Lançamento do aguardado registro da vida e obra de Arthur Bispo do Rosário

bispoFinalmente, depois de muita espera, o crítico Frederico Morais traz ao público seu livro sobre Bispo do Rosário. Organizado pela psicanalista e pesquisadora Flavia Corpas, “ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO – ARTE ALÉM DA LOUCURA”, reúne textos de Morais anteriormente publicados de maneira dispersa (em jornais e catálogos), e agora devidamente reunidos e organizados. Também agrega novos documentos, informações e artigos, para se tornar, enfim, a referência mais completa e direta do curador que descobriu (ou inventou, como ele mesmo diz), um dos grandes artistas do Brasil no século XX. O livro tem lançamento no Rio de Janeiro, em dois eventos e a publicação traz a versão em inglês do texto.

Morais foi o crítico que inscreveu o nome de Bispo do Rosário na história da arte e o único que teve a oportunidade de conhecer o Bispo e sua obra tal como foi concebida nas celas em que o artista vivia e criava”, descreve Flavia Corpas em sua apresentação. “Ele teve acesso a documentos dos quais hoje não se sabe o paradeiro, como o seu primeiro prontuário na Colônia Juliano Moreira. Entrevistou pessoas que conviveram com ele antes e depois da primeira internação e teve amplo acesso à sua obra, sendo um dos principais responsáveis pelo primeiro inventário”.

Flavia, dona de “persistente talento investigativo” (como descreve Morais), também fez diversas descobertas, como a como a do primeiro prontuário de Bispo do Rosário no Hospício da Praia Vermelha e de publicações da época que comprovam sua carreira de boxeador. Ela chama a atenção para o fato de que, nos dias de hoje, nem mesmo a obra de Bispo está acessível para estudiosos: “E fontes primárias nem pensar, não há exposição permanente nem estímulo à pesquisa”.

Nascido em Minas Gerais em 1911, passou pela Marinha e foi pugilista. Seu primeiro surto psicótico aconteceu em 1938. Já internado na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá (Zona Oeste do Rio de Janeiro), foi avistado por Morais numa reportagem do Fantástico (em 1980), sobre as péssimas condições das instituições que internavam doentes mentais. Frederico relata as primeiras aproximações e contatos com Bispo do Rosário e detalha o processo (uma negociação) para que pudesse fazer o manuseio e o ordenamento da obra. Promove as primeiras exposições do artista e prossegue realizando ações indispensáveis como a catalogação dos objetos.

Em prosa fluente, Morais relembra episódios centrais da consolidação do nome de Bispo como referência artística que hoje é. Como a discussão que eclodiu no seu falecimento sobre o Manto da Apresentação (Morais lembra que uma ala defendia que ele deveria ser enterrado com o manto): “Não foram poucos aqueles que pressionaram para que Bispo do Rosário fosse enterrado vestindo o Manto da Apresentação, com argumentos dos mais variados. Contra–argumentei afirmando que, em seu delírio, Bispo do Rosário morreu convencido de que cumprira todas as etapas de seu projeto. E que enterrar com seu manto seria na verdade um crime de lesa–cultura brasileira, pois sendo ele a síntese perfeita de toda sua obra, sua importância cultural não é menor que a do manto do cacique Tupinambá, contrabandeado para a Europa”, afirmou o autor em um dos textos publicados em seu livro.

Frederico também se dedica no volume, a descrever e interpretar os objetos e trajes criados por Bispo do Rosário. E segue esclarecendo a perguntas reincidentes nesse trajeto de curadoria e estudos. Como por exemplo, respondendo às questões sobre a consciência plena de Bispo (do que ele produzia) e sobre arte e loucura. Das quase trezentas páginas do livro, cerca de cem trazem imagens das obras de Arthur Bispo do  Rosário. E o livro de Frederico Morais, nos dá acima de tudo, sua análise e preciosa versão em primeira mão.

ARTHUR BISPO DO ROSÁRIO – ARTE ALÉM DA LOUCURA

Frederico Morais – organização Flavia Corpas

NAU Editora – Livre

Galeria Preço: R$ 148

Lançamento:

Quinta, 1 de agosto, a partir das 16h (DEBATE com o autor, Frederico Morais, e a organizadora, Flavia Corpas)

Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica Rua Luís de Camões, 68 – Centro

Por Alessandro Iglesias 

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