FESTIVÁLIA trouxe grandes momentos em seu encerramento na Rio2C

O segundo dia do Festivália, na Cidade das Artes, encerrando os trabalhos na Rio2C, tinha um belíssimo sol como complemento de um clima que já tinha se tornado deveras agradável, a estrutura do evento proporciona isso. Dentro do previsto, as 15h, o Festival Se Rasgum, do Pará, que prima pelo inusitado, trouxe uma atração à altura: LUCAS ESTRELA + o duo de música eletrônica STROBO.

A azeitada simbiose de música pop, experimentalismo e camadas atmosféricas, deu bonito o seu recado, mas soou um pouco deslocado pelas circunstâncias: MUITO pouca gente havia chegado ao local para assisti-los. Fora que a vibe sonora não é solar, tem uma premisa mais contemplativa. A noite com todos os seus recursos sonoros e visuais, teria dado “mais caldo” na receita do encontro.

Mesma problemática assolou os goianos do CARNE DOCE. Representando o Festival Bananada, que está completando 20 anos de grande sucesso, fizeram uma segura apresentação, onde mostraram profundo amadurecimento no seu indie-rock, mas recebidos também com uma certa frieza. Realmente ficou claro que a audiência comparecida nesse domingo (08/04), foi para prestigiar as atrações seguintes.

Aliás, vale ressaltar que apesar do grande sucesso da Rio2C, o Festivália não teve a mesma resposta do público. Já havia sido aquém no espaço disponibilizado um dia antes, mas conseguiu ainda se superar na baixa frequência, nesse encerramento. Só nos resta lamentar, uma grande pena… Representando o Festival Faro do Rio de Janeiro (uma extensão do programa de rádio), e que há 10 anos nos trouxe agitos memoráveis ao palco do Circo Voador, a maravilhosa TULIPA RUIZ, que sempre faz das suas apresentações um acontecimento único!

Alterando o potente repertório dos seus três discos autorais (dando mais ênfase à “Dancê”, o último), colocou o povo pra cantar e dançar freneticamente, sempre abusando do carisma inigualável, e do singular alcance de sua potência vocal.Mas a coisa ferveu ainda mais com a chamada ao palco do “feminismo tropicalista”, do “As Bahias e a Cozinha Mineira”.  As vocalistas do grupo (Raquel Virgínia, Assucena Assucena) já chegaram gritando que “iria ter traveco sim”, em alusão à transexualidade de ambas. Se conheceram na USP quando ainda eram estudantes universitárias, e tinham o mesmo apelido: “Bahia”!

Tulipa já na apresentação, reforçara que o encontro era sinal de resistência, e que nada iria faze-los se calar. O clima político do dia anterior retornou de forma ferrenha, e a versão de “Vaca Profana” da Gal Costa, só nos fez perceber na canção um hino feminista muito além do seu tempo.Belíssima parceria, e toda a inerente explosão, foi a deixa para o blues cortante “Vibora”, onde Tulipa já sozinha com a banda no palco novamente, prolonga a bela introdução com um discurso tocante sobre respeito, direitos humanos, Lula Livre, a união urgente e necessária da sociedade, etc…

E quando se entregou arduamente como sempre, em sua mais pungente canção, o clima era de profunda emoção. Cantou os duros versos de desilusão amorosa com o rosto no monitor de luz, ajoelhada, explorando efeitos sonoros ao bater com o microfone em seu rosto, boca, enfim, TULIPA SEMPRE MARAVILHOSA!

Já teria válido o dia de encerramento, se quem viesse depois não fosse nada mais nada menos do que o “furacão” Karol Conka, representando o maravilhoso Festival Recifense “No Ar Coquetel Molotov”. Não poderiam ter sido mais representados, porque a curitibana é nitroglicerina pura! Tanto que o formato da apresentação, contrariando o seu rap modernoso perfeito para as pistas de dança, é fiel à maior tradição do HIP-HOP, DJ e ela apenas, nada mais…

E pra que, né? Após a sua entrada, ninguém mais parou de dançar, pular e bradar todos os seus sucessos do início ao fim! Não tem como analisar de forma diferente: KAROL CONKA é a grande força pop do país! E com uma personalidade única, definitivamente muitos degraus a frente de qualquer outro artista colocado dessa forma pela mídia brasileira.

Essa excelente proposta que foi o Festivália, mesmo não tendo a repercussão de público merecida, foi um grande marco em nossa cidade. Aliás, como a Rio2C como um todo. Que venha mais, precisamos! Viva os festivais, e viva a música autoral brasileira, basta estar em um espaço como esse para se dar conta que tem muita coisa boa sendo feita sim, obrigado! Basta procurarmos um pouquinho… Obrigado Festivália pelos momentos inesquecíveis, o Rio de Janeiro agradece!

 

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