Ellie Goulding volta ao topo com identidade própria em “Delirium”, seu novo álbum
A cantora britânica Ellie Goulding lançou no último dia 6 de novembro o seu mais novo disco, “Delirium”, o quarto da carreira. Dona do hit “Burn”, que (com o perdão do trocadilho) incendiou o mundo todo nos últimos dois anos, a loirinha voltou com um álbum cheio de figuras pop e batidas que povoam as rádios na atualidade. Abusando da sensualidade na capa, estilo que vem sendo comum entre as jovens do gênero, produtores de peso ajudaram a finalizá-lo, como Max Martin, Shellback e Greg Kurstin. Mas ao contrário dos trabalhos que dominam a cena musical, Ellie tem como trunfo na carreira a sua voz, que carrega um timbre peculiar e a difere de qualquer outra cantora. E o CD, que conta com 16 faixas na venda física e 22 na Deluxe, pelas plataformas digitais, explicita bem isso.
O trabalho, gravado no lendário estúdio Abbey Road, em Londres, tenta lançar definitivamente a inglesinha entre os principais nomes da cena. Sempre digo que o pop britânico é superior ao americano por diversas razões. Uma delas está presente em “Delirium”: A qualidade vocal dos intérpretes. Apesar de carregar sintetizadores e toda a mixagem em volta às batidas eletrônicas de um álbum do gênero, o CD não consegue pasteurizar a voz de Ellie. Se as letras não são tão inspiradas como muitas das canções que vem da Terra da Rainha, tradicionalmente famosa por letristas marcantes, consegue se comunicar com seu público e principalmente mercado. O trabalho começa com uma introdução instrumental com cerca de um minuto, que dá vida a Aftertaste, que mantém a melodia. A obra é peculiar, como vem sendo a carreira de Goulding.
“Something in the Way You Move” e “Keep on Dancin” dão sequência às batidas eletrônicas e a voz/marca da cantora. Dançantes e bastante animadas, conseguem dar vida à abertura do disco. Não chegam a ser hits, mas não fazem feio. Em seguida vem “On My Mind”, single lançado em setembro e que vem fazendo sucesso nas rádios. A música mistura batidas de hip hop com versos rimados de uma Ellie, que ganhou os sites de fofoca por supostamente ser uma resposta à “Don’t”, de Ed Sheeran, que fez grande sucesso no ano passado e foi escrita sobre uma suposta traição da loira. Verdade ou não, a música é melhor como polêmica, já que no CD há coisas bem superiores.
É o caso de “Around U”, que lembra muito o espírito de “Burn” e tem uma levada jovial, bem ao estilo que o pop gosta. Letra cheia de expressões que já ouvimos outras vezes, mas assim como “Codes” e “Holding On For Life”, conseguem conquistar pela produção e mixagem bastante interessante. Novamente, o timbre da britânica é uma grande vantagem nessas faixas, porque ganha ainda mais vida com um recurso largamente usado. A faixa que segue é o mais famoso single do disco, “Love Me Like You Do”, que apareceu originalmente na trilha sonora do filme “50 Tons De Cinza”, sucesso dos cinemas neste ano. Bem trabalhada, arranjada e principalmente gravada, é cheia de passagens de explosão e calma. O sucesso já consagrou a canção.
“Don’t Need Nobody”, “Don’t Panic”, “We Can’t Move To This” dão continuidade da mistura eletrônica, pop e vocal que sacode bastante o formato do álbum, até chegar na quase balada “Army”, onde mais uma vez a voz da Goulding dita o ritmo. “Lost and Found” é uma canção mais genérica, só que bem próxima também do que o mercado americano gosta. E é onde ela mais se assemelha às demais artistas do gênero. Mas “Devotion”, que encerra o CD físico, traz de volta a Ellie ao seu lugar e com dedilhados de violão com beatbox, faz a passagem para as “Scream it Out” e “I Do What I Love”, agora já na versão Deluxe do trabalho.
À essa altura, “Paradise” e “Winner” já não soam tão fortes como outras faixas, mas mantém o nível em letras e melodia. Só que “Heal” e “Outside” fecham o álbum muito bem, mostrando que apesar de algumas semelhanças com trabalhos da cena pop que fazem sucesso, Ellie Goulding consegue imprimir uma cara própria e principalmente num movimento britânico que está sempre em renovação.
Classificação: Bom
OUÇA “DELIRIUM”