Nova exposição de Denise Araripe estreia no Rio

Intervenções, reinterpretações, ressignificações, misturando Manet e os Jetsons, Matisse e os Smurfs, Van Gogh e Roy Lichenstein. Num tempo em que o compartilhamento veloz de informações é a regra, a palavra de ordem, como ficam os tradicionais limites da propriedade intelectual?

Esta é a questão que guia a mostra ELE NÃO ESTÁ AQUI, trazendo dez telas de Denise Araripe à Galeria Coleção de Arte, no Flamengo, a partir de 25 de agosto.

Nelas, a artista faz uma releitura de obras conhecidas como a Infanta Margarida, de Velásquez, o Nu Azul de Matisse, o Quarto em Arles de Van Gogh e a Olimpia de Edouard Manet. Como espinha dorsal, a ideia de que a arte propõe novos pontos de vista, novas perspectivas. “O mundo é o quintal de casa; a cultura nunca esteve tão viva e tão híbrida; não é possível partir do zero absoluto na criação do novo”, argumenta Denise.

Uma das telas de Denise recupera o personagem Bert, the Turtle, aqui aplicado sobre a bandeira americana – esta, uma citação da obra de Jasper Johns, um dos artistas mais importantes do pop art nos anos 60 e 70, período em que a arte dos Estados Unidos se firma como referência mundial. Bert é protagonista do cartoon americano produzido nos anos 50, cujo propósito era ensinar às crianças o que fazer em caso de um ataque nuclear – “Duck and cover” (Abaixar-se e se cobrir) eram as “inocentes” instruções para a defesa pessoal no caso da explosão de uma bomba atômica.

“Acredito que essas instruções podem fazer um paralelo ao que se está propondo em relação à defesa da propriedade intelectual”, volta a explicar Denise. “Não adianta remar contra a corrente: hoje toda a produção artística, liberta de seus suportes físicos, corre sem barreiras pela internet”.  No quadro que reinterpreta uma tela de Karel Appel, um artista do grupo COBRA, Denise aplica o texto da carta enviada por um grupo de artistas para o Congresso americano em janeiro deste ano, preocupados com projetos como Stop Online Piracy Act (SOPA) e Protect Intellectual Property Act (PIPA)[1].

Artista carioca com longa trajetória no Brasil e no exterior (recentemente definida como “neo-pop” pelo curador Paulo Sérgio Duarte), Denise Araripe vem desenhando sua carreira em ciclos temáticos bem definidos, como o das bonecas, em que discutia o feminino – ela sempre enovela fortemente seu trabalho visual à reflexão pelo viés cultural – e, desde o ano passado, o debate a respeito da propriedade intelectual.

Mais informações em www.deniseararipe.com.br