“Nerium Park”estreia este mês no Teatro Glaucio Gill

Inédita no Brasil, a peça “Nerium Park”, do dramaturgo e diretor catalão Josep
Maria Miró, ganha uma montagem dirigida por Rodrigo Portella (de “Tom na
Fazenda” e “Insetos”). A falência do sonho de uma classe emergente, o
desemprego e a crise imobiliária são apenas alguns dos temas que rodeiam a
vida de um casal isolado num condomínio nos arredores de uma grande cidade.
Idealizador do projeto, o ator Rafael Baronesi buscava um texto para montar
quando decidiu entrar em contato com Miró, que lhe enviou cinco peças. A
conexão com a história de “Nerium Park” foi imediata. Baronesi divide a cena
com a atriz Pri Helena, da Cia Cortejo. O espetáculo estreia em 18 de agosto, no
Teatro Glaucio Gill, com direção de produção de Rogério Garcia. A obra foi
traduzida por Daniel Dias da Silva, que dirigiu e traduziu “O Princípio de
Arquimedes”, texto de Miró encenado em 2017, no Brasil.

 

Em cena, Miguel e Malu são um casal de classe média em busca de qualidade de
vida e da possibilidade de construir uma família longe da loucura da cidade. A
compra de um apartamento no condomínio Nerium Park, um empreendimento
residencial, parece ser a tradução desse sonho. Mas o entusiasmo inicial do
casal com o conforto e o espaço da nova casa, com piscina e um parque, vão
desaparecendo à medida em que os meses se passam e ninguém mais se muda
para os prédios. É como se eles vivessem em uma cidade fantasma. A crise
econômica e o desemprego afastam os possíveis compradores, e Miguel e Malu
se veem isolados dentro de um estilo de vida que parecia perfeito para eles.
Porém, quando uma terceira pessoa aparece no condomínio, a trama ganha um
outro sentido.

Escrita em 2012 e montada em dez países, “Nerium Park” é um suspense que se
desenvolve em 12 cenas, cada uma correspondendo a um mês do ano.  O título
faz referência ao Nerium Oleander, nome científico de um arbusto ornamental e
tóxico, conhecido, no Brasil, como espirradeira. “Essa peça fala, entre outras
coisas, da solidão dos dias atuais. Cada vez vivemos mais sozinhos, numa
dimensão individual e virtual. Estamos esquecendo de conviver de fato com as
outras pessoas”, destaca Baronesi, idealizador do projeto. “Tem outro tema que
a peça aborda, e que me interessa muito, se resume na seguinte pergunta: o que
eu sou capaz de fazer no meu dia a dia para tornar a vida um pouco melhor para
o outro?”, completa.

“O eixo central da peça gira em torno da falência do velho projeto de vida
baseado na ideia do ter, na aparência, no acúmulo de bens, numa vida
individualizada, privada, plastificada, higienizada, territorializada e que está
mais comprometida com o futuro do que com o presente. A peça também
aborda a crise do masculino diante da revolução do feminino, apresentando
uma inversão de papeis que contraria o sistema patriarcal que vivemos”, destaca
Rodrigo Portella. “As novas gerações não têm mais o sonho da casa própria, não querem mais ter carros, um casal de filhos e um único emprego fixo. Elas
querem viajar, conhecer pessoas, criar e empreender. A relação falida desse
casal é o espelho de uma camada da sociedade ocidental, que ainda não enxerga
as transformações pelas quais o mundo está passando, por isso ainda destrói
com o que é real (e natural) para construir pequenos e falsos paraísos”, diz o
diretor.

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