“Guerra dos Sexos” parece desatualizada, mas diverte
O eterno cabo-de-guerra entre homens e mulheres dá o entorno de Guerra dos Sexos, que estreou na segunda-feira passada (dia 1) na faixa das 19h na Globo. Apesar de mal disfarçar a desatualização do tema, que se manteve e se modificou na sociedade ao longo dos 30 anos que separam a versão original e o atual remake, a novela de Silvio de Abreu (Passione) se sobressaiu pela qualidade do roteiro e do elenco, trama promissora e situações divertidíssimas que tem tudo para cativar o público.
Logo de cara, o folhetim pecou pela demora em passar da apresentação da história à ação. Os dois primeiros capítulos foram meio sem graça, e apenas a partir do terceiro episódio começaram a ganhar corpo tramas como a da patricinha Malu (Raquel Bertami) e o motorista Nando (Reynaldo Gianecchini), que, fugindo do casamento da moça, acabaram perdidos e apaixonados em uma ilha deserta, e da empresária Roberta Leoni (Glória Pires) ao decidir assumir a empresa falida do marido, Vitório (Carlos Alberto Riccelli).
Momentos cômicos, como o dia-a-dia da família de Nieta (Drica Moraes) e o resgate de Otávio (Tony Ramos) a Vânia (Luana Piovani) da sacada do apartamento de Felipe (Edson Celurari), complementaram esse quadro, engraçados sem cair no exagero. Destaque ainda para a bem-vinda inovação nos stock-shots (imagens da cidade e da fachada dos prédios), um mérito “extra” da trama de Silvio de Abreu.
O roteiro desta nova versão vem bastante fiel à Guerra dos Sexos original, com poucas alterações, o que é bom e ruim ao mesmo tempo. As características que consagraram a obra em 1983 se veem intactas, mas a guerra de gêneros, embora continue fazendo parte de nossa sociedade de forma quase latente, já não acontece hoje da mesma forma que no passado – e Silvio de Abreu parece não ter se preocupado em atualizar o texto nesse sentido. O comentário de Juliana (Mariana Ximenes) já no primeiro capítulo, ao considerar “anos 80” a rivalidade homens-contra-mulheres entre os funcionários das lojas Charlô’s, não foi suficiente para amenizar essa impressão.
Outro problema foi a ausência de Charlô (Irene Ravache) durante praticamente toda a primeira semana, o que, outra vez, tentou-se em vão contornar por meio de várias citações à personagem no decorrer dos capítulos. Por que razão começar uma novela sem a protagonista feminina?
Com respeito ao elenco, Tony Ramos e Drica Moraes são os maiores destaques. Há tempos ele, um dos maiores atores de nossa dramaturgia, não tinha condições de expressar sua versatilidade cômica em cena, e agora o está fazendo soberbamente na pele do machista Otávio. Talvez seja cedo para dizer, mas ao que parece Tony tem todas as condições para superar o grande Paulo Autran, intérprete original do papel. Já Drica, após sete anos sem emplacar um personagem fixo numa novela, voltou com a corda toda e já faz rir e chorar como a impagável Nieta. A estreante Raquel Bertami está um pouco “verde”, mas se nota que tem potencial. Já a performance de Reynaldo Gianecchini, como é de praxe, em nada chama a atenção, mas vamos dar uma chance ao rapaz de mostrar alguma evolução a longo prazo.
Guerra dos Sexos vem conseguindo casar com maestria o drama e a comédia, à distinção de Cheias de Charme, que pecou durante toda sua duração pela falta de carga dramática. Talvez não marque como a primeira versão, mas tem tudo para ser uma novela agradabilíssima de se assistir.
Por Felipe Brandão
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