Companhia Teatro Inominável estreia seu novo trabalho, “E a Nave Vai,” dia 26/05, no Youtube
As grandes paixões têm o poder de provocar o descontrole, de tirar o sujeito de seu próprio comando. O filósofo Spinoza chama de servidão essa impotência humana para regular e refrear os afetos. Nesse estado de apaixonamento, quem já não se viu tomando atitudes inusitadas ou mesmo nada saudáveis? Até que ponto é possível domar um afeto e tomar a melhor decisão para si mesmo? São esses questionamentos que acompanham “E a Nave vai”, primeira realização audiovisual do Teatro Inominável, que faz uma curta temporada, de 26 a 29 de maio de 2021, às 19h, no canal do YouTube do grupo (https://youtube.com/TeatroInominável). Com dramaturgia e direção de Diogo Liberano, o filme apresenta o apaixonamento entre Mocinho e Gatão, que se conhecem e querem estar juntos, mas não pelos mesmos motivos. O projeto tem patrocínio do Governo Federal, Governo do Estado do Rio de Janeiro e Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Aldir Blanc.
A primeira encenação teatral de “E a Nave vai” estreou em 2019, na Itália, e foi apresentada em diversas cidades italianas e em Buenos Aires, Argentina. No Brasil, o projeto seria fazer uma temporada presencial em teatros cariocas este ano, mas devido a impossibilidade imposta pela pandemia, o Teatro Inominável optou por compor uma versão audiovisual centrada no problema que se estabelece entre Mocinho e Gatão diante de um encontro marcado por pulsões divergentes. O ator Márcio Machado interpreta Gatão, um homem de quarenta e poucos anos com medo do passado, enquanto Gunnar Borges interpreta Mocinho, um homem com trinta e poucos anos com medo do futuro. Entre eles, porém, há um terceiro personagem interpretado por Andrêas Gato: a Nave, um automóvel com espaço interior para apenas duas pessoas e que, muitas vezes, parece enxergar aquilo que os outros dois não percebem.
A trama de “E a Nave vai” foi inspirada numa história vivida pelo dramaturgo e diretor Diogo Liberano, porém, remodelada poeticamente visando abrir aos espectadores indagações sobre como podemos – ou não – lidar com afetos tão fortes como, por exemplo, aqueles provocados por um apaixonamento. Para a dramaturgista do projeto, Thaís Barros, “foi importante ultrapassarmos o teor biográfico da história para focar no que acontecia entre os personagens. Como dramaturgista, busquei trazer contrapontos para aquilo que os atores e o diretor traziam para o processo criativo.” Nesta nova criação, também o primeiro trabalho audiovisual do Inominável, o desejo é o de apresentar um problema para que, a partir dele, cada espectador(a) possa fazer suas próprias conexões e indagar aquilo que lhe parecer importante. “Queremos que as pessoas se identifiquem, que pensem nas maneiras como os seres humanos se relacionam uns com os outros, e como nos machucamos. A gente confia na sensibilidade do espectador para completar uma história que intencionalmente não se mostra em sua completude”, comenta o diretor.
Todos os ensaios foram realizados pelo Zoom e a equipe só se encontrou durante os três dias de filmagem. “Era importante que a gente conseguisse transmitir todas aquelas emoções pelo Zoom, que a cena acontecesse mesmo que as possibilidades de criações do corpo estivessem limitadas”, lembra o ator Gunnar Borges. “Quando a gente se encontrou ao vivo para filmar foi um desafio, já que a gente ainda não havia contracenado presencialmente, mas já tínhamos estabelecido uma troca bem intensa de afetos nesse período. Então, foi também bastante prazeroso”, acrescenta Márcio Machado. Para o Andrêas Gatto, o mais interessante em interpretar a Nave foi “saber que, durante a ação, eu e o cenário nos confundíamos: eu, a poltrona, o vidro, o retrovisor e a jaqueta éramos a mesma coisa. Foi preciso falar, gesticular, agir, mas também dar espaço para que todos os outros elementos fizessem o mesmo”.
O maior desafio do trabalho foi a criação de uma linguagem nova, que mescla teatro e cinema e que resultou de uma parceria entre diretor, atores e os outros integrantes da equipe criativa, formada por Thaís Barros (dramaturgismo), Felipe Quintelas (direção de fotografia), Fabio de Souza e Luiz Wachelke (direção de arte e figurino), Renato Garcia (som direto), Phil Baptiste e Elisio Freitas (trilha sonora original) e Pedro Capello (edição e finalização). “O mais importante para a gente foi pensar em como a linguagem audiovisual recebe a poeticidade do jogo teatral, e não apenas mostrar, de maneira realista ou literal, aquilo que é contado. Apesar de ser um diretor de teatro, o pensamento e o estudo sobre cinema, sempre fizeram parte da minha trajetória e das minhas pesquisas. Então, agora tive oportunidade de explorar caminhos que já tinha vontade e construir um filme que apresenta outra intensidade no trabalho de atuação e um tempo diferente do teatro”, analisa Liberano.
“E a Nave vai” surgiu, originalmente, como uma dramaturgia criada por Diogo Liberano durante o projeto internacional BeyondtheSUD (BETSUD), voltado à criação de dramaturgos e diretores teatrais com idade inferior a 35 anos e que, no Brasil, contou com parceria do Complexo Duplo, Complexo Sul e Festival Cena Brasil Internacional. O filme criado a partir dessa dramaturgia fará quatro exibições no YouTube do Teatro Inominável, de quarta-feira a sábado, de 26 a 29 de maio de 2021. No sábado, dia 29 de maio, após a exibição, haverá um bate-papo dos integrantes do Inominável com um psicanalista convidado.
Sobre o Teatro Inominável
Companhia teatral criada em 2008 na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, atualmente, composta por Andrêas Gatto, Clarissa Menezes, Diogo Liberano, Gunnar Borges, Laura Nielsen, Márcio Machado, Natássia Vello e Thaís Barros. Em seu histórico, além de três edições da Mostra Hífen (2012, 2014 e 2016), destacam-se espetáculos e performances como “Sinfonia Sonho” (2011) e “O Narrador” (2014), indicados aos prêmios Shell, Cesgranrio e Questão de Crítica no Rio de Janeiro.
Em 2019, comemorando 10 anos, o Inominável estreou “dentro” e “YELLOW BASTARD”, peças que ocuparam o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB – Rio de Janeiro), tendo “YELLOW…” recebido patrocínio através do Programa de Patrocínios do Banco do Brasil. Na ocasião, em parceria com a Editora Cobogó, a companhia fez a publicação de dramaturgias de seu repertório escritas por Diogo Liberano: “Sinfonia Sonho” (2011) e “YELLOW BASTARD” (2019).
Com suas criações, realizou inúmeras temporadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, além de se apresentar em festivais e mostras nacionais como Festival de Teatro de Curitiba (Curitiba/PR), Tempo Festival (Rio de Janeiro/RJ), Mostra Rumos Cultural – Itaú Cultural (São Paulo/SP), Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (São José do Rio Preto/SP), Festival Palco Giratório (Porto Alegre/RS), Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente (Presidente Prudente/SP), Festival Estudantil de Teatro – FETO (Belo Horizonte/MG), Mostra BH in Solos (Belo Horizonte/MG) etc.; e internacionais, como a Volumen. Escena editada em Buenos Aires, na Argentina.