Kiko Dinucci e Paal Nilssen-Love fazem show hoje em Botafogo
De Guarulhos a Addis Ababa, de Tóquio a Roskilde, da Zona da Mata Norte a Salvador, a música de Kiko Dinucci e Paal Nilssen-Love reflete os sucessivos deslocamentos de interesse que marca a trajetória dos dois artistas. Nesta caldeira entra o Samba Paulista, o Ethio-Jazz, o Maracatu de Baque Solto, os ritmos do Candomblé… Tudo é matéria-prima que se reflete na música que Dinucci e Nilssen-Love produzem em parceria. Esse encontro ganha os palcos no Rio de Janeiro com uma apresentação única na Audio Rebel, encerrando o feriadão hoje, dia 17/11 (domingo), a partir das 20h.
Kiko Dinucci é cantor, compositor, instrumentista e improvisador paulistano, integrante de projetos centrais na música brasileira contemporânea como Metá Metá e Passo Torto, além de desenvolver seu trabalho solo revirando algumas das premissas fundamentais da chamada “MPB”. Dinucci vem recriando a canção brasileira a partir da convergência entre punk e derivações como o hardcore e o pós-punk, além de ressaltar a presença forte do samba e de elementos provenientes da cultura musical afrobrasileira.
Já o baterista anglo-norueguês Paal Nilssen-Love vem mostrando uma desenvoltura em sintetizar com eficácia o sentido de improvisação com técnica apurada, energia e musicalidade. Tocando ao lado de grande nomes da música improvisada como Ken Vandermark, Joe McPhee, Akira Sakata, Peter Brötzmann e Jim O’Rourke, Nilssen-Love vem redesenhando a cara da música de improviso contemporânea, incorporando rock, punk, salsa e até mesmo o samba e o baião ao repertório de referências — vale notar que o músico é fã incondicional da rítmica de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.
Em 2019, Nilssen-Love e Dinucci participaram de dois discos coletivos. Gravado no Festival de Roskilde, na Dinamarca, New Brazilian Funk conta com as participações do saxofonista norueguês Frode Gjerstad e dos cariocas Paulinho Bicolor na cuíca e Felipe Zenícola no contrabaixo elétrico. New Japanese Noise é o título do segundo disco, igualmente gravado em Roskilde, com a participação do saxofonista Akira Sakata e da cacofonia eletrônica a cargo de Kohei Gomi e Toshiji Mikawa.
Em ambos o trabalhos é possível entrever um temperamento coletivo e sonoro muito particular, uma espécie de vibração que somente alguns ensembles de improviso livre podem criar. Mas a parceria entre Nilssen-Love e Dinucci parece que tem potencial para criar suas dinâmicas próprias. Sabe-se lá que aberturas, que possibilidades esta parceria pode vir a propiciar no futuro aos ouvintes atentos que os acompanham.
Abrindo a noite, o projeto Natural Nihilismo, iniciado em 2014, é conduzido por NINGUÉM e tem como intuito a formular uma reflexão sobre seres humanos que são invisibilizados pela sociedade e vivem em condição de extrema pobreza. O projeto está em seu oitavo álbum solo, destacando-se “Anistia” (2017), em memória às vítimas da Chacina da Candelária de 1993. Sem diálogo: uma muralha de ruído extremo na zona limiar da experiência sensorial.
Os shows tomam conta da Audio Rebel, espaço da Zona Sul que oferece eventos, gravações e ensaios para bandas e artistas, além de uma loja de discos e oficina de luthieria. A casa fica na Rua Visconde de Silva, 55, em Botafogo.