Glicério Rosário traz ao Rio seu premiado monólogo

O mineiro Glicério Rosário tornou-se conhecido do grande público recentemente, pela elogiada interpretação do personagem Setembrino, na novela Cordel Encantado, mas no meio teatral seus trabalhos como ator, diretor e dramaturgo já eram bastante respeitados. Com mais de 20 anos de carreira, Glicério traz ao Rio, para curtíssima temporada, o espetáculo São Francisco de Assis à Foz, um solo ganhador do Prêmio Sesc/Sated – MG, em 2009, nas categorias de MELHOR ESPETÁCULO, MELHOR DIREÇÃO E MELHOR ATOR.

 

São Francisco de Assis à Foz quer traçar um paralelo poético e dramático entre os caminhos do santo italiano e do rio São Francisco. “A história de Francisco sendo amado, amassado pelo amor de Deus se encaixava com minhas reflexões literárias. Mais tarde, o processo criativo me mostrou que São Francisco era o homem mas também era o rio, e eu consegui começar a escrever.”, conta Glicério. A montagem, inspirada principalmente nos livros O pobre de Deus, de Nikos Kazantzakis e O Irmão de Assis, de Inácio Larrañaga, utilizou também fontes diversas sobre a vida de Francisco, filho de Pedro Bernardone, um comerciante de Assis, na Itália, e Dona Picá, mãe amorosa e religosa. Para construir a dramaturgia do espetáculo, Glicério mergulhou nos estudos e debates que tratam da sobrevivência do Rio São Francisco, inclusive a controversa questão da transposição de suas águas. Mas sem cair nas armadilhas de um discurso político/ecológico ou tentar reconstituir lendas e passagens da vida do santo, a peça funde os dois São Franciscos, o homem e o rio, para falar de sentimentos mais profundos.

 

 

A encenação investe nas potencialidades expressivas do ator, explorando as mais diversas possibilidades vocais, corporais e criativas do intérprete, com figurinos e cenários despojados, que evocam variadas simbologias.

 

Para Glicério “não havia como falar do rio São Francisco sem tocar no assunto da transposição e seus interesses político-financeiros. Daí surgiu o veio central da dramaturgia: o rio tem dificuldades de chegar ao mar; o homem tem dificuldades de chegar a Deus; o dinheiro era empecilho para Francisco ascender; a cobiça era responsável pela despropositada transposição.” Assim, em cena, temos um Francisco, que em seu discurso poético, pode ser o homem ou o rio. Esse personagem vai criando um percurso de amor e luta, vai vencendo as barreiras para chegar ao seu destino, que é tanto Deus quanto o Mar.

 

O elemento central da cenografia é um amontoado de pedras. Elas carregam sentidos múltiplos, de agressão, pedras para a reerguer a casa de Deus, pedras do leito do rio, pedras do leito de morte. A iluminação reforça a poética, extraindo das pedras, em sombras e penumbras, figuras que lembram expressões humanas. A trilha sonora aposta nos ruídos de elementos naturais, silêncios e timbres que se harmonizam com a aridez cenográfica. Conceitualmente e esteticamente, a montagem une o sertão e a cidade italiana de Assis de forma anacrônica, enfatizando a atemporalidade e a universalidade de sentimentos como o amor.

 

São Francisco de Assis à Foz propõe uma reflexão para os conflitos políticos, geográficos, religiosos, culturais de nosso tempo, onde diferenças materiais e intelectuais podem aumentar a distância entre as pessoas. E onde o amor permanece como símbolo de elevação e integração.

 

Serviço:

Espaço Tom Jobim

De 24 de agosto a 02 de setembro

 

sextas e sábados 21h30 e domingo 20h30

Ingressos: R$60,00 (R$30,00 a meia-entrada)

Rua Jardim Botânico 1008 

Tel 2274 7012

Classificação etária: 14 anos

Duração: 60 minutos

500 lugares

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