CAPITAL INICIAL se consolida como a maior banda do Brasil, em noite brilhante na Barra da Tijuca
Se você leitor, acha exagerado o título deste review, vamos lá então… Tivemos dois momentos na história da Música Popular Brasileira, em que o rock foi o gênero mais consumido pelas massas: a JOVEM GUARDA (que os detratores afirmam que não houve consistência e atitude em sua totalidade, por ser “romântica” demais), na segunda metade dos anos 60, e o BRock, na década de 80.
Quem é bemmmm mais jovem, procure visualizar um mundo sem Internet, onde a TV e o rádio eram os principais meios de comunicação de massa. E SIM, durante a maior parte dos anos 80, foram as BANDAS DE ROCK que fizeram parte da programação popular do dial, estavam nos principais temas dos comerciais e telenovelas, eram presença constante no maior montante de shows pelo país e em atrações de auditório televisivas de grande audiência.
Titãs, Paralamas, Barão Vermelho, Blitz, Lulu Santos, entre outros, foram alguns dos nomes mais importantes, e na segunda metade da década, uma tríade de Brasília: a Plebe Rude, e duas bandas co-irmãs, a Legião Urbana e o Capital Inicial! Ambas vieram da mesma “célula”, formada por integrantes do seminal grupo Aborto Elétrico. Tanto que o “debut” de suas estreias, vem com repertório dividido dessa época. Os dois “bardos” se estabeleceram com força total inicialmente, mas com o tempo o Capital foi perdendo gás, e a Legião tendo como porta voz o excepcional poeta Renato Russo, foi um sucesso sem precedentes, se consolidando como a banda mais importante, com uma “religião” de fãs impactante! Conseguiram atravessar os anos 90 com louvor, até o falecimento do Renato em 1996.
O Capital não conseguiu manter a qualidade dos dois primeiros discos e caiu no ostracismo. Até porque nessa década, o pagode e o axé já tinham “ceifado” o protagonismo da década anterior pertencente ao rock. Mas eis que houve uma sobrevida, que beneficiou artistas dos mais diversos gêneros, ao final dessa mesma década: os ACÚSTICOS MTV.
E nem o fã mais otimista poderia prever que o show do Capital Inicial, foi um dos mais bem sucedidos, com grande vendagem e várias canções (entre repaginadas e inéditas), sendo digeridas vorazmente por uma nova geração. Ao se apresentarem na noite mais “bombada” (250.000 pessoas era a capacidade da antiga Cidade do Rock) do Rock in Rio de 2001, com seu show ACÚSTICO, e para muitos foram a melhor atração da noite (o headliner era o Red Hot Chilli Peppers), os brasilienses se firmavam como a principal banda do gênero no país nesse novo milênio! E simplesmente, esse título se mantém ainda com mais intensidade até os dias de hoje…
É muito simples, NENHUM desses grupos pertencentes a Geração Dourada Roqueira dos anos 80 se estabeleceu e renovou seu público como o Capital Inicial. O show desse sábado (02/12), é apenas um pequeno exemplo desse “fenômeno”. Os fãs de “cabeça branca” se faziam presentes em grande número, mas num quantitativo MENOR do que a grande quantidade de jovenzinhos que lotou o KM DE VANTAGENS HALL (sim, o eterno METROPOLITAN novamente com outro nome) na Barra da Tijuca.
Percebemos como o repertório pós ACÚSTICO MTV foi bem digerido pelas novas gerações. E o mais emocionante é ver pérolas oitentistas como “Música Urbana”, “Fátima”, “Veraneio Vascaína” (aquelas do Aborto Elétrico), “Fogo”, “Independência”, e os covers de “Que país é esse”, “Tempo perdido” (da “irmã” Legião Urbana) e “Primeiros Erros” (Kiko Zambianchi), criando comoção nesse público!
Dinho Ouro Preto é a materialização perfeita desse processo ocorrido com a banda. Em nenhum momento vemos um cinquentão no palco, sua vitalidade e forma física saltam aos olhos! O carisma se intensificou ainda mais nos muitos anos de estrada, o público reage com imediatismo a qualquer sinal, chamado ou discurso seu… Sim, é o nosso maior frontman tupiniquim!
A banda parecia estar “nas nuvens” com a belíssima acolhida, mas como disse Dinho no início dos trabalhos, foram dois anos de turnê do ACÚSTICO 2, e o Rio de Janeiro foi escolhido para essa nova empreitada “elétrica”.
O único “senão” é que mais de um terço do repertório foi composto por baladas, e muitos petardos como “Cristo Redentor” (uma das músicas mais pesadas do grupo) e a já citada “Independência”, tem uma roupagem mais “cadenciada”, sem tanto “punch”. Parece que o espírito “desplugado” estava “incruado” ainda no DNA do grupo, mas nada que comprometesse o belo resultado final. A maior parte do concerto teve como base o álbum “Rosas e Vinho Tinto”, o mais bem sucedido dessa “nova fase”. Grande show!!!
Em um momento que o rock é consumido apenas por 3% dos brasileiros, segundo as pesquisas mais recentes, e depois de tudo que foi descrito acima, alguém ainda discorda que o Capital Inicial É A MAIOR BANDA DO BRASIL???
Texto de Alessandro Iglesias
Fotos de Livia S. Ribeiro
SET-LIST:
1 – O bem, o mal, o indiferente
2 – Independência
3 – 4 Vezes você
4 – Depois da meia-noite
5 – Mais
6 – Todas as noites
7 – O mundo
8 – Como devia estar
9 – Tudo que vai
10 – Algum dia
11 – Olhos vermelhos
12 – A sua maneira
13 – Melhor do que ontem
14 – Não olhe para trás
15 – Que país é esse
16 – Cristo Redentor
17 – Fátima
18 – Veraneio Vascaína
19 – Mulher de fases
20 – Música Urbana
21 – Natasha
BIS:
22 – Fogo
23 – Primeiros erros