Barão Vermelho faz show apoteótico na Fundição
Em se tratando do BARÃO VERMELHO, ainda temos dois adendos: há exatos sete anos o grupo encerrou atividades, não se apresentando mais ao vivo desde então (com seus integrantes envolvidos em trabalhos solo diversos). E nesse tempo, mesmo sem nenhum lançamento inédito, o nome da banda nunca esteve tão em evidência na mídia. A forte figura de CAZUZA (primeiro vocalista) e o excepcional repertório disponibilizado em discos, sempre evidenciaram o BARÃO como um dos melhores do Brasil, mas essa popularidade nunca se manifestou numericamente em termos de vendagem dos seus álbuns (o que sempre se consistiu num grande mistério). Talvez porque sempre foram mais considerados “banda de palco” do que de estúdio, pela extrema competência apresentadas nos shows e seus fãs acabarem preferindo mais ver a banda ao vivo do que comprar seus discos. Lembrando que o último álbum de inéditas da banda é de 2004, quando a política de fáceis downloads ainda não era tão agressiva no Brasil. Isso fez com que os fãs mais antigos sentissem muita falta das inesquecíveis e enérgicas apresentações do grupo carioca e os mais novos sonharem com a possibilidade de um dia presenciar um espetáculo do BARÃO VERMELHO. E são MUITOS, como podemos perceber nas páginas dedicadas a banda em redes sociais, o filme sobre o CAZUZA (de grande bilheteria), as músicas invadindo a rádio para suprirem essa ausência, especias diversos na TV (como o ótimo “Por toda a minha vida”), regravações diversas por outros artistas… Vários fatores que contribuíram para que com extrema justiça, o valor deles fosse reconhecido pelas novas gerações.
E isso ficou latente na noite de sábado na Fundição Progresso. O Barões não deixaram “nenhuma pedra que rola limo criar musgos” (num trocadinho com a frase que deu origem ao nome dos ROLLING STONES, principal influência da banda carioca) e foi um show de muito, mas MUITO suor e lágrimas! A sauna instaurada pela calefação da casa mostrou que a Fundição ainda esta muito despreparada para eventos com grande público (ingressos esgotados nesse show!), fora os problemas já habituais de som e luz.
Mas de qualquer forma, a temperatura iria ferver do mesmo jeito. Tirando pérolas lado B do primeiro e comemorativo disco, só identificada pelos fãs de carteirinha (“Ponto Fraco”, “Billy Negão” e “Bilhetinho Azul”), com mais algumas outras do segundo (“Menina Mimada” e “Carne de Pescoço”), o show foi cantado, berrado, bradado, INTEIRAMENTE e em UNÍSSONO!!! Basta lerem o imenso set list disponibilizado abaixo (30 canções) e verão quantas bandas no Brasil tem o privilégio de terem um repertório roqueiro, mas tão identificado em respaldo popular como o do BARÃO VERMELHO.
Não fugiu do bolo, o lado intérprete da banda, nas eternas e merecidas homenagens a CAZUZA (“O Tempo não Para” e “Codinome Beija-Flor”), RAUL SEIXAS (“Tente outra Vez”), LEGIÃO URBANA (“Quando o Sol Bater na Janela do seu Quarto”), BEZERRA DA SILVA (“Malandragem dá um Tempo”) e ROBERTO CARLOS (“Pode vir Quente que eu estou Fervendo”), todas expressas numa interpretação tão deveras personalíssima, que até parecem pertencer ao repertório original da banda.
O comentário de FREJAT antes de tocar músicas dos anos 90, que muitos dos que estavam ali possivelmente estavam nascendo naquela década, deixou bem claro o processo de renovação que o público do grupo sofreu.
“Sorte e Azar” foi uma música perdida e que foi encontrada pela banda no processo de remixagem e remasterização do primeiro agora comemorativo álbum nos arquivos da gravadora Som Livre. Como disse FREJAT, mais uma bela letra de CAZUZA que não podia passar incólume aos ouvidos do grande público. E foi apresentada pela primeira vez, se consistindo na única novidade do show, juntamente com a participação do baixista da primeira formação, DÉ PALMEIRA.
Era nítida a empolgação dos já “cinquentões” integrantes do BARÃO, com a receptividade do público, realmente era impressionante a energia absurda que vinha da audiência. E FERNANDO MAGALHÃES (guitarra), GUTO GOFFI (bateria), MAURICIO BARROS (piano e teclados), PENINHA (percussão) e claro, ROBERTO FREJAT (guitarra e voz) foram irretocáveis em suas performances! O bis pedido pela galera com o refrão de “Pro dia nascer Feliz” sendo gritado aos pulmões, com certeza ficou entre os (mais um) grandes momentos da história do grupo.
“Assim vocês matam o véio”, exclamou com euforia o vocalista, encharcado de suor, como todos que estavam presentes. O final com uma improvisada e raivosa “Satisfaction” dos ídolos ROLLING STONES, fechou com chave de ouro um dos melhores shows já acontecidos na HISTÓRIA da cidade do Rio de Janeiro, não estou falando apenas desse ano.
Desde os LOS HERMANOS não se via a Fundição Progresso tão absurdamente lotada. Mas que diferença BRUTAL de um show para outro, com todo respeito aos fãs dos barbudos. Ontem o BARÃO VERMELHO vestiu fácil a faixa de melhor banda do Brasil, o público determinou isso e deixou claro. E será que eles não vão querer voltar mesmo à ativa depois desse acontecimento??? No mínimo irão refletir a respeito, porque a garotada presente no show de ontem, deixou claro que estão havidos por rock’n’roll de qualidade. Precisamos e muito do BARÃO VERMELHO entre nós, fazendo shows como o de ontem e com novas canções. Quem estava lá, teve essa certeza absoluta…
SET LIST:
1. POR QUE A GENTE É ASSIM
2. PONTO FRACO
3. PENSE E DANCE
4. CUIDADO
5. MENINA MIMADA
6. BILLY NEGÃO
7. CARNE DE PESCOÇO
8. MEUS BONS AMIGOS
9. POLÍTICA VOZ
10. TÃO LONGE DE TUDO
11. POR VOCÊ
12. O POETA ESTÁ VIVO
13. BILHETINHO AZUL
14. TODO AMOR QUE OUVER NESSA VIDA
15. SORTE E AZAR (música nova)
16.PEDRA, FLOR E ESPINHO
17. PODE VIR QUENTE QUE EU ESTOU FERVENDO
18. BETE BALANÇO
19. A CHAVE DA PORTA DA FRENTE
20. PURO ÊXTASE
21. QUANDO SOL BATER NA JANELA DO SEU QUARTO
22. MALANDRAGEM DÁ UM TEMPO
23. DECLARE GUERRA
24. MAIOR ABANDONADO
1º BIS
25. DOWN EM MIM
26. O TEMPO NÃO PARA
27. TENTE OUTRA VEZ
2º BIS
28. PRO DIA NASCER FELIZ
29.CODINOME BEIJA-FLOR
30. (I CAN’T GET NO ) SATISFACTION
Texto: Alessandro Iglesias
Foto: UOL