Mostra online apresenta repertório da CIA DOS À DEUX, premiada companhia franco-brasileira de teatro gestual

Há 23 anos, André Curti e Artur Luanda Ribeiro iniciavam na França uma parceria artística com a criação da Cia. Dos à Deux. Em mais de duas décadas, a premiada companhia franco-brasileira de teatro gestual arrebatou plateias em mais de 50 países. Com concepção, dramaturgia, cenografia e direção de André e Artur, sete espetáculos da companhia serão exibidos gratuitamente online na mostra Dos à Deux – A Singularidade de uma Trajetória, entre 8 e 14 de março, no canal da companhia no YouTube (bit.ly/dosadeux). O Governo Federal, o Governo do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura, através da Lei Aldir Blanc, apresentam Dos à Deux – A Singularidade de uma Trajetória.

A mostra Dos à Deux – A Singularidade de uma Trajetória apresenta a trajetória de mais de duas décadas de dois atores-criadores que têm seus corpos como objeto de pesquisa. As filmagens dos espetáculos foram feitas no dia da estreia de cada montagem: “Dos à Deux – 2º ato” (2013), “Aux Pieds de la Lettre” (2001), “Saudade em Terras d’Água” (2006), “Fragmentos do Desejo” (2009), “Ausência” (2012), “Irmãos de Sangue” (2013) e “Gritos” (2016).

Após exibição de cada espetáculo, no próprio canal da companhia, os diretores vão conversar ao vivo com artistas convidados que participaram da criação das obras, como o ator Luis Melo, a marionetista, cenógrafa e artista plástica russa Natacha Belova e o músico português Fernando Mota, responsável pela dramaturgia musical dos espetáculos da Cia. Dos à Deux.

“Era um desejo nosso compartilhar com novos públicos esses trabalhos, principalmente os mais antigos. É um momento propício para mostrar um panorama da nossa trajetória em formato online”, diz Artur Luanda Ribeiro. “Cada trabalho foi um pulo para o próximo, todos têm um link, todos falam da exclusão do homem”, ressalta.

Como parte do projeto Dos à Deux – A Singularidade de uma Trajetória também está programada a realização do workshop gratuito e online “A Poesia do Cotidiano – Presença/Corpo/Precisão”, entre os dias 16 e 19 de março, via plataforma Zoom. Artur e André vão compartilhar a pesquisa desenvolvida por eles sobre movimento, linguagem do gesto e teatralidade. Será um espaço para um contato prático e direto com as técnicas criadas pela Cia. Dos à Deux.

OS ESPETÁCULOS

DOS À DEUX – 2º ato (2013) – Artur e André recriam o espetáculo original de 1998, com interpretação de Guillaume Le Pape e Clément Chaboche. Sem palavras, essa peça têm seu tema e seus personagens, Didi e Gogo, emprestados da obra de Beckett “Esperando Godot”: uma espera sem fim, na qual dois clowns lunares erram com uma poesia e ternura raras. Sozinhos no mundo, eles esperam alguém que não virá jamais. Durante esse tempo suspenso, encontram jogos absurdos, brigas sem fim, achados tenros, para tentar preencher o silêncio. Do riso ao suspiro, esses seres infantis se sustentam, se empurram, se portam e se suportam. Eles avançam, rodopiam, não há nada a fazer, apenas esperar, nesse espaço “vasto suficiente para buscar em vão, e suficientemente restrito para que toda fuga seja em vão”. Esse duo burlesco explora com energia a construção original de uma linguagem teatral e gestual.

AUX PIEDS DE LA LETTRE (2001) – Como abordar o tema da loucura? Como evocar o confinamento? Como mergulhar no universo psiquiátrico? Como transportar para o palco a poesia das pequenas loucuras solitárias, das manias, das digressões desse universo? André e Artur partiram desses questionamentos após uma imersão de dois anos no hospital psiquiátrico Marcel Rivière, nos arredores de Paris, para criarem um espetáculo gestual que navega entre a poesia, o burlesco e o absurdo. Com mais de 350 apresentações pelo mundo desde a sua estreia em 2002, a peça oscila entre a tragédia e a comédia, plena de emoções, ternura e risos inesperados. A peça recebeu prêmio de melhor espetáculo no Festival Internacional do Kosovo e no Festival Mindelact, em Cabo Verde.

SAUDADE EM TERRAS D’ÁGUA (2006) – Embarcar, desviar, provocar, a peça nos conduz ao exílio forçado de uma família.  A história de uma mãe e seu filho, habitantes isolados no meio do mar. Personagens que vivem uma existência simples, quase arcaica. Preocupada com a continuidade dessa vida, a mãe parte em busca de uma mulher para seu filho. A esposa vem de uma terra distante. Os três aprendem a se conhecer e vão construindo seu espaço. Aos poucos, uma relação de afeto certamente nascerá entre eles. Nada devia perturbar esse equilíbrio conquistado, mas, progressivamente, a água que os cercava desaparece e se transforma em terra. A família não tem mais como se alimentar e deve partir. A viagem é longa e os conduz para longe de casa. Eles vão viver a espera, a esperança, mas também o desespero. Espetáculo vencedor do prêmio do público no Festival de Avignon (França), em 2005.

FRAGMENTOS DO DESEJO (2009) – Como viver a diferença? Qual é a necessidade de ser você e ser diferente? A peça retrata a história de quatro personagens que as vidas entrelaçadas narram a dificuldade de ser. Em cena, os dois atores/diretores, mais os atores Maya Borker e Matías Chebel, dão vida a alguns  personagens – o pai, o filho Angelo/Angel, a governanta Olga e o cego Orlando – cujas histórias contadas de forma não-linear se cruzam por meio de desejos, conflitos, culpas e segredos. Há vários anos, pai e filho jogam a mesma partida como um ritual de uma conversa sem palavras. Olga, a governanta da casa, observa os segredos e os não-ditos. Angel canta em um cabaré. Orlando é um personagem que foi completamente cativado e hipnotizado por essa voz. Sempre vai ao cabaré para ouvir a mágica voz pela qual se apaixonou. Com certeza é a mulher mais linda que já ouviu. O espetáculo equilibra-se entre dois abismos: o da necessidade de dizer quem somos e o do desejo. Em 2010, a peça ganhou o Prêmio Shell de Teatro (categoria Especial).

AUSÊNCIA (2012) – Solo com o Ator Luis Melo. Em algum lugar do mundo, uma cidade vazia, apocalíptica e decadente foi devastada pela radioatividade. Sem água ou energia, o protagonista vive confinado no último andar de um arranha-céu. Sua única companhia é seu peixe vermelho, que vive em um aquário. Nesse contexto caótico, sob a constante invasão de ratos que tomaram a cidade e do ar irrespirável que lhe exige o uso da máscara de oxigênio até para abrir a janela, o homem vive recluso em seu mundo singular. O cenário, assinado por Fernando Mello da Costa, é um ambiente hostil, recortado por um emaranhado de canos e registros que se cruzam em todas as direções para fornecer ao protagonista a assustadora ração diária de apenas uma gota d’água por dia. O personagem enfrenta constantemente a solidão, a escassez e o confinamento, transitando em uma linha tênue entre a sanidade e a loucura.

IRMÃOS DE SANGUE (2013) – Em cena, André Curti e Artur Luanda Ribeiro conduzem uma coreografia gestual precisa ao lado dos atores Cécile Givernet e Matias Chebel. Em uma atmosfera onírica, a peça investiga os laços fraternos, as memórias e os conflitos que marcam a convivência familiar. A história se passa no centro das relações entre três irmãos e sua mãe, alternando momentos entre o passado e o presente. No cenário, o minimalismo foi trabalhado de forma orgânica e mutável por Curti e Ribeiro. Poucos elementos materiais, como uma mesa e uma grande gangorra, evocam memórias fraternais e a presença da mãe. Como nas criações anteriores, a música original de Fernando Mota se funde na dramaturgia gestual, sublinhando o não-dito e o amor fraternal incondicional. A peça foi vencedora do Prêmio Shell de Teatro, nas categorias cenário e ator para André Curti e Artur Luanda Ribeiro.

GRITOS (2016) – Em uma atmosfera onírica, a peça é formada por três poemas gestuais metafóricos criados a partir de um tema: o amor. Os poemas que compõem “Gritos”são revelados por meio de uma partitura gestual sutil e minuciosa. Inspirada em temas da atualidade, a dramaturgia foi criada durante o processo de pesquisa e de criação artística. As pessoas invisíveis na sociedade, o preconceito, o desprezo, os refugiados a guerra e o amor permeiam os três poemas gestuais – os três gritos. A cenografia é uma instalação plástica composta por estruturas de colchões de mola, que vão se transformando em objetos insólitos ao longo da peça. “Gritos” foi indicado em 20 categorias nos pricipais prêmios de teatro do Brasil. Foi premiado nos prêmios Shell de Teatro (cenário),Cesgranrio de Teatro (iluminação e cenografia) e APTR (iluminação, direção e melhor espetáculo)

CIA. DOS À DEUX

Artur Luanda Ribeiro e André Curti se conheceram durante um festival em Paris, em 1997, e decidiram começar juntos uma pesquisa teatral e coreográfica, tendo como inspiração a obra “Esperando Godot”, de Samuel Beckett. Um ano mais tarde, em 1998, nascia o primeiro trabalho, “Dos à Deux”, peça que deu nome à companhia e já foi apresentado em quase todos os países da Europa, além da África, América do Sul, Coreia do Sul e na Índia. Em 2015, depois de mais de duas décadas morando na França, a Cia. Dos à Deux passou a ter uma sede no Rio de Janeiro. O lugar é um espaço de criação para a companhia, mas também está aberto a intercâmbios, residências artísticas e workshops.

A Cia Dos à Deux já percorreu cerca de 50 países, somando mais de 2.000 apresentações por toda a Europa, África Central, Ásia, Polinésia Francesa, Emirados Árabes e América do Sul. O repertório é formado por: “Dos à Deux” (1998), “Aux pieds de la lettre” (2002), “Saudade em terras d’água” (2006), “Fragmentos do desejo” (2009), “Ausência” (solo com Luís Melo, de 2012), “Dos à Deux – 2º ato” (2013) “Irmãos de sangue” (2013) e “Gritos” (2016).

Site: www.dosadeux.com

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