Barão Vermelho, em nova fase, é ovacionado no Circo Voador
FINALMENTE, o Barão Vermelho está de volta!!! Em um momento em que cada vez mais o rock se afasta do mainstream e fica subjugado aos submundos do underground, sem espaço NENHUM nos grandes meios de comunicação, a veterana banda entra em ação para provar que mesmo com todo o “mais que relevante” repertório e uma base de 36 anos de carreira, pode fazer a diferença nesse momento tão difícil para o estilo.
Roberto Frejat, grande guitarrista e o responsável por assumir os vocais com louvor após a saída do lendário Cazuza (foram parceiros de composições memoráveis), há muito tempo dava sinais que uma definitiva volta do Barão não o interessava. Estabilizado em uma bem estruturada carreira solo, de total liberdade criativa, só se reuniu com seus colegas de banda em razão de datas comemorativas. A última foi em 2012, com o aniversário de 30 anos do álbum de estréia.
Os outros componentes mantinham suas carreiras com projetos dos mais diversos e, infelizmente, no ano passado, tivemos o falecimento do grande Peninha, percussionista genial, que desde o primeiro álbum da banda já colocou o “molho” necessário que caracterizou o som pesado e vigoroso, mas cheio de suingue do Barão Vermelho. Nesse momento tão difícil, as conversas para um retorno definitivo, que também serviriam para homenagear o amigo que partiu, se fizeram mais presentes. Frejat declinou da ideia…
E, coincidentemente, o último ensejo de visibilidade para a nova geração de bandas que se desenhou na grande mídia, foi o já “finado” programa “Superstar”, da Rede Globo, onde a banda Suricato ficou em segundo lugar, em sua primeira edição de 2014. O grupo teve uma boa notoriedade, o suficiente para que Rodrigo Suricato fosse escolhido como O CARA a assumir o posto que já foi ocupado anteriormente por Cazuza e Frejat.
Rodrigo, como fã assumido da banda, sentiu a pressão logo de cara dos fãs mais radicais pelas redes sociais, que gostariam sim de ver o Barão de volta, mas com Frejat nos vocais! Uma lenda do rock brazuza, pela lógica, não teria nada a provar para ninguém, mas volta a ativa com olhares “desconfiados”. Os fãs pagaram pra ver, já que o primeiro show dessa nova fase foi na primeira “casa” da banda, o mítico Circo Voador, com ingressos esgotados.
Além do guitarrista Fernando Magalhães e do baixista Rodrigo Santos, que vinham trabalhando juntos há bastante tempo (inclusive lançaram um álbum em dupla, recentemente), temos os membros fundadores Guto Goffi (baterista) e Maurício Barros (que estava tocando seus influentes teclados na carreira solo de Frejat) para completar o time “matador” desta instituição roqueira que é o Barão Vermelho!
Sábado já considerado histórico para esse retorno (06), com a lona voadora ansiosa para vislumbrar a nova fase do Barão. Abertura luxuosa do grande DJ Marcelinho da Lua, proporcionando incríveis mixagens de rock e mpb, esquentando a pista de dança para o que iria vir…
E os caras vieram com “muita fome”, era notória a vontade de estarem juntos! Rodrigo Suricato nem precisava ter afirmado gentilmente “que iria sangrar no palco por cada um que estava ali contribuindo para a nova e importante fase da banda”. O jogo já estava ganho com a abertura matadora, encabeçada por uma sequência de tirar o fôlego: “Pedra, flor e espinho”, “Pense e Dance”, “Ponto Fraco”, “Carne de Pescoço” e “Beth Balanço”!
Nesse ínterim, Frejat parecia para a audiência não fazer mais falta. Suricato demonstrava carisma, personalidade, voz vigorosa e qualidades de multi-instrumentista: gaita, violões diversos com slide e solos inspiradíssimos de guitarra. O homem foi ovacionado!
A banda procurou colocar mais “punch” nos arranjos, peso era o que não faltava. Tocar pérolas que há muito tempo não eram executadas ao vivo, como “Dignidade”, “Quem me olha só”, “Enquanto ela não chegar”, e “Menina mimada”, foram um belo acerto.
Outra sacada genial, foi ter aberto os vocais principais para outros integrantes, já que eles cantavam em suas respectivas carreiras solo: Maurício Barros no blues “Não amo ninguém” e Rodrigo Santos no rockão “Cuidado”, arrasaram lindamente!
A homenagem a Peninha não poderia faltar. A base pré gravada de sua percussão em “Puro Êxtase”, projeções em “Meus bons amigos”, e na sublime “O poeta está vivo”, onde Guto Goffi estendeu a honraria para outras figuras fundamentais na história da banda: Cazuza e o produtor Ezequiel Neves!
A banda sempre homenageou Cazuza em seu repertório de shows, e a tradição se manteve. Dessa vez, foi com uma versão pesadíssima e meio lisérgica de “O tempo não pára”, e ineditamente o petardo sempre atual “Brasil”, onde as projeções com a abertura da novela “Vale Tudo”, trouxeram um ar de saborosa nostalgia.
Gritos de “Fora Temer” ecoaram imediatamente, e depois, em sucessão a uma das frases mais fortes do clássico “Declare Guerra”: “QUEM TE GOVERNA NÃO PRESTA”! O público deveras heterogêneo, se esbaldava e suava a camisa, fazendo o Circo virar um “caldeirão”, num maravilhoso encontro de gerações. Também, com os caras lá em cima esbanjando raça e empolgação, não poderia ser diferente.
A banda demonstrava muito carinho e gratidão por Rodrigo Suricato, com abraços e beijos a todo momento, e a recíproca dele era verdadeira, por ter oportunidade tão ímpar em sua carreira. Na verdade, ficou muito claro que os veteranos do rock nacional estavam inseguros com a resposta que teriam da galera. Quando perceberam que foi além das expectativas, foi só alegria e emoção!
Sim, precisamos e MUITO do Barão Vermelho! Não apenas pela história, passado e repertório. Mas, principalmente, pelo que vimos no palco da lona voadora nesse retorno. Show antológico, memorável, principalmente, em se tratando de uma nova fase e com novo integrante! Que venha LOGO o disco de inéditas, porque a química incendiária já foi instaurada…
SET LIST:
- Pedra, Flor e Espinho
- Pense e Dance
- Ponto Fraco
- Carne de Pescoço
- Bete Balanço
- Dignidade
- Billy Negão
- Eu queria ter uma bomba
- Down em Mim
- Enquanto Ela Não Chegar
- Meus Amigos Bons
- Quem me olha só
- Não amo ninguém
- Tão Longe de Tudo
- Por você
- Por que a gente é assim?
- Cuidado
- Menina Mimada
- Declare Guerra
- Brasil
- Puro Êxtase
- Maior Abandonado
- Encore:
- O Poeta Está Vivo
- O tempo não para
- Pro dia nascer feliz
Texto: Alessandro Iglesias
Foto: Página Oficial do Circo Voador, Danielle Lindenmeyer e Lívia Ribeiro