‘Minha Loja de Discos’ estreia nova temporada e visita Academy Records, em Nova Iorque
Estreia nesta segunda-feira (3),, segunda, com reprises ao longo de toda a semana, a série “Minha Loja de Discos”, no Canal Bis. Com entrevistas de Marky Ramone, Lee Ranaldo, do Sonic Youth, e Avey Tare, fundador Animal Collective, entre outros artistas, próximo episódio da temporada EUA da série mostra a cena musical da Nova York, da efervescência do punk nos anos 70 que influenciaria gerações de músicos à cena atual.
O movimento punk foi um fenômeno cultural que revolucionou a maneira de se pensar e fazer música. Apesar de ter encontrado grande repercussão em Londres, foi na cidade de Nova York que ele surgiu. A “Big Apple” dos fins da década de 1970, por onde circulavam bandas e artistas como Ramones, Blondie, Patti Smith e Talking Heads, que influenciariam gerações seguintes de músicos, era mais suja e decadente, bem diferente da metrópole sofisticada que conhecemos hoje.
A loja Academy Records, ponto de encontro de aficionados por música desde sua abertura, em 1977, é testemunha dessa transformação. Com sede original no Village, a loja é protagonista de outro fenômeno, a transformação do Brooklyn de bairro abandonado para super badalado desde que inaugurou sua filial lá. Através da trajetória da loja, este episódio da série Minha Loja de Discos desvenda as diferentes fases da cena artística e musical da cidade.
“Quando abrimos a atual filial no Brooklyn, uma das razões pela qual o dono do prédio e também de vários outros da região, alugou o espaço é que queria que a vizinhança mudasse de cara. E lojas de disco são a primeira opção para requalificar bairros e atrair pessoas ligadas à arte”, diz o dono, Mike Davis.
Marky Ramone (foto), ex baterista dos Ramones, Lee Ranaldo, do grupo Sonic Youth, Avey Tare (fundador Animal Collective) e novos nomes como as bandas Au Revoir Simone e Bear in Heaven são alguns dos entrevistados, que contam a história, do CBGB´s à cena atual da cidade. Lee Ranaldo comenta – “Um monte de gente se mudou para NY para se tornar pintor, cineasta e ou escritor e a maioria acabou virando músico. Houve uma época, no meio dos anos 70, que a música estava ficando grande demais. Shows enormes de rock de arena, e cada vez mais sem graça. E, repentinamente, quando estava terminando a escola, o punk rock explodiu”. O primeiro disco do Sonic Youth seria lançado logo depois, no início dos anos 80.
Russel Simmons, do grupo John Spencer Blues Explosion, habitué da loja que além de fiel comprador, leva os discos que não ouve mais para vender lá, diz – “Eu gostaria de acreditar que o punk rock nasceu na Inglaterra, mas todo mundo sabe que começou aqui. Toda hora tem uma banda nova surgindo no Brooklyn, como os Yeah Yeahs, Yeahs, por exemplo. Participei do último disco deles, que trazem o espírito do que eu considero ser uma banda de punk rock. Não fazem concessões”.
Lista completa de episódios e suas estreias, sempre às segunda, no Canal Bis
Reprises ao longo da semana: Terça, às 16h l Quarta, às 09h30 e 16h30 l Quinta, às 19h30 l Sexta, às 08h30 l Sábado, às 18h l Domingo, às 6h
Sobre a série
As mais influentes lojas de discos dos Estados Unidos e entrevistas com artistas como Moby, Johny Winter, Sonic Youth, Jeff Mils, Warpaint, Mark Ramone, Neville Brothers e Pixies são a grande novidade da programação do Canal Bis, a partir de 8 de setembro. Depois da primeira temporada focada no Reino Unido, a série documental Minha Loja de Discos, co-produção do canal com a Ton Ton Filmes, explora a diversidade musical americana, na maior produção brasileira feita sobre a música daquele país.
Com roteiro assinado por outros dois apaixonados por música, os irmãos Kika Serra, criadora do Caipirinha Appreciaton Society, o podcast brasileiro mais ouvido no mundo, e Pedro Serra, pesquisador musical e DJ, e edição e trilha sonora de Felipe David Rodrigues, a série de 13 capítulos fica no ar de 08 setembro a 01de dezembro, com um episódio semanal, às segundas, às 19h, e reprises durante a semana (quadro de horários abaixo). Foi integralmente produzida e filmada por Elisa e Rodrigo em quatro meses de gravação nos Estados Unidos.
“No País há mais de 3 mil lojas de discos, estabelecimentos capazes de mudar a paisagem urbana. São os primeiros a se instalar em bairros de aluguéis baratos. Em seguida, vêm um café na esquina mais próxima e músicos, mudando completamente a realidade local”, conta Elisa, que, com Rodrigo, esteve em 12 cidades americanas, de New Orleans a Honolulu, para traçar o perfil de 13 lojas de discos.
Na primeira temporada tiveram destaque paraísos do Reino Unido, como Sounds of the Universe e Phonica, em Londres, Jumbo Records, em Leeds, e Monorail, em Glasgow. E bandas como Portishead, Primal Scream, Gang of Four e Franz Ferdinand e Peter Hook, (Joy Division/New Order), e os consagrados novatos como Alt-J e Bat for Lashes revelaram como lojas de discos mudaram suas carreiras.
Desta vez, a série mostra a estreita relação entre lojas de discos e gêneros diversos como jazz, blues, techno, grunge e garage rock. Artistas como Animal Collective (indie), The Black Angels (psych), North Mississippi Allstars (blues rock), Moby (pop), Leviathan (black metal), ou o clássico Cyril Neville (funk) relembram como lojas como Aquarius, em São Francisco, ou Louisiana Music Factory, em Nova Orleans, continuam imprescindíveis às cenas locais.
Apesar dos tempos de mudanças radicais na indústria fonográfica com o avanço dos formatos digitais, para os jovens artistas as lojas de discos continuam sendo essenciais. “A Amoeba sempre nos tratou como heróis locais e deu enorme destaque ao nosso primeiro EP”, lembra a vocalista e guitarrista do Warpaint, Emily Kokal. Foi depois da demo, produzida por John Frusciante, ex guitarrista do grupo The Red Hot Chili Peppers, fazer sucesso na Amoeba que a banda explodiu em vendas no resto do país.
Já Black Francis, dos Pixies, é mais um apaixonado pelas bolachas, cujas vendas têm crescido vertiginosamente nos Estados Unidos – e no Brasil. “Eu trabalhava em um depósito quando chegou só a capa, enorme, do nosso primeiro disco, porque o vinil não ficou pronto a tempo. Naquele momento, quando vi a capa grande, pedi demissão”.
A série coloca o telespectador dentro das lojas. “Em Detroit, por exemplo, fomos à Somewhere in Detroit, loja fundada por um dos precursores do techno, Mike Banks”, conta Rodrigo. “Visitantes têm que marcar hora para ir, e, se tiverem sorte, podem ser atendidos pelo próprio Banks, um doce guerrilheiro da música eletrônica. Foi emocionante ver como aquele lugar é responsável por injetar esperança em uma cidade arrasada pelas sucessivas crises do capitalismo, mas marcada pela inovação da música eletrônica e da Motown”, complementa.
Já na vizinha Chicago, Minha Loja de Discos entrevistou a mais antiga geração de bluesmen nos Estados Unidos. “Foi interessante conviver por alguns dias com Tail Dragger, um bluesman típico, uma cara que chegou a ser preso, que toca em bares pequenos e tem dentes de ouro”, lembra Rodrigo. “Por outro lado, em Los Angeles, em conversas com Cut Chemist (Jurassic 5) e Ras G, pudemos mostrar o frescor da Beat Scene, do hip hop instrumental, que traduz uma LA multirracial, um outro retrato dos Estados Unidos de hoje”.
LA, por sinal, foi a única cidade a ter duas lojas incluídas na série, a Poobah e a Amoeba Music. “Los Angeles é a cidade da indústria audiovisual. Todo mundo por lá ou é músico ou é ator. Há muitas lojas e achamos que seria justo retratar mais de uma”, diz Elisa
Ficha técnica:
Direção: Elisa Kriezis e Rodrigo Pinto
Roteiro: Kika Serra e Pedro Serra
Edição e trilha sonora: Felipe David Rodrigues
Uma co-produção do Canal Bis com a Ton Ton Filmes