espetáculos.
HISTÓRIAS DE FAMÍLIA
Na última peça do percurso artístico sobre o tema da guerra, o Amok realiza uma montagem do texto da dramaturga sérvia Biljana Srbljanovic, que, pela primeira vez, tem produção encenada no Brasil. No texto, que foi censurado na Sérvia, a autora descreve a confusão na qual seu país mergulhou, sob a liderança de dirigentes cuja ideologia levou toda a região dos Balcãs à barbárie e à destruição. As apresentações acontecem até o dia 5 de agosto.
Nas ruínas da Iugoslávia destruída pela guerra, quatro personagens brincam de família, reproduzindo o comportamento delirante de adultos desorientados. Pouco a pouco revela-se a lógica da guerra, criada e mantida pelo poder político, que se manifesta em todos os níveis da sociedade. Por meio das brincadeiras, são percebidas fraquezas e medos. O jogo termina e logo tudo recomeça. A violência da brincadeira substitui a dos combates e, nesse ritual, à imagem do clima político, a tensão entre todos é extrema.
Segundo Ana Teixeira, que dirige o espetáculo e a companhia, ao lado do francês Stephane Brodt, “Histórias de família” é uma quebra de paradigma na história do Amok. “Pela primeira vez optamos pelo trabalho de um autor contemporâneo. O texto é árido, seco, fala da infância e da violência, mas também tem humor. Queremos levar para o palco reflexões a respeito do mundo globalizado, mostrar como o teatro responde ao novo mundo”, explica.
O espetáculo ultrapassa as circunstâncias históricas e geográficas para apresentar um jogo repleto de humor e crueldade, que nos fala com imensa atualidade. Essas histórias são, ao mesmo tempo, a imagem da situação da ex-Iugoslávia e a de qualquer sociedade.
HISTÓRIAS DE FAMÍLIA
FICHA TÉCNICA
Cia: Amok Teatro
Texto: Biljana Srbljanovic
Direção e adaptação: Ana Teixeira e Stephane Brodt
Elenco: Bruce Araujo, Christiane Góis, Rosana Barros e Stephane Brodt
Iluminação: Renato Machado
Cenário: Ana Teixeira
Figurinos e objetos de cena: Stephane Brodt
Costureira: Dora Pinheiro
Cenotécnico: Manoel Puoci
Operador de luz: Rodrigo Maciel
Projeto gráfico: Paulo Barbosa Lima
Produção: Erick Ferraz
O DRAGÃO
Peça que deu início à trilogia, em 2008, “O dragão” aborda um tema delicado e de grande evidência mundial: o conflito entre israelenses e palestinos. O texto foi construído a partir de documentários, depoimentos, artigos, conferências da israelense Nurit Peled Elhanan e de textos do poeta palestino Mahmoud Darwich. As apresentações acontecem entre os dias 8 e 12 de agosto.
Através do olhar de quatro personagens – dois palestinos e dois israelenses – de suas trágicas histórias e de suas humanidades expostas, o espetáculo aborda a intimidade da dor infligida pela guerra. “Quisemos quebrar a visão distanciada da mídia e da análise dos especialistas, para fazer surgir personagens. Interrogar a realidade por meio do que eles veem e sentem, fazendo ouvir as vozes que pouco escutamos”, explica a diretora Ana Teixeira.
O que é colocado em jogo são testemunhos de destinos confiscados pelo horror. A ideia foi revelar o interior das pessoas nessa experiência comum da dor, onde as diferenças não as separam, mas, simplesmente, as distingue e religa. O que está em foco é o homem diante da violência de sua época, independentemente de sua cultura. “O dragão” é uma peça sobre o diálogo e a paz, sobre a possibilidade de encontrar atrás da violência uma real humanidade.
O DRAGÃO
FICHA TÉCNICA
Direção: Ana Teixeira
Montagem do texto: Ana Teixeira e Stephane Brodt
Elenco: Fabianna de Mello e Souza (Wafa e Nurit), Stephane Brodt (Saïd e Shimom), Rosana Barros (uma palestina), Bruce Araujo (um palestino) e Christiane Góis (uma palestina e Yael)
Música: Beto lemos (tocando: Alaúde, Darbuka e Violoncelo).
Assistente de direção: Kely Brito
Iluminação: Renato Machado
Figurino: Stephane Brodt
Cenário: Ana Teixeira
Operação de luz: Rodrigo Maciel
Cenotécnico: Equipe Hélice
Professora de árabe: Samaher Omran Muhmed
Professora de hebraico: Miriam Weitzman
KABUL
Com estreia nos palcos em 2010, “Kabul” é uma criação que partiu de duas fontes: o livro “As andorinhas de Cabul”, do escritor argelino Yasmina Kadra, e uma imagem real de uma mulher, coberta com uma burca azul, sendo executada publicamente no estádio de Cabul (em novembro de 1999). A imagem, feita a partir de um celular, correu o mundo e revelou um fato tão cruel quanto distante. As apresentações acontecem de 15 a 19 de agosto.
O espetáculo propõe ultrapassar a indiferença da imagem que desaparece no instante seguinte da notícia. Quem poderia ser aquela mulher por debaixo daquela burca? Qual o seu rosto? Qual a sua história?
A história de “Kabul” poderia ser a trajetória daquela ou de toda a mulher que consegue gerar a vida e a esperança nas condições mais áridas da existência. A Cia Amok Teatro propõe uma criação onde a guerra é vista pela intimidade de quatro personagens que refletem o martírio de uma nação traumatizada por décadas de conflitos e entregue à tirania dos fundamentalistas.
KABUL
FICHA TÉCNICA
Direção, texto e concepção: Ana Teixeira e Stephane Brodt.
Elenco: Fabianna de Mello e Souza (Maryam), Stephane Brodt (Tariq, o carcereiro), Rosana Barros (Zunaira) e Bruce Araujo (Madji)
Música: Beto Lemos (tocando: Santur, Tombak, Saz Kumbuz, Daf e Kemantché).
Iluminação: Renato Machado
Figurino e objetos de cena: Stephane Brodt
Cenário: Ana Teixeira
Operação de luz: Rodrigo Maciel
Postado por Lívia Bueno