Nada de política, Lobão ataca do mais puro rock’n’roll

 

LB3

O baterista que abandonou o maior fenômeno pop desde o movimento da Jovem Guarda (a BLITZ) no auge do sucesso, para investir na divulgação do seu primeiro disco solo (“Cena de Cinema”). Um dos grandes nomes dos anos 80. O primeiro artista da sua geração a flertar com a MPB (gravou com Elza Soares e Nelson Gonçalves). Ritmista da Estação Primeira de Mangueira. Baluarte em romper com todas as grandes gravadoras e se lançar como independente. Visionário ao ser o primeiro a vender seus CDs em banca de jornal, juntamente com uma revista que lançava novos talentos, como os trabalhos de estréia de bandas como B Negão e os Seletores de Frequência, Mombojó e Cachorro Grande.

Guerreiro em sugerir mudanças nas leis de arrecadação de direitos autorais no Brasil, assim como a numeração na venda de CDs. Uma discografia incrível, com discos clássicos como “Lobão e os Ronaldos”, “O Rock Errou”, “Vida Bandida”, “A Vida é Doce” e o “Acústico MTV” (vencedor do Grammy Latino).

Nada disso parece pertencer a imagem de Lobão nos dias de hoje frente às novas gerações e até perante muitos dos seus fãs antigos. Arrogante, opiniões controversas, desafetos diversos, lançamento de livros com conteúdo polêmico, colunista da revista Veja, delator e oposicionista radical do Governo Federal, HANGOUT semanal com o conservador ferrenho Olavo de Carvalho, reacionário. Assim é conhecido…

Música? Desde “Canções Dentro da Noite Escura” (2005) não lança um conjunto de canções autorais. Apenas músicas aleatórias, apesar de manterem o seu já conhecido padrão de qualidade. E que ficam a sombra da imagem PESSOAL consolidada atualmente. Uma pena… Porque nesse sábado (25/04), no palco do Circo Voador, o velho lobo mostrou que está em plena forma!

O formato de “power trio” contribuiu para uma sonoridade pesada, mais crua. Escolha perfeita do repertório, como em duas sequências matadoras: as 4 pérolas do álbum “A Vida é Doce” tocadas na ordem (“El Desdichado II”, “Mais uma Vez”, “Vou te levar” e a matadora faixa-título), e várias de suas pungentes baladas, como o lado B “Abalado”, “Das tripas coração”, “Por tudo que for”, “Noite e Dia”, a parceria com Cazuza “Mal Nenhum”, e o clássico absoluto da dor de cotovelo “Me Chama”.

O público, que não compareceu em grande número talvez pela chuva, ou por uma semana repleta de feriados na cidade, vibrava ferozmente, fazendo barulho de multidão! E Lobão tem clássicos para dar e vender. E toma “Vida Bandida” (onde o trocadilho DILMA BANDIDA foi o único momento político da apresentação), “Radio Blá”, “Essa Noite Não”, “Vida Louca Vida” (pesadíssima, fazendo nos sentir no festival MONSTERS OF ROCK, sendo realizado na cidade de São Paulo com ícones como KISS, JUDAS PRIEST e OZZY OSBOURNE), “Decadence Avec Elegance”, “Canos Silenciosos”

A grande “encore” com uma versão matadora de “Help” dos BEATLES, e um dos seus primeiros sucessos, “Corações Psicodélicos”, levou a lona voadora ao delírio! A grande fila de admiradores após o show no camarim, onde o velho lobo atendia a cada um individualmente com sorriso no rosto, deveria ter as imagens divulgadas juntamente com o show. Além de ser boa praça, Lobão ainda afia as suas garras com um belíssimo e vigoroso espetáculo, recheado de grandes momentos. Ruge sim, mas é dócil como um cordeiro. Público brasileiro, entendam isso… E a música SIM, ainda é o fator primordial.

Texto de Alessandro Iglesias

Fotos de Milena Calado e Bruna Melo “Pelúcia”

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