Lily Allen reaparece original e biográfica em “No Shame”, seu novo disco

A capa já diz tudo: uma foto sorridente, desfocada, aparência que vai desde seu cabelo colorido às roupas soturnas e nenhum texto, nenhum rótulo. Quatro anos após o polêmico “Sheezus”, a cantora Lily Allen lançou seu quarto álbum, “No Shame”. A inglesa, que há meses vem fazendo uma forte campanha de divulgação do seu novo trabalho, agora vive fase diferente de todas as outras.

Divorciada e mãe, a popstar traz um disco cheio de parcerias na produção, composições e vocais. Mas o que temos é quase uma biografia. O produto final é o melhor desde a sua volta. Ao todo são 14 faixas, sendo três delas com convidados. O lançamento aconteceu em conjunto pelos selos Warner Music, Regal, Parlophone e Warner Bros.

Guardadas as devidas proporções, obviamente, a trajetória musical da Lily Allen se assemelha a da Alanis Morissette: uma menina saindo da adolescência, crescendo diante do seu público (com idade parecida), descobrindo os segredos da vida e de mulher, além de se revelar de forma genuína. Desembocamos então em “No Shame”. A inglesinha, descoberta lá na obsoleta rede social/artística MySpace, não é a mesma de agora.

Lily amadureceu, apanhou muito da vida, se viu diante de muitas alegrias, desenvolveu novas ideias… E agora parecem canalizadas em um trabalho revelador e ótimo. São muitos os versos sobre separação, maternidade e assuntos femininos. O disco tem elementos que alavancaram “Alright, Still” e “It’s Not Me, It’s You” a mega sucessos e colocaram Allen numa cena musical britânica vanguardista, que tinha ela, Amy Winehouse e Joss Stone, por exemplo, rejuvenescendo o som da Terra da Rainha. Como se estivesse dizendo: mudei, pero no mucho.

“What You Waiting For”, um dos grandes momentos e possível single de sucesso, traz todos estes elementos citados. Uma carga emocional que parece autobiográfica, logo de cara ela diz “Desde que nós nos separamos fui sufocada pelo vazio na minha cabeça”. Em seguida demonstra seu ciúme em versos como “alguém mais está compartilhando a sua cama”. E como gran finale: “a solidão é superestimada”. Aquele delay distorcido presente em “Smile”, seu maior hit, encerra.

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Se um dia já ouvimos rebeldia em suas letras, como “LDN” e “The Fear”, dos primeiro e segundo discos, respectivamente, agora há sobriedade. É até meio depressiva, como em “Come On Then”, onde ela diz “Eu sou uma mãe ruim, eu sou uma esposa ruim”. Isso em meio à batida eletrônica e muitas distorções que permearam os supracitados CDs.

Inegavelmente há muitas bases de hip-hop. Surpresa? Não. Durante seu hiato de cinco anos, enquanto os fãs se apavoravam com as notícias sobre a sua aposentadoria precoce para se dedicar à maternidade, Lily Allen aparecia em diversos shows do gênero. Até por isso, “Trigger Bang”, seu primeiro hit do disco, vem com o rapper também britânico Giggs. Agradável e com um certo eco em sua voz. Há outras obras neste estilo, como “Higher”.

“Your Choice” é a canção jovial da safra. Dançante, com um swing que lembra até alguns sons latinos de sucesso, traz uma poesia mais positiva e muitas vocalizações que fazem da faixa uma pedida e tanto para ser repetida. Mas aí vem “Lost My Mind”, outro single já lançado anteriormente. Volta a carga depressiva em “eu não estava planejando esse caos, eu não estava sendo difícil, mas você continuou nos traindo”. Outro grande momento.

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A balada “Family Man” é fantástica. Lily, acompanhada por um piano e um estilo “mais tradicional”, botando pra fora seu coração junto ao seu talento vocal. A música se aproxima ao máximo das grandes cenas de sucesso do pop americano, mas com a carga emotiva do britânico. Esta tem todo o perfil que buscam as rádios.

E é a partir dela que começa uma sequência mais calma e inspirada. “Apples”, leve e sutil; “Three”, novamente voz e piano; e “Everything To Feel Something”, com um eco em versos tristes.

“Waste” joga de novo pra cima o ritmo. Mas agora acompanhada da cantora Lady Chann. “My One” e “Pushing Up Daisies”, com suas características próprias, tornam ainda mais diversificado o álbum. Não soa repetitivo. “Cake” encerra os trabalhos cantando mensagem positiva e reveladora: “Não deixe ninguém nunca te dizer quem você é, ou que pode ou não se tornar“.

Quem a Lily Allen se tornou? Uma mulher. Madura e expressiva, como seu “No Shame”.

Classificação: Muito Bom

OUÇA “Lost My Mind”

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