Maroon 5 se perde completamente em novo álbum “Red Pill Blues”
Antes mesmo de chegar às lojas físicas ou virtuais, o novo álbum do Maroon 5 foi polemizado por causa do seu nome. Batizado de “Red Pill Blues“, o que foi absorvido como algo machista, já que é o mesmo de um grupo que defende os “direitos dos homens” nos Estados Unidos, o público jovem da banda reagiu mal. Mas nada causa mais polêmica do que o próprio som do disco. Os americanos, que a cada novo trabalho foram perdendo a sua essência de pop/rock jovial, agora estão completamente perdidos.
Para falar de “Red Pill Blues”, lançado no começo de novembro através das gravadoras 222 Records e Interscope Records, precisamos antes voltar no tempo e relembrar como o Maroon 5 chegou ao topo do sucesso. Os cinco amigos americanos estouraram para o mundo no começo dos anos 2000, com o álbum “Songs About Jane”, de 2002. O trabalho foi aclamado pela crítica especializada, com um som que misturava Pop/Rock, Funk e Jazz vendendo mais de 12 milhões de cópias pelo planeta. Nele, hits que até hoje são obrigatórios nos shows, como “This Love”, “She Will Be loved” e “Sunday Morning”. Pareciam mais uma banda que fazia uma vertente mais leve do rock, misturando gêneros.
O Maroon 5, amparads por esse “costume sonoro” do público, estourou com seu som também mesclado, com linguagem leve e mais jovem. À época, uma forte transição sacudia o mercado fonográfico, com a ressaca do pós-Pop das Spice Girls e Backstreet Boys reformulando o que era ou não tendência comercial. Cada vez mais havia uma hibridização de gêneros. Os grandes nomes do cenário rock ou Pop/Rock nas rádios eram os Red Hot Chili Peppers, no auge do “Californication” e lançando outro mega sucesso com “By The Way”, além do Linkin Park, com “Hybrid Theory”. Ainda tinham os Gorillaz, com o inovador CD de mesmo nome, com animação. Nas sonoridades, uma mistura peculiar e própria de se fazer o velho ritmo das guitarras.
Mas a indústria fonográfica mudou. As grandes gravadoras entraram em crise, a pirataria devastou as vendas de discos e o compartilhamento cibernético lançou os artistas independentes, principalmente no My Space, como Lily Allen. O Pop explodiu e suplantou o Rock das rádios e TVs, principais veículos de massificação musical. Quem nadava contra, cada vez mais perdia espaço midiático e buscava alternativas. Outros embarcavam na onda e misturavam seus sons “com o que vendia”. Então vieram Lady Gaga, Katy Perry, os rappers americanos muito longe da linguagem crítica ou politizada porém comercial, entre outras figuras. E o Maroon 5, ali no meio do furacão, com mais um ótimo disco, o “It Won’t Be Soon Before Long”, com sua capa marcante e menos sucesso comercial que o anterior.
Uma das estratégias então para se permanecer em alta, além de contar com bons contatos e produtores, foi sempre se modificar. Seja o visual, cada dia novas cores, roupas, etc, ou na música em si. Foi a partir daí que o Maroon 5 começou a sair da cena Pop/Rock e virar mais Pop que Rock, com seu complexo, porém bom, “Hands All Over”, em 2010. Nele, cada vez menos guitarras e originalidade musical e mais batidas que ouvimos em qualquer outro CD. Estava nele o último suspiro do “velho Maroon”, com “Misery” e a sua nova tendência, com o extremamente popular “Moves Like Jagger”. Um sucesso mercantil estrondoso e clipe que, já no auge da internet compartilhada, viralizou.
Em “Overexposed”, de 2012, a banda já era apenas Pop. Não havia mais Rock. Até a capa era totalmente alternativa ao que faziam. Som extremamente comercial, afastando os fãs mais antigos e exigentes e triplicando com novos, mais jovens e industrialmente mais maleáveis. “One More Night”, “Payphone”, “Daylight”… singles não faltaram. Mesmo diferente, era um som bom de se escutar.
Então começou a queda ladeira abaixo. Em “V”, de 2014, apesar de hits como “Sugar”, “Animals” e “Maps”, a qualidade desabou. Era quase um som artificial, o que contrastava absurdamente, já que sobre os palcos a banda faz uma das melhores apresentações ao vivo da música atual. Só que hoje a galera de Los Angeles é uma das locomotivas comerciais do Pop, arrastando milhões de views no Youtube, de streamings nas plataformas digitais e de venda. A curva não pode ser desfeita.
Isso tudo explicado acima é para desaguar no fraquíssimo “Red Pill Blues”. A nova tendência são os encontros, onde artistas participam de álbuns de outros, uma tentativa de mesclar cada vez mais públicos cansados de sons semelhantes. O disco em si parece feito para convidados, com participações de Kendrick Lamar, SZA, Julia Michaels, LunchMoney Lewis e ASAP Rocky.
Mas sem nenhum grande momento, a sonoridade do CD é ruim. Extremamente eletrônico e com as batidas Pop que dominam (e cansam) as cenas comerciais de rádio e TV. Só que o mais decepcionante é não haver nenhum hit interessante, o que é muito preocupante. “Don’t Wanna Know” conseguiu algum sucesso, porém é muito abaixo dos grandes momentos do Maroon 5. Parece morrer o último resquício original de um dia: a força para criar singles.
O novo trabalho decepciona. Antes tivesse ficado apenas na polêmica política, mas até musicalmente polemiza. E gera uma reflexão: para onde irá o Maroon 5 no futuro?
OUÇA “RED PILL BLUES”