Brilhantismo de BUIKA e BOBBY WOMACK, salvam noite com atraso lamentável

bobbywomack

Depois de uma chuva torrencial que castigou a cidade do Rio de Janeiro durante todo o dia, um belíssimo arco-íris despontava aos céus e dentro da imponente Cidade das Artes, a impressão que tínhamos é de um significativo sinal que o último dia seria ainda mais especial do que os outros. Em parte, infelizmente…

Quando MAÍRA FREITAS começava os seus trabalhos no palco ESTROMBO, ficamos sabendo que a irmã MART’ NÁLIA, iria atrasar sua apresentação de 19:00 para as 20:00, na GRANDE SALA. E que em virtude do vento e das chuvas, BOBBY WOMACK pediu para se apresentar no mesmo local após o show de BUIKA. Bem, em virtude dos horários da programação do dia, onde os shows foram todos adiantados em virtude de ser um domingo, imaginei que o palco RIO ficaria “as moscas” e o tributo a JAMES BROWN seria sacrificado com essa mudança. Só não imaginaria o quanto…

MAÍRA aproveitou MUITO BEM a oportunidade, principalmente ao saber que não teria limite de tempo e “mandou ver”, dizendo lindamente a que veio. Consegue aliar sua bela técnica adquirida com o piano clássico a diversos outros estilos, seja em clássicos da MPB (como “Disritmia”, do pai MARTINHO DA VILA, “Recado” de GONZAGUINHA, entre outros), repertório próprio (o divertidíssimo samba “Corselet”) e algumas gratas surpresas, como quando atacou de NINA SIMONE brilhantemente. Mas nada superou as suas versões com sotaque soul altamente particulares de “Beat It” (MICHAEL JACKSON) e “O show tem que continuar” (ARLINDO CRUZ), com o piano elevando-as a cores épicas.

Arrisco até a dizer que a última, na minha modesta opinião, ficou ainda melhor do que a original, por ter acentuado mais a bela letra. Foi uma grata surpresa, nos depararmos com tanto carisma, voz e esmero com seu repertório. Mais um nome que fatalmente veio para ficar, mostrando que o “clã” dos MARTINHO, ainda tem muita lenha para queimar…

Em compensação, o show em tributo a VINÍCIUS DE MORAES na GRANDE SALA com MART’ NÁLIA, que estaria para começar as 20:00, só as 20:30 o público teve o acesso liberado e mesmo assim, encontrou o palco ainda COMEÇANDO A SER ARMADO… E nenhuma explicação foi dada ao público justificar tamanho atraso e ainda nessas condições.

Percebendo que o povo estava ficando impaciente, a própria adentra o palco e como uma espécie de “mestre de cerimônias”, começa a comandar a passagem de som contando piadas, apresentando os músicos e dizendo “na real” para a plateia que estava enrolando mesmo. E isso sem entendermos muita coisa, pois só estávamos ouvindo o som do PA, demoraram uma eternidade para liberar o som até a plateia, que solicitava isso com pedidos incessantes.

Pois bem, por volta de 21:10, e com tudo muito a “meia boca”, o show começa oficialmente. A sensação é que estava todo mundo insatisfeito, porque nada funcionou. MART’ NÁLIA tentou de todas as formas que o povo interagisse, improvisou bastante em virtude dos erros seguidos e a impressão que ficou, é que o grande poetinha VINÍCIUS DE MORAES merecia uma homenagem a sua altura e não aquele achincalhe apresentado… Reza o ditado popular que “a pressa é inimiga da perfeição”. A boa vontade da cantora e dos músicos foi notória mediante a adversidade, mas o resultado final foi um FRACASSO.

Enquanto isso, nada acontecia nos outros palcos, com apenas o DJ TAMEMPI fazendo rolar um sonzinho ambiente e todos concentrados na GRANDE SALA. Mas quando BUIKA adentrou ao palco, qualquer tipo de insatisfação se foi… VISCERAL é o termo adequado para descrever a apresentação da cantora espanhola. A exemplo das nossas MAYSA e DOLORES DURAN, descobrimos uma nova “rainha da fossa”. Entre crises de choro e goladas seguidas de uísque, destilou o seu flamenco de assento soul, com interpretações memoráveis! Simplesmente SENSACIONAL, estávamos a frente de uma verdadeira diva, independente de sucesso comercial ou por ter uma indicação ao GRAMMY no seu curriculum.

É como se cada frase emitida fosse sentida naquele momento como a mais pura das verdades, tamanho a entrega e o “sofrimento” transmitido. Acompanhada apenas de um brilhante pianista e percussionista, brincou dizendo que preferia se comunicar com o público cantando do que tentando falar português… Ninguém duvidou! Apesar da dramaticidade do repertório, brincadeiras e maneirismos diversos com a voz seguidos, nos remeteu as grandes vozes do jazz de todos os tempos. Independente de ser cantora, deparamos com uma artista PLENA e COMPLETA nos palcos, tamanha presença cênica. Infelizmente não pode voltar para os seguidos pedidos de bis em virtude do absurdo atraso, mas sua missão foi mais do que cumprida. Um dos grandes shows de 2013, não há mais palavras para adjetivar tanto brilhantismo…

Já eram 23:30 e dando uma volta pelas dependências do evento, já percebíamos que grande parte do público já tinha partido… E continuava o DJ melancolicamente tocando seu “lounge” para ninguém. Uma imagem triste, de como adversidade e desorganização podem ACABAR com um evento.

Em termos, por que quando o grande “soulman” americano BOBBY WOMACK, adentrou ao palco, com apenas metade da capacidade da GRANDE SALA preenchida, tivemos mais um momento antológico! Acompanhado de uma bela “big band”, brindou os poucos que estavam ali com um showzaçooooooo, com excepcional domínio de palco e voz melhor do que nunca, apesar da idade. Convocou todos ali a levantarem as mãos, sentirem o astral, dançarem e celebrarem, o que foi prontamente atendido.

Com ED MOTTA se esbaldando na plateia e com número cada vez mais reduzido de pessoas em virtude do horário, vocês já imaginam como foi o tributo a JAMES BROWN com o próprio, PEE WEE ELLIS, BANDA BLACK RIO, ARTHUR MAIA e NEGRA LEE… Uma pena, pois esse encontro de feras tinha tudo para ser um dos melhores da história do festival. Mas tivemos outros MUITOS, como já é de característica primordial do festival Back2Black, com QUALIDADE sendo a palavra chave, SEMPRE. Infelizmente esse atraso fugiu a regra da trajetória do evento. Mas já aguardamos ansiosamente pelo próximo, pois é o evento musical brasileiro que mais nos proporciona belas surpresas.

Por Alessandro Iglesias

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