“Balacobaco”, da Record, é puro novelão

Desde Prova de Amor (2005) não se via uma tentativa tão clara e tão eficaz da Record em copiar a Globo. Balacobaco se sobressai por misturar diversas tendências e elementos que deram certo na emissora carioca sem perder de todo a originalidade – um “mais do mesmo” temperado a agilidade e diversão, o que muitas vezes dá mais certo do que propostas diferentes e ousadas.

A premissa da trama de Gisele Joras é a mais tradicional possível. Norberto, o vilão bem interpretado por Bruno Ferrari, é sócio do filho de sua madrasta, Eduardo (Victor Pecoraro), na agência de turismo Aventura Radical. Ele sente uma inveja absurda do irmão de criação, por razões que vão pouco além de este namorar Fabiana (Alice Assef), ex do outro. Tido pela família como um rapaz pacato, apenas um pouco problemático, Noberto tem uma vida dupla, superfaturando os trabalhos da agência e gerenciando um cassino clandestino. Não é difícil relacionar esse contexto às vilanias de Leo (Gabriel Braga Nunes) em Insensato Coração e à relação doentia que este tinha com o irmão de sangue, Pedro (Eriberto Leão).

A heroína da história é Isabel (Juliana Silveira), jovem madura e independente, e ao mesmo tempo romântica. Grávida do marido Danilo (Roger Gobeth), Isabel recém-descobriu que ele é viciado em jogo, ao flagrá-lo justamente no cassino de Norberto. Num futuro próximo, ela assumirá a criação da sobrinha, Taís (Letícia Medina), depois que os pais dela, Teresa (Juliana Baroni) e Nestor (Victor Fasano), morrerem em um acidente em alto mar. Não apenas isso, será a tia a encarregada de revelar a Taís que ela não é filha do falecido Nestor, e que seu pai biológico está vivo em algum lugar. Esse homem resultará ser Eduardo, com quem a própria Isabel terá um envolvimento amoroso, gerando mais uma disputa entre ele e Norberto. Ufa!

Outros aspectos de Balacobaco também remetem à história recente da dramaturgia global. As gêmeas bivitelinas Diva (Bárbara Borges) e Dóris (Roberta Gualda), vilãs cômicas do folhetim, são moradoras do bairro do Catete, que reúne a maioria dos personagens populares ao melhor estilo Glória Perez – ou ao Divino de Avenida Brasil. A exemplo da família de Tufão (Murilo Benício), Balacobaco também seu núcleo “novo-rico brega”, encabeçado pelo milionário senil Aragão (Umberto Magnani) e sua esposa, a perua interesseira Marlene (Antônia Fontenelle, espetacularmente à vontade em cena). A estética kitsch nos cenários e em alguns figurinos, além do quase monopólio de sertanejo e forró universitário na trilha sonora, por sua vez faz lembrar Cheias de Charme.

É interessante observar, porém, que essa aparente ausência de novidades em nada em nada prejudica a qualidade do trabalho. Ao contrário: Gisele Joras casa todas essas tendências de forma tão inteligente e talentosa que faz disso talvez o ponto forte de sua trama. Também não há que desprezar o lado criativo da autora. Feelings impagáveis, como as mensagens ao estilo “biscoito da sorte” dentro dos pastéis de Osório (André Mattos), que causam rebuliço na rotina de personagens como Breno (Leo Rosa) e Patrick (Thierry Figueira), e figuras peculiares como a histérica Violeta (Simone Spoladore), o estudante de cinema canastrão Zé Maria (Sílvio Guindane) e o garçom metido a intelectual Vinagre (Leandro Leo) garantem um diferencial e conferem uma graça a mais ao roteiro.

Balacobaco peca por algumas falhas na direção de Edson Spinello, o que compromete minimamente o resultado final. O elenco está no geral afinado, com destaque para Roberta Gualda, Sílvio Guindane, Mariah Rocha (Luíza), Nill Marcondes (Darley) e Solange Couto (Cremilda). Thaís Pacholek (Mirela) e Victor Pecoraro estão mais naturais que de costume, mas nota-se que ainda tem muito a amadurecer. Juliana Silveira parece um pouco desencontrada na pele de Isabel; há cenas em que se sobressai, outras em que está apagada. Pode melhorar. Agora, o grande desperdício é ver o talentoso Umberto Magnani em um papel que, de tão espalhafatoso e caricato, chega a soar desrespeitoso para com a classe que representa.

Balacobaco tem todos os ingredientes para agradar aos fãs de novelas brasileiras e dar um alento ao horário nobre da Record, cujos índices de audiência afundaram com Máscaras. Com poucas novidades, mas feliz dentro do que se propõe, vale à pena conferi-la.

 

Por Felipe Brandão

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