GLENN HUGHES faz apresentação estupenda no Teatro Odisséia

GH 2

SOBREVIVENTE! É assim que podemos designar a trajetória de um dos maiores cantores e músicos VIVOS (Sim, ele conseguiu!) do planeta, GLENN HUGHES. Revelado nos anos 70 como baixista da então promissora banda TRAPEZE (inexplicavelmente não chegou ao estrelato, talvez pela concorrência acirrada da década), teve notoriedade mesmo quando foi convidado para assumir o baixo e se revezar nos vocais (em 1973) com o jovem estreante David Coverdale, no “dispensa comentários” seminal DEEP PURPLE. A banda encerrou atividades no final dos anos 70 (retornando a partir de 1984 com a formação anterior), tendo como saldo 3 belíssimos álbuns (“Burn”, “Stormbringer” e “Come Taste the Band”). A influência latente soul do baixo de GLENN foi fundamental para que essa fase da banda seja até hoje lembrada pelo seu diferencial mediante a história do lendário grupo. Fora seu incrível jeito de cantar, cheio de “bluesy” e feeling. Daí começou a ser chamado de “The Voice of Rock” pelos muitos fãs que conquistou ao redor do mundo.

GH 7

Foi à luta! Disco solo, trabalhos com os guitarristas Pat Thrall (a “potente” dupla Hughes/Thrall Band) e o sueco Yngwie Malmsteen, até chegar ao posto de vocalista do BLACK SABBATH em 1984. Em nenhum momento os fãs duvidaram da sua versatilidade vocal (por mais que seu estilo destoasse) para assumir a banda que redirecionou os rumos do que viria a ser chamado de Heavy-Metal. E que tinha em suas fileiras 3 grandes vocalistas na vencedora trajetória: Ozzy Osbourne, Ronnie James Dio e Ian Gillan (o também ex DEEP PURPLE cantou no disco anterior a sua entrada, o cultuado “Born Again”).

GH 3

O problema foi o estado no qual se encontrava, afundado até o pescoço no consumo de álcool e drogas das mais diversas. O desastre foi impensável em se tratando da mais do que conhecida capacidade artística. Sua atuação no álbum “Seventh Star” foi irreconhecível e a performance ao vivo desastrosa, tendo só participado de 6 shows da turnê (sendo substituído as pressas pela saudoso Ray Gillen). Isso antes de ter o nariz quebrado pelo guitarrista Tony Iommi, que não aguentou seu comportamento autodestrutivo e violento (mais tarde se reconciliaram, tendo até gravado juntos).

Era uma espécie de “bomba relógio”. Vários meios de comunicação na época chegaram a falsamente anunciar sua suposta morte em momentos diversos. Foi a Amy Whinehouse daqueles tempos, era questão de tempo para “bater as botas” pelo seu estado deplorável. Conseguiu colocar a cabeça no lugar, foi se tratar e voltando aos pouquinhos, mesmo fragilizado demais, com participações diversas.

GH 1

A partir dos anos 90 começou a investir de vez na carreira-solo. E foi reconquistando seu “lugar ao sol” com trabalhos fantásticos. O que é mais interessante, é que quanto mais envelhece, MELHOR e MAIS INCRÍVEL a sua voz fica. Como se aquela fase “fundo do poço” não tivesse existido. “Blues”, “Voodoo Hill”, “Songs in the Key of Rock”, “HTP-PROJECT” juntamente com o grande vocalista Joe Lynn Turner (ex RAINBOW e também DEEP PURPLE),  o projeto Black Country Communion, com Joe Bonamassa, Jason Bonham e Derek Sherinian, ENFIM, muita coisa FINA, só para citar algum dos seus muitos trabalhos. Nunca esteve tão em forma como atualmente, e o público sabe disso.

GH 4

Por isso a escolha do intimista Teatro Odisséia no bairro da Lapa para seu show na cidade do Rio de Janeiro tenha sido errática. Nada contra o simpático espaço, mas os fãs de GLENN possuem toda a consciência de tudo que relatei anteriormente e isso não pode ser subestimado. Quando a introdução de “Stormbringer” fez a casa ir abaixo, havia ainda muita gente do lado de fora em filas gigantescas. Tudo bem, a abertura dos portões foi agendada para 1 hora e meia antes, e sabemos dos hábitos nada pontuais do cidadão carioca. Mas a impressão que tivemos é que poderia ter sido em um lugar maior e melhor estruturado. Ok, o som de palco estava ótimo, mas aperto demais e falta de visibilidade nunca são premissas bem aceitáveis.

GH 6

O que temos mais para falar de GLENN HUGHES que não ressalte a sua genialidade??? Repertório impecável, abordando canções de quase todas as fases. A companhia do FENOMENAL guitarrista Doug Aldrich (ex DIO e WHITESNAKE), que teve dois momentos individuais para mostrar toda a sua técnica irrepreensível, além de uma composição dos tempos da banda de Coverdale. Vale destacar também o jovem e soberbo baterista sueco Pontus Engborg, que mostrou entrosamento (toca com HUGHES desde 2010), peso, e toda sua destreza técnica em um momento particular, tão tradicional para o Hard Rock quanto uma ala das baianas para as Escolas de Samba.  Solo vocal ARREPIANTE na clássica “Mistreated”, levando as lágrimas muitos dos presentes que estavam concentrados no show.

GH 8

Porque vamos combinar, falam tanto do público mais jovem, mas esses estavam lá, interagindo, cantando, vibrando, fazendo a troca fundamental para o show ser mais sublime, algo ressaltado constantemente pelo sempre simpático “The Voice”. Mas os mais velhos, vamos combinar… Bater papo ALTO no meio dos solos? Ficar olhando como múmia paralítica e nem bater palmas? Tem que ficar sentadinho em uma mesa? Poxa, junta os outros “cabeça branca”, aluga um DVD e fica em casa, na boa. Aliás, o sexagenário aniversariante da noite (emocionado com o “Happy Birthday” cantado pelo público) deu exemplo de como o rock’n’roll além de salvar vidas, pode nos manter saudáveis e joviais. Tá morto? Definitivamente estão no show errado, porque um concerto de GLENN HUGHES levanta até defunto! Nenhum tipo de preconceito de minha parte nessas observações, ok? Até porque também já entrei nos “enta”.

GH 5

No geral, mais uma belíssima e histórica apresentação, de uma figura que merecia muito mais respaldo não apenas pela sua longa trajetória, mas pelo atual presente. Porque de sua geração, é um dos raros artistas que só conseguiu melhorar ainda mais com o tempo. O “encore” final com “Burn” enlouquecedor só veio coroar um dos grandes momentos desse ano de 2015. Vida longa ao mestre!

SET LIST:

1 – Stormbringer (Deep Purple song)

2 –Orion

3 – Way Back to th Bone (Trapeze song)

4 – Sail Away ((Deep Purple song)

5 – Touch My Life (Trapeze song)

6 – One Last Soul (Black Country Communion song)

7 – Doug Aldrich Solo

8 – Mistread (Deep Purple song)

9 – Good To Be Bad (Whitesnake song)

10 – Can’t Stop the Flood

11 – Pontus Engborg Drum Solo

12 – Soul Mover

BIS:

13 – Burn (Deep Purple song)

 

Texto: Alessandro Iglesias

Fotos: Daniel Croce

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