FREJAT e TITÃS levam grande público a FUNDIÇÃO PROGRESSO
Frejat e Titãs contam grande parte da história do Rock Nacional toda vez que sobem ao palco. Juntos representam mais de 70 anos de carreira iniciada no início da década de 80. O ex Barão Vermelho trilhou um caminho mais pop e de muitas releituras (nunca foi novidade seu primoroso lado de intérprete), longe do peso de seu grupo de origem. O bardo paulistano teve baixa em metade da sua formação original (só 4 dos 8 membros fundadores estão na banda), ficou um bom tempo com o som “suavizado”, mas retomou a agressividade sonora em 2014 com o álbum “Nheengatu”.
E no imponente espaço da Fundição Progresso, os “senhores” mandaram um “sold-out” em pleno momento de forte crise econômica, com o bolso dos cidadãos mais vazio, como bem frisou Frejat em seu show, ao agradecer o público. E aliás, foi o próprio o encarregado de fazer a abertura dos trabalhos, nesta sexta-feira (20/05). E QUE SHOW!!! Como ele mesmo deixou claro, era apenas para “dançar e relaxar”, mas além disso empolgou e MUITO!
Como citei anteriormente, as releituras fizeram parte da metade do seu repertório. A abertura depois do instrumental irresistível de “A felicidade bate a sua porta”, foi com as maravilhosas “Divino Maravilhoso” e “Você não entende nada” (eternizadas nas vozes de Gal Costa e Caetano Veloso) já deixando claro o esmero dessas versões e o principal: a coesão da banda em sua sonoridade, realmente incrível.
Teve medley em homenagem a Tim Maia (“Não quero dinheiro”, “Réu Confesso”, “Você” e “Não vou ficar”), e aos heróis do rock nacional (Raul Seixas – “Como vovó já dizia”, Roberto e Erasmo – “Quando” e Rita Lee – “Agora só falta você”), composições em parcerias com Cazuza não gravadas com seus vocais (“Malandragem” e “Exagerado”), transformando a audiência em pista de dança, com total clima de festa de arromba!
Mas claro, ovação e histeria total nos sucessos do Barão Vermelho (“Maior Abandonado”, “Beth Balanço” mesclada a la Carlos Santana com “Mania de Você” de Tia Rita, “Por você”, “Puro Êxtase” e a grande encore com “Pro dia nascer feliz”) e nos clássicos de sua carreira solo (“Amor pra recomeçar”, “Segredos”, “Túnel do Tempo”, “Eu preciso te tirar do sério”).
E suas habilidades como grande guitarrista que é, comeram soltas em improvisos diversos. Teve ainda PARABÉNS PRA VOCÊ do público (seu aniversário!) e uma versão de “Só Você” de Vinícius Cantuária, se mostrando muito melhor que a original e a posterior gravação de Fábio Júnior. Não tem mais o que dizer, Frejat faz um dos melhores shows da atualidade, se mostra revigorado e em sua melhor forma! SHOWZAÇO!
Depois de um demoradooooo intervalo com discotecagem mecânica, que até contribuiu para que muitas pessoas fossem embora (tradição da Fundição Progresso em sempre tornar o evento longooooo) os Titãs vieram quebrando tudo! Aquela entrada no “esquema Slipknot”, com máscaras ameaçadoras berrando os versos pungentes de “Fardado”, será sempre impactante! Desde o lançamento de “Nheengatu” a turnê que acompanha a divulgação do petardo é raivosa e pesada, com a banda retomando a veia nervosa e punk de fases como a dos clássicos “Cabeça Dinossauro”, “Jesus não tem dentes no país dos banguelas” e “Titanomaquia”.
Ao contrário de Frejat, o clima não foi de “paz e amor”, mas tom furioso, muito em parte pelas canções caírem como uma luva na situação política atual do país. Foi para lavar a alma, uma catarse! A banda se mostra mais pesada do que nunca, e o resultado soa como um “soco no estômago”. O set não mudou muito do que vem sendo apresentado na turnê desde 2014, com quase todo o “Nheengatu” sendo executado (funciona muito bem ao vivo), em companhia de vários clássicos poderosos como “Bichos Escrotos”, “Sonífera Ilha”, “Televisão”, “Polícia”, “Vossa Excelência”, “Diversão”, entre muitas outras.
Noite memorável para o Rock Nacional. Em tempos pra lá de difíceis, precisávamos mesmo de uma noite como essa para extravasarmos TUDO sem pensar no amanhã. E bonito ver que decadência é uma palavra que inexiste no vocabulário desses monstros sagrados, atravessando a barreira das gerações, como pudemos visualizar na plateia. BRAVO!!!
Por Alessandro Iglesias