‘Narcos’ traz críticas a governos, embaladas por História e fotografia cinematográfica
Lançada nesta sexta-feira, 28, a nova série da Netflix, ‘Narcos’, tenta fazer um perfil mais fiel possível das devastações sociais que o tráfico de drogas causou na América Latina e Estados Unidos no final do século XX. Já na abertura do primeiro episódio ela mostra que vem carregada de críticas e indiretas aos governos, principalmente norte-americano, lembrando os casos de espionagem e descaso com as drogas. José Padilha mais uma vez apresenta seu perfeccionismo em descrever a História, baseada em fatos reais mas reproduzido de forma fictícia, misturando ação e emoção.
Certamente os amantes de séries como CSI, Criminal Minds, The Killing e afins até se identifiquem com a personalidade “polícia vs bandido via investigações” destas produções, mas serão os aficionados por Tropa de Elite e Wágner Moura que vão se tornar apaixonados pelo trabalho. Não que eles tenham ligações, com exceção ao caso do tráfico, mas pela linguagem que Padilha incorpora às suas temáticas.
Apesar de sua direção, José não é um dos roteiristas da série. Mas poderia ser. Os episódios são repletos de esclarecimentos históricos e profundas críticas sociais. Já no episódio inicial lembram que o Governo dos Estados Unidos, capitaneados pelo presidente Richard Nixon (1969-1974), apoiaram golpes militares pela América do Sul. Fazem menção a Pinochet, ao descontrole político e social no continente, além da devastadora entrada da cocaína na América do Norte.
Apesar de o inglês ser a língua oficial, na maioria do tempo o espanhol domina. E nesta linguagem, Wágner Moura se sai muito bem. Vivendo um ano em Medellín às custas de aprender os trejeitos e sotaques locais, o intérprete de Pablo Escobar carrega a aura de uma estrela consagrada num personagem mítico. E dá show. Moura é o Brasil que deu certo. Se antes todos o ligavam ao Capitão Nascimento que tentava consertar o sistema, agora ele é o colombiano frio e calculista que faz parte dele. Wágner é brilhante e novamente se reinventa em meio a tantos bons atores, como Pedro Pascal, que dá vida a Javier Peña.
O drama social que descreve o contexto do mundo das drogas, como a polícia corrupta e sociedade refém dos traficantes, são familiares a José Padilha. Até bandido “voltando pro saco” a espera da sua confissão como em “Tropa”, tem. Sem dúvidas que vem daí a direção cinematográfica da série. Com enquadramentos na maioria das vezes em close, valorizando a expressão de cada personagem, o diretor consegue inserir o espectador não só aos anos 80, como revelar a influência latina na produção. Está no Netflix, mas poderia estar em Hollywood.
O roteiro, encadeado a cada movimento que gerou a bola de neve que assolou o Miami, Colômbia e quase toda a América, traz à tona um dos momentos que dividiram para sempre a História dos países. Bem narrado e com bastante intensidade dos fatos, a série devora cada minuto de quem assiste sem que ele perceba. Talvez haja ressalvas quanto aos sotaques e trejeitos específicos, principalmente de nativos colombianos, já que mexicanos e brasileiros incorporam personagens da Colômbia. Mas isto vira detalhe no todo.
Se você procura uma nova série viciante da Netflix, como as de costume norte-americano, com certeza não vai encontrar. ‘Narcos’ está muito além de uma série que tenta entreter o assinante, ela te faz refletir sobre tudo o que passou com bastante aproximação do realismo daquele período e todo um desenvolvimento que poderia estar facilmente em qualquer sala de cinema.
Não assista esperando ver ‘Tropa de Elite’. Muito menos ‘Lie To Me’. Você não vai achar o Capitão Nascimento, mas encontrar Pablo Escobar. Se vai ser um sucesso, o tempo dirá. Mas já é mais um marco nas produções On Demand.
Classificação: Excelente