‘Narcos’ prova mais uma vez que não precisa apenas do Pablo Escobar

Diego Luna brilha como Miguel Angel Félix Gallardo

Ao final da segunda temporada, na tão aguardada morte do traficante colombiano Pablo Escobar, a grande dúvida dos fãs da série “Narcos” era como ela sobreviveria sem o seu personagem inspirador. Na terceira o Cartel de Cali foi destaque, mas sem um nome como o centro de ações. Agora, na mais nova, lançada nesta sexta-feira (16) pela Netflix, os roteiristas voltam a girar a narrativa sobre um só homem e cativar o espectador. Com um núcleo focado no narcotraficante mexicano Miguel Angel Félix Gallardo (Diego Luna), há fôlego novo e todos os ingredientes que fizeram a produção ser um sucesso.

(O texto a seguir pode conter algum tipo leve de spoiler, mas que não revela a trama)

Na temporada anterior, a grande reclamação dos fãs mais radicais – e até de parte da crítica especializada – era de que “Narcos” tinha perdido um pouco da intensidade sem um personagem tão emblemático e centralizador das ações como Pablo Escobar. A maior prova é que nesta de agora, El Patrón reaparece, junto com seus rivais de Cali, durante um dos episódios. Acaba sendo quase um ritual de passagem de bastão, já que fica a cargo do Félix tocar o terror a partir de agora.

Chamado de “El Padriño”, o traficante foi responsável por formar o Cartel de Guadalajara na década de 1980, controlar quase todo o tráfico de drogas no país e os corredores de comércio ilegal ao longo da fronteira México/Estados Unidos. Só por isso a sua história já cativa um bom roteiro, mas a série fez melhor: resolveu entregar o personagem ao excepcional ator Diego Luna e narrar sua trajetória desde jovem.

Luna é um dos maiores talentos do cinema mexicano. Ficou ainda mais popular recentemente, quando ao lado da também fantástica Felicity Jones, foi protagonista do spin-off “Star Wars – Rogue One”, em 2016, como Cassian Andor. Diego tem todos os trejeitos do anti-herói que a série pede. Carismático, com expressões fortes, excelente atuação e, claro, um sarcasmo que faz o espectador torcer pelo bandido.

E desta vez, por se tratar do México, a Netflix não quis apostar em atores estrangeiros. A esmagadora maioria do elenco é formada por atores do próprio país, o que dá ainda mais verossimilhança ao roteiro. A questão dos sotaques, agora, soa natural. Inclusive com expressões e gírias que não ganham entonações forçadas.

O elenco é afiadíssimo e faz um trabalho brilhante. “Narcos” jamais teria tanto sucesso se não fosse a boa seleção dele. As novas faces ganham atuações que alavancam a série, casos do agente do DEA Kiki Camarena (Michael Peña), a grande participação do parceiro Dom Neto (Joaquín Cosio), a fuga do estereótipo de mulher sensual da misteriosa Isabella (Teresa Ruiz) e o temperamental Rafael Caro Quintero (Tenoch Huerta).

A maneira como eles vão sendo incorporados e interagindo também é um ponto positivo. As histórias vão acontecendo de maneira natural e, até porque conhecemos bem o que aconteceu na Colômbia por conta das temporadas anteriores, fazendo um paralelo de como tudo isso se encaixa.

O roteiro é um caso à parte. Apesar de ótimo, traz elementos déjà vu que talvez seja a parte tangente às críticas. Ele repete a fórmula das anteriores, com políticos e polícia corrupta, ascensão dos cartéis, os americanos na jogada… parece um velho filme com novos personagens. Às vezes, isso cansa quem assiste, justamente por já tê-lo visto diversos momentos da trama. Mas para por aí.

Por tudo isso, a produção garantiu, pelo menos, mais uma temporada com o nível elevado de interesse. Mesmo com Pablo Escobar “fazendo uma ponta” desta vez, com trocadilho, a Netflix provou que não precisa exclusivamente dele para o sucesso da produção.

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