Lady Gaga traz atitude e carisma tão em falta no cenário Pop
Lady Gaga vence a o desafio de fazer um show marcante e original mesmo com a baixa venda de ingressos. A cantora aparece mais madura artisticamente tendo espaço para expressar suas idéias as vezes bem polêmicas, e conferir à uma grande produção,o poder para fazer refletir e também entreter o público. Completamente livre no palco, nem mesmo o uso das coreografias atrapalhou os improvisos e discursos da artista, provando que um ícone do pop é capaz de ter até mais atitude do que uma figura do mundo do rock n’ roll.
Há muito tempo que os shows das personalidades da música pop se focaram no entretenimento. São telões imensos onde passam interludes, vídeos politizados, animações, são grandes estruturas que se locomovem, inúmeros figurinos que são trocados, dançarinos que surgem de um lado e reaparecem no outro. Mas esse investimento aplicado muitas vezes, apesar de gerar um grande retorno, se perdia em meio a mercantilização de ingressos e da própria imagem do artista. Ou seja, agora o cantor pop tem que fazer mais do que apenas cantar no palco, e se as pessoas precisam de apelos visuais, as grandes produtoras precisavam encher seus bolsos de dinheiro também. O resultado é: muita parafernália e poucos shows de qualidade, com ingressos sempre super faturados. Já que essa realidade parece longe de ser modificada, os fãs acabam se rendendo a isso, e mesmo que muitos tenham desistido, os que compareceram ao show ontem (9) não tiveram decepções. Lady Gaga não é mais aquela iniciante que parecia engessada e sem emoção na primeira tour “The Fame Monster”, onde seus figurinos exuberantes e bizarros pareciam sem sentido e ainda atrapalhavam sua performance, a cantora de “judas” simplesmente mostrou sua evolução e provou que podia fazer um show diferente daquilo que se tem visto. Há espaço para se fazer um show original nessa selva que é a indústria da música.
A turnê atual “The Born This Way” é ainda exagerada, mas cumpre com a função de suas caricaturas. O show é extremamente conceitual, cheio de críticas políticas, feministas e emocionais, trazendo a discriminação como foco, sem deixar de preservar os momentos de diversão, e autoafirmação, importantes para manter o equilíbrio da apresentação. Foi preciso manter os olhos bem atentos para compreender o que cada dos 5 atos estavam tentando explicar.
O primeiro ato começa ao som da música “Highway Unicorn (Road to love)” onde Lady Gaga surge montada em um cavalo de metal, como quem se prepara para uma guerra medieval em meio ao castelo Gótico ao fundo, o que faz jus a letra da canção, que soa como um hino de força para aqueles que ficam à margem da sociedade por alguma diferença social, e Gaga acolhe e defende. Seu figurino é impecável e causa arrepios. Inspirado no personagem do clássico dos filmes de ficção científica “Alien”, a mother monster se apresenta como uma criatura do espaço, que acaba de chegar e preparar seus semelhantes para lutar. Gaga grita em meio a canção que “o rio é o futuro” e todos devem se preparar para mudar, arrancando gritos dos fãs que se identificam com a mensagem. Dançando sensualmente, e perfomando uma cena de sexo oral, a mãe alien está seduzindo seu possível perseguidor. A ideia agora é que a cantora após sua aterrisagem metafórica, recruta seus soldados, e os informa da missão na terra, é preciso lutar. Lady Gaga aparece no palco renascendo de uma suposta enorme placenta semelhante a apresentação no Grammy de 2011 para cantar a música “Born this way”, logo depois seguida de “Black Jesus”. Através de um pequeno interlude, a transição para o segundo ato mostra a GOAT sigla em inglês para “território alienígena de propriedade do governo” tentando exterminar sua raça, mas ela não está disposta a deixar isso acontecer tão facilmente, a operação “Kill the Bitch” foi iniciada.
No segundo ato, e assim para surpresa de todos, começa a música “Bad Romance” tão esperada na noite, seguido pela troca de figurino, ainda na linha futúristica. Enquanto mais um discurso sobre repressão se iniciava, os supostos guardas do governo a capturam e levam. Tentando fugir Gaga começa a cantar “Judas”, provocando o alvoroço do público que assistia toda a história sem piscar. Minutos depois da música terminar, ela reparece no alto do castelo com um figurino tipicamente da alta costura francesa todo rosa, e nos brinda com a deliciosa e retrô “Fashion Of His Love”, seguindo a parte do show mais leve, com Just Dance, LoveGame e Telephone.
O terceiro ato informa à todos que Gaga conseguiu dominar o planeta, é quando aparece montada em uma sexy motocicleta que parece se fundir ao próprio corpo, como na capa do disco. “Heavy Metal Lover” cai como uma luva para o momento mais solto e cheio de atitude da cantora. Couro, gritos de ordem e um visual clássico do rock n’ roll dos anos 80 situa a canção em seguida “Bad Kids”. “Hair”, a delicada canção sobre auto afirmação em meio aos preconceitos, é cantada gentilmente e com todo o amor que Gaga poderia expressar para os 3 fãs que agora a acompanham no palco em meio à lágrimas.”Princess Die” e “You and I” também fazem parte do ato, que se encerra com “Electric Chapel” com direito a efeitos belíssimos de iluminação, colorindo como um arco íris o castelo ao fundo. A platéia se sentiu em uma verdadeira boate.
O quarto ato é vibrante e forte. Lady gaga entra vestida de noiva, gemendo e sendo rejeitada pelo seu noivo. Todos esperam então pela canção “Mary The Night” mas sobrepondo o óbvio, Gaga define seu show com maestria e originalidade mais uma vez, encaixando a canção protesto “Americano” que critica a forma como os imigrantes, principalmente mexicanos, são tratados pelos norte americanos. Arrancando a roupa de noiva, a mãe monstra aparece com uma versão agora fictícia do seu famoso vestido de carne. A mensagem pode não ser interpretada de primeira, e em outros países como Dublin foi rejeitada, mas a forma agressiva que Gaga canta os trechos de “Americano” fazem com que aos poucos, tudo seja compreendido: as minorias em geral, sendo imigrantes, homessexuais, são constantemente tratadas como “pedaços de carne”. O protesto foi dado. “Poker Face” e “Alejandro” que são performados criticando também a forma como a mulher é tratada: como objeto.
O quinto ato entra rapidamente, com a transmissão no telão da “mother goat” que começa a cantar “Paparazzi” e finalmente é derrotada por Gaga que aparece com um bastão de luz e dança uma coreografia alucinante de “Scheiße”. Quando todos acham que o show está chegando ao seu fim, Lady Gaga retorna com uma versão acústica de “The Edge of Glory”, seguido de Marry the Night, e se despedindo de forma inusitada ao som do rap “Cake like Lady Gaga”, fazendo a alegria de vários fãs que são puxados ao palco, e acompanham a dança hip hop da cantora que se equilibra entre fotos tiradas pelos little monsters e um boné caindo pros lados. Definitivamente esse último ato mostra o porque de Gaga vir ao mundo. Sua proximidade com os fãs é comovente, e natural. Ela dançou entre eles até as luzes se apagarem e simplesmente parecia fazer parte do meio. O carisma se sobrepôs a qualquer ato de estrelismo, e o rio de janeiro virou uma segunda casa para a mãe monstra.
O único motivo para o qual o show não pode ser perfeito, é que devido as inúmeras promoções para a compra de ingressos encalhados, trouxe ao Parque Dos Atletas, um público que não sabia muito bem o que esperar, nem cantar as músicas. A platéia ao fundo era composta por um tipo completamente diferente da que havia à frente. As pessoas vibraram com algumas canções, apenas as mais conhecidas, e não se entusiasmaram com as peripércias politizadas de Gaga, o que nos confirma o quanto é absurdo a forma como as produtoras tratam esses grandes eventos: criando ingressos caros que são rejeitados, e na véspera do show, enchendo o ambiente de pessoas que descaracterizam o cenário que crítica e também aprova o artista, afinal no caso eles conhecem.
Texto: Juliana L. Farias
Foto: Divulgação/Lady Gaga Brasil
A Lady Gaga é uma artista sensacional, seus shows sempre surpreendem o público pela produção impecável e as performances da cantora! Ela está sempre nos surpreendendo, por isso assistir a um show dela é fantástico!