DAVID BYRNE em apresentação genial, mostra o maior espetáculo do milênio no Rio de Janeiro

Um dos artistas mais influentes e versáteis em sua eterna contemporaneidade, David Byrne, o líder dos Talking Heads, banda que definiu a new wave num caráter mais experimental (Worldbeat para ser mais preciso), dominando a música pop entre os anos de 1974 e 1981, resolveu bater expediente depois de longa data na América do Sul, passando pelas edições do Loolapalooza e se estendendo a datas individuais, como o da última quarta-feira (28) no Rio de Janeiro, no KM de Vantagens Hall.

O escocês que vive desde sempre em Nova York, adotou a bicicleta como meio de transporte desde a década de 80, muito antes da moda tomar as grandes capitais. Escreveu um livro sobre essa experiência, “Diários de bicicleta” (2011). Mais “cool”, impossível!

Domina muito pouco a língua portuguesa, mas seu escritório tem o nome de Todomundo. É colecionador e frequentador ávido de sebos. Inclusive, num deles que descobriu um antigo LP de Tom Zé (“Estudando o samba”, de 1976), resolveu lançá-lo por seu selo, Luaka Bop, e tirou o baiano do ostracismo em que se encontrava no final dos anos 80, reinventando a sua carreira. Sua relação com a música brasileira se tornou incisiva desde então, produzindo vários álbuns de artistas nacionais, como Caetano Veloso, Margareth Menezes, Olodum, Marisa Monte, Tiê, Forró in the Dark.

Participou de performances em teatro e dança; compôs ópera com o produtor, Norman Cook, o DJ Fatboy Slim; dirigiu vários filmes e ganhou até um Oscar, (dividido com Ryuichi Sakamoto e Cong Su) em 1988, pela trilha do grande “O último imperador”, de Bernardo Bertolucci. Já foi vencedor também de vários prêmios Grammy.

E sua carreira-solo também não deixou barato, com destaque para as várias parcerias com o lendário Brian Eno, e trabalhos sempre seminais em sua relevância, como o último após 14 anos, “America Utopia”! Aos 65 anos poderia cair na tentação de apenas recriar o seu passado ou então, o que também é vulgar, tentar replicar os que entretanto o evocam como uma referência primordial. Nada disso! O disco tem enchido os olhos de público e crítica, emulando um novo passo em sua carreira…

Mas como já tinha mostrado nos outros shows dessa recente turnê, é uma apresentação de “cair o queixo”, muito além de “apenas” um show musical. O cenário é uma caixa reduzida, delimitada por cortinas metálicas brilhosas e inicialmente causa estranhamento… Cadeira, mesa e um cérebro cenográfico em cima. Eis que Byrne entra recitando os primeiros versos de “Here”, senta, pega o adereço em questão e ninguém pisca, pois a cena deveras teatral, é impactante.

“Aqui é uma região de detalhes abundantes”, “aqui está uma região que raramente é usada”, “aqui está uma área de grande confusão”, enquanto mostra partes do órgão, já em pé, na beirada do palco, sem piscar, numa troca intensa com a platéia.

Entraram, então, os dois backing vocals bailarinos enquanto a melodia ia ganhando força. “Aqui estão muitos sons para o seu cérebro compreender/ Aqui o som é organizado em coisas que façam algum sentido”, brincou Byrne, já no final da música. Saíram a mesa, a cadeira e o cérebro e surgem os componentes da trupe.

Os integrantes vão entrando aos poucos, e temos mais uma grande surpresa. Não, não são os ternos cinzas elegantérrimos que todos exibem, e contrastam com os pés descalços. É que não temos uma bateria, mas 6 percussionistas com instrumentos dos mais diversos (a maior parte chama a atenção pelo exotismo) , fracionando o poderoso molho percussivo da apresentação. Se quisermos não chamar de show está valendo, porque na verdade é uma grande experiência visual e sensorial acima de tudo!!!

Nada é estático, ou os músicos juntamente com Byrne estão coreografados, ou preenchendo espaço (a troca de instrumentos também era constante), fazendo com que a apresentação se consista numa grande performance acima de tudo. Lembram das cortinas brilhosas? Pois é, os efeitos de luz compactuados nelas são incríveis!  “Acho que vocês já perceberam que esse é um show diferente, né?”, citou David logo no início dos trabalhos…

Na profusão sonora se mantinham impávidos os elementos explorados por Byrne nas últimas quatro décadas (como citou Luccas Oliveira do jornal O GLOBO): o pulso dançante do new wave nova-iorquino, a rebeldia punk, as sequências eletrônicas disruptivas, as melodias pop luminosas, o groove, os elementos de música tribal africana. E das 21 músicas apresentadas, 8 foram dos Talking Heads: “I Zimbra”, “Slippery People”, “This must be the place” (Naive Melody), “Born under punches (The heat goes on), “Blind”, “The great curve” e a super aclamada “Burning down the house”.

As canções restantes eram grande parte de “American Utopia”, e soaram maravilhosamente no formato do inusitado concerto, com destaque para o som obscuro de berimbaus, em “I dance like this”, um dos singles do álbum. Como novidades no set, “Lazy”, pérola eletrônica, parceria com o duo britânico X-PRESS 2, “I should whatch TV”, composição feita com a maravilhosa ST VINCENT, e vale destacar dois imponentes covers: “Toe jam”, do BRIGHTON PORT AUTHORITY, e a encore com “Hell you talmbout”, líbelo político de JANELLE MONÁE: “Diga o nome dele(a)”, bradava em português, enquanto pessoas assassinadas por forças policiais, motivação política ou mero preconceito, eram citadas pelos demais músicos (3 brasileiros compõem a banda), como o pedreiro Amarildo de Souza, a jovem trans Bruna Tavares e a vereadora Marielle Franco. SUBLIME!!!

David Byrne dando uma aula de como aos 65 anos consegue soar tão ou mais influente do que já foi em toda a sua carreira. INESQUECÍVEL, IMPACTANTE, GENIAL, são os adjetivos singelos que podemos descrever mediante a noite histórica de ontem! Pena que a casa tinha uma lotação moderada para um espetáculo como este, mas é aquilo: quem VIU, como esse que vos escreve (e ainda na noite do seu aniversário), agradece pela grande permissão concedida! E rememorando o refrão de um clássico da banda DEEP PURPLE: BYRNEEEEEEEEEEEEEEEEE!!!!

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