Em sua oitava edição, festival internacional de artes cênicas ocupa o CCBB Rio até 16 de junho
Com espetáculos de teatro e dança, performances, oficinas e palestras, a oitava edição do Cena Brasil Internacional acontece desde 5 a 16 de junho, no CCBB Rio de Janeiro. Do Brasil, o festival apresenta seis obras, vindas de São Paulo e Recife, além de quatro internacionais, da Argentina, Estados Unidos e França, totalizando 27 apresentações com preços populares (R$ 30 e R$ 15), que traçam um expressivo panorama das artes cênicas contemporânea. O Cena Brasil é uma idealização do CCBB em parceria com o produtor Sérgio Saboya, que assina a curadoria junto com o jornalista, diretor e dramaturgo Luiz Felipe Reis. O Banco do Brasil é o patrocinador do Cena Brasil Internacional.
Desde a sua primeira edição, o Cena funciona como um modelo híbrido, que conjuga residência artística e uma mostra seleta de espetáculos. A cada ano, as obras selecionadas são o reflexo de visões muito diversas sobre as possibilidades da cena, mas que trazem algo em comum: um olhar livre, desimpedido e oxigenado sobre as artes cênicas.
Segundo Luiz Felipe Reis, os espetáculos apresentados este ano têm, comumente, a capacidade de ampliar a nossa percepção sobre as possibilidades do fazer teatral. “São obras que se apresentam em cena através de formatos por vezes inclassificáveis, que exercitam vínculos e rupturas entre formas de teatro, dança, performance, instalação, intervenção e outras linguagens”, conta. “São contundentes em seus conteúdos e ousados em sua forma, que jogam luz em temas fundamentais e urgentes por meio de abordagens e estratégias estéticas incomuns e surpreendentes”, completa.
O Cena Brasil Internacional apresenta ainda workshops, palestras e residências gratuitas, além de uma área externa de convivência comfood trucks, um ponto de encontro entre artistas e público antes e depois da ampla programação cultural. A programação se estende também à Escola de Cinema Darcy Ribeiro, que recebe o espetáculo paulista “Quando quebra queima”. As atrações nacionais e internacionais contam com traduções de legendas eletrônicas em inglês e português.
A PROGRAMAÇÃO DE 2019
Internacionais
O coreógrafo americano Shamel Pitts estreia no Cena Brasil Internacional com dois espetáculos que fazem parte da trilogia Black Series. Em “Black hole – Trilogy and triathlon” (Buraco negro – Trilogia e triatlon), inédito no Brasil, Pitts divide a cena com a bailarina goiana Mirelle Martins para apresentar uma experiência de arte performática caleidoscópica que utiliza movimento, luz e artes visuais. O público é levado numa jornada hipnótica e cheia de cores na qual quatro artistas negros — Mirelle (Brasil), Tushrik Fredericks (África do Sul), Ricardo Januario (Brasil) e Shamel (Estados Unidos) — se unem para criar uma trindade de vigor, afro-futurismo e acolhimento.
Já em “Black velvet – Architectures and archetypes” (Veludo negro – Arquiteturas e arquétipos), inédito no Rio, Pitts e Mirelle misturam dança, performance e projeções para refletir sobre as diversas cores da negritude.
Com estreia mundial no Cena Brasil, o espetáculo francês “Rester vivant” (Permanecer vivo), de Yves-Noël Genod, é uma obra cujo processo criativo iniciou-se na Europa com três performers (o português Ricardo Paz, o francês Baptiste Ménard e a brasileiraIsabela Fernandes Santana), que será finalizada numa residência ao longo do festival. A eles se juntarão outros performers, profissionais ou não, que vão participar de um workshop para formar um coro na montagem do espetáculo. “Rester vivant” investiga a condição do artista diante dos dilemas do nosso tempo. Livremente inspirada no ensaio homônimo de Michel Houellebecq – uma série de cartas a um jovem poeta que o autor aconselha a não se suicidar –, a obra trata da dificuldade de se permanecer vivo, criativo e ativo e, ao mesmo tempo, da inevitabilidade de continuar resistindo.
Nova criação da bailarina, coreógrafa e diretora argentina Mayra Bonard, “Mi fiesta” (Minha festa), solo inédito do Brasil, investiga os limites e os atravessamentos entre as esferas do público e do privado. Em cena, Mayra se move em reação a um texto escrito pelo também argentino Pedro Mairal (“A Uruguaia”), que recria episódios afetivos, amorosos e violentos, vividos por uma mulher. Equilibrando-se sobre taças de vidro, assim como atando e desatando seu corpo, ela constrói, aos poucos, um espetáculo de superação.
Nacionais
Entre os espetáculos nacionais, “Isto é um negro?”, do coletivo paulista EQuemÉGosta?, faz uma alusão ao título da obra “É isto um homem?”, do escritor italiano Primo Levi. Com direção de Tarina Quelho, que assina a dramaturgia ao lado de Mirella Façanha, a montagem apresenta uma sequência de cenas que alternam seu foco no texto, na expressão verbal e na performance física de quatro jovens artistas: Ivy Souza, Lucas Wickhaus, Raoni Garcia e a própria Mirella. Além de articular as experiências de vida do elenco, o espetáculo traz reflexões de escritores e de pensadores como Angela Davis, Fred Moten, Achille Mbembe, Bell Hooks, Grada Kilomba, Frantz Fanon, Sueli Carneiro e Aimé Cesaire.
O deslocamento e o encontro entre artistas e comunidades locais do Rio Xingu são o ponto de partida de “Altamira 2042”, de São Paulo, com direção e performance de Gabriela Carneiro da Cunha. O espetáculo é uma instalação sonora composta por caixas que amplificam testemunhos diversos interlocutores sobre a hidrelétrica de Belo Monte, no Pará: ribeirinhos, indígenas, lideranças de movimentos sociais, moradores da cidade de Altamira, funcionários do Governo Federal e de instituições socioambientais, a mata, os animais da região, o vento, a chuva e até o próprio rio. Uma polifonia de seres, línguas, sonoridades e perspectivas tomam o espaço para abrir a escuta do público para essas vozes.
“Quando quebra queima” é um espetáculo de São Paulo, do coletivA ocupação, com direção de Martha Kiss Perrone com estudantes/performers que participaram do movimento secundarista entre 2015/2016. Na apresentação, 15 artistas deslocam para a cena a experiência vivida durante o período da ocupação em que estiveram juntos. A peça, que está na fronteira entre performance e teatro, é uma “dança-luta” coletiva construída a partir das vivências e memórias de cada performer: diários, textos, músicas, coreografias, e fotos feitas pelos próprios secundaristas compõem a cena.
De Recife, vêm três espetáculos concebidos pela performer e dramaturga Flávia Pinheiro. Inédita no Rio, “Enchente” surge de um estudo transdisciplinar do conto homônimo do também pernambucano Hermilo Borba Filho, uma metáfora para as catástrofes humanas atuais: a indiferença e o fracasso do mundo assim como o conhecemos. A montagem se constrói em base a procedimentos que envolvem restrições e obstruções de movimentos, jogos com regras e materiais de arquivo. As relações entre os corpos de três performers (Marcela Aragão, Rebeca Gondim e a própria Flávia) questionam as hierarquias e ampliam suas possibilidades ao realizarem tarefas de improvisação.
No solo “Como manter-se viva?”, Flávia investiga a urgência de permanecer em movimento como um mecanismo de sobrevivência. Um questionamento de como nos relacionamos com a imaterialidade das relações propostas pelos dispositivos e a certeza da impermanência. A dramaturgia converge para uma estética do precário, de uma lógica invertida, de um saber desde a experiência e da percepção.
Já “Diafragma: dispositivo versão beta” é uma performance manifesto construída em relação aos dispositivos low tech e às tecnologias obsoletas. Em cena, a artista pesquisa o músculo diafragma como parte de um mecanismo motor, utilizando princípios de Gerald Raunig, Michael de Certeau, Vilém Flusser e Gilles Deleuze como eixo que organiza uma grande máquina (o corpo) que atua no tempo de forma nômade em busca de (des)territorializar-se.
LISTA DA ATRAÇÕES
Nacionais
“Altamira 2042”, de Gabriela Carneiro da Cunha – Inédito no Rio;
(SP | 2018 | 90 min. | 16 anos)
“Como manter-se viva”, de Flávia Pinheiro
(PE | 2017 | 50 min. | livre)
“Diafragma: dispositivo versão beta”, de Flávia Pinheiro
(PE | 2015 | 40 min. | 16 anos)
“Enchente”, de Flávia Pinheiro – Inédito no Rio;
(PE |2016 | 50 min. | 16 anos)
“Isto é um negro?”, do grupo EQuemÉGosta? – Inédito no Rio;
(SP | 2018 | 100 min. | 18 anos)
“Quando quebra queima”, do coletivA ocupação – Inédito no Rio.
(SP | 2018 | 90 min. | 10 anos)
Internacionais
“Black hole – Trilogy and triathlon”, de Shamel Pitts – Inédito no Brasil;
(EUA – BRA | 2016 | 61 min. | 14 anos)
“Black velvet – Architectures and archetypes”, de Shamel Pitts – Inédito no Rio;
(EUA – BRA | 2016 | 60 min. | 14 anos)
“Mi fiesta”, com Mayra Bonard – Inédito no Brasil;
(ARG| 2018 | 60 min. | 16 anos)
“Rester vivant”, de Yves-Noël Genod – Inédito no Brasil;
(FRA – BRA| 2019 | 120 min. | 18 anos)
PROGRAMAÇÃO DIÁRIA
5 de junho (quarta)
19h30 “Quando quebra queima” – Escola de Cinema Darcy Ribeiro foyer
20h “Black velvet– Architectures and archetypes” – CCBB Teatro I
6 de junho (quinta)
19h30 “Quando quebra queima” – Escola de Cinema Darcy Ribeiro foyer
20h “Black velvet– Architectures and archetypes” – CCBB Teatro I
7 de junho (sexta)
19h “Enchente” – CCBB Teatro II
19h30 “Quando quebra queima” – Escola de Cinema Darcy Ribeiro foyer
20h “Black velvet – Architectures and archetypes” – CCBB Teatro I
8 de junho (sábado)
15h Palestras “Hackeando as velhas estruturas” (ColetivA Ocupação), “Black box – Little black book of red” (Shamell Pitts) e “Salvem as bactérias! A luta contra os antibióticos” (Flavia Pinheiro) – CCBB Auditório 4º andar
19h “Enchente” – CCBB Teatro II
19h30 “Isto é um negro?” – CCBB Teatro I
9 de junho (domingo)
19h “Como manter-se viva?” – CCBB Teatro III
19h30 “Isto é um negro?” – CCBB Teatro I
10 de junho (segunda)
19h “Como manter-se viva?” – CCBB Teatro III
19h30 “Isto é um negro?” – CCBB Teatro I
20h “Mi fiesta” – CCBB Teatro II
12 de junho (quarta)
19h “Diafragma: Dispositivo versão beta” – CCBB Teatro III
19h30 “Black hole – Trilogy and triathlon”” – CCBB Teatro I
20h “Mi fiesta” – CCBB Teatro II
21h “Diafragma: Dispositivo versão beta” – CCBB Teatro III
13 de junho (quinta)
15h Palestras “Branquitude: artista e a normatização do direito de criar” (Mirella Façanha) e “Corpo específico” (Mayra Bonard e Carlos Casella) – CCBB Auditório 4º andar
19h30 “Black hole – Trilogy and triathlon” – CCBB Teatro I
20h “Mi fiesta” – CCBB Teatro II
14 de junho (sexta)
19h30 “Black hole- Trilogy and triathlon” – CCBB Teatro I
20h “Rester vivant” – CCBB Teatro II
20h30 “Altamira 2042” – CCBB Teatro III
15 de junho (sábado)
20h “Rester Vivant” – CCBB Teatro II
20h30 “Altamira 2042” – CCBB Teatro III
16 de junho (domingo)
15h Palestras “Possibilidades de um devir-documento daquilo que chamamos invisível” (Gabriela Carneiro da Cunha) e “Férias da realidade” (Yves-Noël Genod) – CCBB Auditório 4º andar
20h “Rester Vivant” – CCBB Teatro II
20h30 “Altamira 2042” – CCBB Teatro III