Maná aquece os palcos do rio com tequila e ritmos latinos

Dizem que não há nada que uma boa tequila não faça esquecer e animar, mas não foi apenas de boas goladas da bebida que a banda Maná enfim afastou a lembrança do balde de água fria que foi sua última apresentação no Rock In Rio em 2011, mas de boa música e muita energia tipicamente latina.

O Maná não só é uma das bandas mais populares e bem sucedidas do méxico com milhões de álbuns vendidos e uma carreira extensa que teve início em 1987 quando ainda se chamavam “Sombrero Verde”, como popular em toda ámerica latina e principalmente no Brasil. Ano passado o grupo foi uma das atrações do Rock in Rio, mas nem mesmo seus mais de 30 anos de carreira pareceram demonstrar a grandiosidade da banda que ficou completamente apagada, e não empolgou o público nem um pouco, diferente das outras atrações do mesmo dia. Talvez o fato de que, em um festival nem todos os estilos (ainda mais quando misturados) conseguem agradar todo o público, além do que as bandas como Skank e Frejat eram realmente as esperadas, até mesmo a tentativa de trazer Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, para o palco, conseguiu criar uma performance original. Apenas a canção “Viver Sin Aire” conhecida por ter entrado como trilha sonora em uma novela da Globo, pode arrancar alguma energia de um público que mais parecia zumbis ou definitivamente não conhecia o Maná.

Entretanto, o show de ontem no Citibank Hall Rio, simplesmente mostrou como uma banda latina pode passear entre estilos e não terminar na mesmice, ou breguice. O som dos caras pode ser descrito como um rock que passeia pelo pop, calypso, ska, e é claro, os ritmos mexicanos. Pode parecer uma mistura um tanto que exagerada, e de certa forma é, mas quem esteve presente ontem no show pode conferir como o grupo consegue transitar entre os sons sem perder sua personalidade e por isso, conquista entre os fãs maduros, que eram grande parte do público do show, como jovens adultos e até pré-adolescentes.

Dotados de um visual bem rock n’ roll de calças rasgadas e coletes e jaquetas de couro, caveiras, havia os traços sutis de uma banda tipicamente latina: incensos acesos ao fundo e os crucifixos no pescoço de alguns músicos.
A banda pode não ter um vocalista muito agitado, Fher Olvera fazia pequenos gestos e até mesmo fechou os olhos timidamente enquanto cantou mas manteve contato com a platéia o tempo todo, e nisso, a grande estrela da noite foi mesmo o baterista Alex González que para início de conversa, tinha sua bateria numa espécia de pequeno “palanque” acima dos demais, cheio de vidros quebrados colados ao redor, além de muita segurança e atitude.

Apesar do atraso comum e insistente do Citibank, o show iniciou as 22h e teve duração de 1h40, porém foram mais de 16 músicas, considerando-se assim um show realmente completo.

O Maná fez uma presentação vigorosa e carismática, uma boa produção, com direito a um enorme telão de led no fundo do palco, explosões na abertura, tochas que espirravam fogo nas laterais e vapores fortes de gelo seco. A abertura ficou por conta de “Oye Mi Amor” que só aumentou o ânimo dos fãs, e é uma das músicas mais agressivas e agitadas do grupo, que já nos chamou atenção mais uma vez para o baterista Alex González . Em seguida, os arranjos eletrônicos de “Dejame Entrar” mudam completamente o clima do palco dando espaço para um pop rock viciante que fez Alex apontar para o público sensualmente convidando-os para se soltar. Assim estalou os dedos e de pé na bateria improvisou passos de dança, que levou os fãs a loucura.

Mais uma vez o som do sintetizador estava presente nas canções seguintes, como “Lluvia Al Corazon” mantendo a platéia agitada que mostrou conhecer a letra da música. Em “Eres mi religion” o vocal Fher dedicou a canção “a todos aqueles que amam profundamente” para alvoroço dos fãs que também esperavam essa canção.
Em “Amor Clandestino” o ritual da tequila teve início. A partir de então os músicos brindariam com altas doses, como um típico mexicano faz. O vocalista chegou a tomar quase uma garrafa inteira de uma vez e fez alguns versos de improviso sobre a bebida ressaltando que a tequila “é como o sol de todo músico”. Poesias à parte, o público não desanimou um instante, e a música “Mariposa Traicionera” de fortes arranjos latinos começou a tocar logo em seguida, mergulhando o público em uma luz forte e quente amarela, que fez principalmente as mulheres se soltarem, e num clima descontraído e extremamente sensual, a platéia dançava.
O show teve três momentos de interlude, ou seja, de intervalos, em que algum músico fazia um solo, no primeiro caso o guitarrista Sergio Vallín, depois o baterista, González, e por fim, um vídeo de Fher, bastante politizado por sinal, nos alertando sobre os problemas que o planeta tem enfrentado e nos deixando a seguinte questão: “Será que nosso poder está crescendo mais do que nossa sabedoria?”.

Seguindo a parte do show voltada para as questões políticas, a música “LatinoAmérica” veio para nos despertar o sentimento nacionalista que no caso dos mexicanos são mais forte do que nos brasileiros, justamente pelos preconceitos que sofrem em relação à América do Norte, não só devido ao Império Americano sobrepor tantas questões culturais e de consumo, como também pelo problema que persiste há tantos anos, sobre os latinos atravessarem a fronteira ilegalmente em busca de uma vida melhor. Mas há de se lutar pela própria nação, há de se ter orgulho dela, e assim a banda gritava frases como “Mais igualdade!”,”Orgulho de ser latino!” e tentava nos propor união dizendo “só existe uma America , e a letra da canção nos dava o resto do recado: Latinos são discriminados, eu não acho que eles estão certos. Você latino, eu latino, o mesmo sangue e coração. Se você não aprender com nossa história não terá forma de progredir. Cometemos os mesmos erros atrasados vamos ficar agora é a nossa vez, com coragem, dignidade e valor.

O batuque da percussão anunciava “Clavado En Un Bar”, e as mãos na platéia se levantaram. “Me Vale” trouxe a mesma empolgação, e foi um dos momentos auge do show.

Uma mesinha foi posta no palco, e nela uma garrafa de tequila, um arranjo de flores vermelhas e duas taças. Sentados em poltronas e cadeiras próximas da mesa com seus respectivos violões, os músicos esperavam por um terceiro elemento que não seria nada mais nada menos do que uma fã. Esse momento foi o mais intimista e romântico do show. A fã pediu a música “Bendito la luz”, outra que o público ovacionou por também era esperada. Em seguida, criando a dobradinha de músicas de sucesso, fórmula mais que perfeita, os primeiros acordes de “Vivir Sin Aire” anunciou a belíssima canção que consagrou o Maná no Brasil e na América. O público cantou do início ao fim. “Rayando El Sol” foi uma das músicas finais, em que as pessoas levantaram seus celulares em meio ao escuro que a banda pediu, e balançavam os pequenos pontos de luz quase como em despedida. “Lábios Compartidos” e famosa “Corazon espinado” vieram como bis à um público tão fiel que dificilmente conseguia acreditar que o show chegava ao fim.

Setlist:

Oye mi Amor
Dejame entrar
De Pies a Cabeza
Lluvia al Corazon
Eres Mi Religion
Amor Clandestino
Mariposa Traicionera
“Instrumental” Guitar Solo
Manda Una Senal
Latinoamérica
Clavado En Un Bar
Me Vale
Solo
(Acústico)
Vivir Sin Aire
En El Muele de San Blas
Rayando El Sol
Labios Compartidos
Corazon Espinado

Texto: Juliana L. Farias

Fotos: Jefferson Riberiro


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