Janelle Monàe acerta novamente em novo álbum misturando o futuro com o passado
Que a Janelle Monàe não é mais apenas uma promessa da música, todos nós sabemos há algum tempo. Porém, em seu novo disco, o “The Eletric Lady”, a cantora americana fez questão de deixar isso bem claro para quem ainda duvidava das suas capacidades. Novamente misturando soul, batidas pop e muito funk à lá Prince e Michael Jackson, Monàe repete o grande acerto de estilo que a fez ser um dos nomes mais lembrados entre a nova geração. Dando sequência ao projeto futurista do anterior, a ficção científica e o futurismo são temas recorrentes.
Se em “The ArchAndroid”, de 2010, Janelle usava e abusava da sua potência vocal para rimas e um soul music que fazia lembrar os bons tempos do ritmo nas vozes de grandes cantores, nesse ela coloca uma pitada de funk e pop. Suas faixas são todas muito bem mixadas, dando sensação de um álbum “deja vu” e anos 70, propositalmente feito para sentirmos o gosto diferente do que ouvimos em todo lugar e a todo momento.
Não faltam participações especiais. E entre tantas, a mais significativa e importante é, sem dúvidas, o mentor e inspiração plena da americana: Prince. O Príncipe de Minnesotta aparece logo na primeira faixa musical, a “Givin’ Em What They Love”. Aliás, o álbum apresenta 19 faixas, um tanto quanto assustador e bastante ousado quando se tratado de um disco dos anos 2000, mas cinco delas são apenas introduções de um minuto e meio ou conversações entre os convidados que o dividem em atos. Novamente um apanhado que deu certo em seu trabalho anterior: Uma viagem em ficção científica. E é misturando o futuro com o passado que começamos a passear pelo disco.
Na já citada faixa que inicia o álbum, a guitarra distorcida e o “ambiente” soul leva o ouvinte a uma nostalgia. E é lá, com a voz da Janelle abrindo espaço, que entra Prince. O encontro é o selo de duas gerações privilegiadas de um ritmo que agrada quase 100% das pessoas. A música é totalmente identificada muito mais com o convidado, mas não deixa de ser um achado para a cantora, que tradicionalmente tem estilo parecido e não faltam agudos. Envolvente, ousado e mostra logo de cara a força do novo trabalho.
Com mais uma participação especial, desta vez da Erykah Badu, a “Q.U.E.E.N.” é mais um traço do disco anterior da cantora, com letra estrategicamente marcada por batida soul no final e com métrica cuidadosamente trabalhada para soar quase como um funk à lá James Brown. Badu corta o balanço versando e deixa a faixa um tanto quanto anos 80. Os metais e sopros também nos levam à uma esfera que se perdeu no tempo. É um dos grandes momentos do álbum. A música que dá nome ao trabalho, “Electric Lady”, é outra dividida. Desta vez com a cantora Solange. Se tem uma pegada mais moderna, não deixa de lado os agudos e a força vocal da Janelle, assim como a já famosa “Primetime”, que conta com Miguel. São canções R&B e que ganham corpo com as boas interpretações. O mesmo serve para “Victory”.
“We Were Rock and Roll” e “Dance Apocalyptic” são duas músicas que provam a maturidade já citada da Monàe. Totalmente diferente em termos musicais, são um retrato do que ela é capaz de fazer: Ir até o contemporâneo na primeira, o que o mercado fonográfico exige como imposição e também voltar com hits que trazem os Jackson 5 para nosso convívio na seguinte. As mixagens são destaques em ambas. Mas não faltam as tradicionais baladas, como em “Look Into My Eyes”, “Its Code” e “Can’t Live Without Your Love”, momentos mais calmos do álbum. Nesta última, inclusive, impossível não ouvir e lembrar da fase inicial do Michael Jackson em sua carreira. Mesmo em letras mais pesadas, como “Guetto Woman”, o balanço não é perdido. O baixo mais alto que as guitarras suplanta qualquer outra atenção.
“Sally Ride” e “What An Experience” fecham o CD resumindo em duas canções tudo o que foi dito anteriormente. Na primeira são os agudos conhecidos da Janelle que saltam da música, que capricharam ao máximo para que isso ficasse realçado e na segunda, mais um estilo “novo com o velho”. Quando terminam, entendemos bem o porquê do nome do álbum. É a maturidade musical de uma jovem que já se apresenta como uma das grandes afirmações e que mistura gerações. Se nesse pós-Rock in Rio as “promessas” da música não vingaram ou não agradaram ao público, Janelle ainda está na memória de muitos da edição de 2011, quando uma quase desconhecida levou milhares de pessoas a buscarem àquela timbre novo, mas com swing antigo. É a herança da música negra americana agora numa voz feminina. E muito boa.
Classificação: Excelente
OUÇA O ÁLBUM COMPLETO
“The Eletric Lady” – Janelle Monàe
(BadBoy/Wondaland, 2013)
Por Bruno Guedes