Depois de lançar o primeiro disco, a Orquestra Voadora conta ao Cult Magazine sobre o novo trabalho

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Cinco anos atrás, um grupo de amigos que tocavam juntos em blocos de carnaval no Rio de Janeiro resolveram se unir e fazer música durante todo o ano! A partir de então, surge a Orquestra Voadora, uma brass band carioca que ficou conhecida por inovar clássicos da música popular brasileira e mundial, misturando os mais variados estilos musicais com instrumentos de sopro e percussão mantendo, é claro, a essência do carnaval. A banda que é formada por Daniel Paiva, Sérgio Genovencio, Tiago Rodrigues e Vicente Quintela (Trompetes); Carlos Molina, Juliano B. Pires, Leonardo Campos e Márcio Sobrosa (Trombones); André Ramos (Sax Barítono); Tim Malik (Tuba); André Fioroti, Hugo Prazeres, Lula Mattos, Marcelo Azevedo e Pedro Araújo (Percussão), lança “Ferro Velho”, primeiro álbum da carreira.

Em 2008, vocês decidiram formar a banda após vários anos tocando juntos em blocos de carnaval. Mas e antes disso, algum de vocês já havia se conhecido em outro lugar?
Sim, alguns já se conheciam antes dos encontros nos blocos de rua. Eu, André Fioroti e Hugo Prazeres já éramos amigos desde 2001. Acho que o André Ramos e o Daniel Paiva também já se conheciam.

No carnaval deste ano, mais de 80 mil pessoas acompanharam o desfile da banda no Aterro do Flamengo. Como foi isso pra vocês? Já esperavam um público dessa proporção?
Foi tenso! (risos) A gente já esperava essa massa toda, considerando a progressão dos anos anteriores. Mas a tensão ficou por conta da necessidade de fazer um belo desfile para todos os presentes, desde o cara que fica grudado na corda de isolamento até o que vai lá atrás, na rebarba do bloco. A gente teve pouco patrocínio, então tivemos que nos virar pra alugar carro de som, contratar seguranças, garantir hidratação para os músicos. Tudo isso gera despesas e muito, muito trabalho. Mas acredito que os foliões que acompanharam o desfile desse ano ficaram satisfeitos com o resultado.

Embora a Orquestra já tenha 5 anos de carreira, “Ferro Velho” é o primeiro disco de vocês. Quando vocês começaram a dar início à produção do disco?
Começamos a pensar no disco há bastante tempo, mas foi um processo longo, principalmente porque encontramos um desafio em passar a emoção e a energia do nosso show à mídia do CD. Acabamos precisando de bastante experimentação com a sonoridade das gravações, a mixagem e a produção para conseguir o resultado que esperávamos, a fim de levar nosso público para um lugar que lembrasse a experiência do nosso show ao vivo, e ao mesmo tempo aproveitando a oportunidade de introduzir mais elementos criativos que a gravação em estúdio proporciona.

Como surgiu a ideia da criação de um álbum que remete ao universo contemporâneo?
Na verdade não foi uma ideia pré-concebida, a gente queria ter um registro físico do nosso trabalho, coisa que os amigos e alguns DJs já vinham pedindo também. Quando percebemos, o conceito estava na nossa frente: músicas que criamos espontaneamente remetendo muito ao cotidiano (basta sacar os nomes – “Ferro Velho”, “Pra Viagem” e “Tá na Hora”), incluindo músicas que, mesmo sendo antigas gravações, mantêm um frescor por serem realmente muito expressivas e estarem nos iPods e playlists da galera jovem, como “Expensive Shit”, do Fela Kuti, e outras que ganharam versões turbinadas por feras como, a Nação Zumbi, que regravou “Todos Estão Surdos” do Roberto Carlos, por exemplo. Fizemos à nossa maneira, aquela coisa bem de rua mesmo, que é a nossa essência e origem. Aliás, a arte na rua está tendo novamente uma repercussão, mesmo sem apoio dos órgãos governamentais. Muita gente gosta e quer ver mais artistas de rua, e temos percebido que dá resultado. Prova disso são as ocupações culturais que coletivos como o Etnohaus, Rádio Rua, Grupo Off Sina e Anjos do Picadeiro vêm promovendo pela cidade. Os próprios ensaios da Orquestra no MAM, com seus pic-nics pelo gramado já nos mostravam isso. Virou um “evento” da cidade.

E quanto à criação das músicas, de uma maneira geral; letra, melodia, ritmo… Como são esses processos criativos?
As composições próprias foram surgindo bem no meio do processo de gravação. Não estávamos parados só gravando o disco, a gente tava na pista fazendo nossos shows, ensaiando semanalmente, nossa rotina normal de banda. Um dia o Tim Malik chegou com partituras no ensaio e mostrou o arranjo que ele tinha criado. Era “Ferro Velho”. Todo mundo pirou com a música, e acho que isso o induziu naturalmente a experimentar outras ideias, e vieram na sequência “Pra Viagem”, “Tá na Hora” e o André Ramos fez “Elefante”, não necessariamente nessa ordem (risos). No caso de “Ferro Velho”, acho meio estranho dizer que tem uma letra. Tem um refrãozinho de 4 palavras. A Orquestra não tem cantor, somos uma banda instrumental, então na hora de cantar todo mundo chega perto do microfone e solta o gogó. Já as melodias e o ritmo vieram dos processos criativos do André e do Tim, que no estúdio fomos aprimorando com ideias do resto da banda. Mas é aquela coisa de tocar e sentir se vai dar caldo. Temos outras composições já escritas, mas decidimos guardá-las para o segundo disco. Até porque quando as retomarmos, teremos novas ideias que poderemos acrescentar a elas.

Nos “voos” da Orquestra sempre há uma relação bem estreita entre a banda e o público. Como vocês enxergam e lidam com essa proximidade?
Somos uma banda de rua, nunca desejamos negar essa essência, então, quando pintaram os primeiros convites para shows (os primeiros foram no Teatro Odisséia em 2009) nós pensamos em como manter essa característica de proximidade. Foi aí que decidimos que sempre haveria, nos shows com palco italiano, o momento de descer pro chão e ir tocar junto do público. Já faz parte do nosso show e as pessoas aguardam por esse momento. Quem nunca viu, pira. E todo mundo se mistura junto.

Além de tocarem músicas próprias, vocês também fazem cover de artistas já consagrados na música nacional e internacional. Já pensaram em fazer algum tipo de parceria com um músico ou banda específico (a)?
Já rolaram várias parcerias especiais em alguns dos nossos shows! Já tocamos com Otto e Bebel Gilberto juntos, Pedro Luis e a Parede, Carlos Malta, Aurea Martins… Mas a primeira vale a pena comentar, foi com a atriz e poetisa Elisa Lucinda, que temos como nossa “madrinha”. A própria ideia de formarmos uma banda ganhou corpo muito por conta do convite do filho dela, que é amigo do Tiago Rodrigues, para juntar um bloquinho de carnaval e tocar no aniversário da Elisa, que é em fevereiro. Estávamos ensaiando para tocar no “Cordão do Boi Tolo” em 2008, metade da banda nem se conhecia direito, e o Tiago disse que a gente faria um cortejo saindo da Lagoa Rodrigo de Freitas (na altura do Humaitá) em direção à Rua Sacopã, onde ela mora. Foi uma festa inesquecível pra nós, marcou muito a todos aquela reunião, o clima. Aí resolvemos que continuaríamos a ensaiar, fazendo um som nesse formato de fanfarra, incluindo no repertório músicas fora do universo carnavalesco, e pra tocar o ano todo. Em julho de 2009 convidamos a Elisa para cantar na nossa estréia no Circo Voador. E ela já tinha dividido o palco conosco e a Aurea Martins um pouco antes, todos juntos, num evento da Casa Rosa. Inesquecível!

Ainda no início deste ano, haviam algumas notícias sobre o suposto lançamento de um DVD. Qual a veracidade desta afirmação? (risos)
Rapaz, as notícias correm, hein?! (risos) A gente tem muito material em vídeo, temos dois caras da sétima arte dentro da banda, o Daniel Paiva e o Juliano Pires, que sempre estão cuidando desses registros audiovisuais. Dá pra imaginar a quantidade de horas de desfile de carnaval que temos, né? Mas o fato é que tentamos aprovar um projeto para garantirmos a verba para o desfile desse ano via Edital de Cultura / Lei de Incentivo e o DVD estava nesse projeto. Como não vingou, ficou em stand-by, pelo menos até definirmos se sairá mesmo nesse formato de filme dos nossos carnavais. Pra não deixar a galera esperando muito, temos a intenção de lançar um pequeno documentário sobre essa parte do nosso trabalho, que é a formação do bloco de carnaval da Orquestra Voadora, com depoimentos de integrantes do bloco, amigos, curiosos, e foliões em geral.

Na última sexta, dia 3, vocês fizeram a primeira apresentação de lançamento do novo álbum no Rio de Janeiro. O show atingiu a expectativa de vocês? O que acharam do retorno do público?
Aqui no Rio o público já se acostumou com os ensaios de domingo no MAM, que só voltam a acontecer no segundo semestre. Saudoso disso, chegamos com força nessa e, com certeza, nas próximas apresentações na cidade. Até porque o show da banda é totalmente diferente da performance do bloco de carnaval, o próprio repertório é diferente. Especialmente nessa turnê de lançamento do disco.

E o que os fãs podem esperar para os próximos em São Paulo e Belo Horizonte?
Continuamos trabalhando forte para mostrar um show novo, novas músicas, cenário, figurino, projeções cuidadosamente selecionadas para fazer desse lançamento uma experiência sensorial completa, catártica e extasiante pra quem quiser voar junto com a gente!

 

Por Jessica Coccoli

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