O Belo Indiferente, de Jean Cocteau, chega ao Rio

Edith Piaf (1915-63) conheceu Jean Cocteau (1889-1963) em um jantar. Ficou maravilhada com o “príncipe dos poetas” e pediu que ele lhe escrevesse uma música. Cocteau acabou produzindo uma peça baseada na relação da cantora com o ator Paul Meurisse (1912-79), um homem que passa o dia lendo o jornal enquanto a indiferença atormenta sua mulher. 

O Belo Indiferente é um monólogo com dois personagens: a cantora e seu amado. Ela fala e ele se cala. Durante a madrugada, uma cantora (Djin Sganzerla) espera seu amor em um quarto de hotel. Luzes dos letreiros luminosos da rua iluminam a cena. Ela anda agitada, espreita pela janela, telefona para amigos comuns, ouve passos no corredor e ruídos no elevador. Quando finalmente chega, o amante enigmático (Dirceu de Carvalho) anda tranquilamente pelo quarto e, em silêncio, lê seu jornal. Ela tenta por todos os meios atrair sua atenção, mas nenhuma estratégia parece suficiente: ironia, raiva, sedução, ameaças. Será que ele quebrará esta indiferença silenciosa? Ela grita, ri, chora, troca de roupa, ameaça-o com um sapato, acusa-o de mentiroso. A madrugada segue vertiginosamente, até um desenlace inesperado. Em cena um caleidoscópio de cores e som é criado, através de luzes, vídeo projeções e uma instalação sonora.

A peça se desenvolve dentro de uma instalação criada por Simone Mina, também responsável pelos figurinos, e uma instalação sonora, criação de Gregory Slivar, se espalha na cena. Nada menos que um quarto de hotel, iluminado por neons, como os letreiros de boates, em que também há projeções de imagens, expressões da memória e dos devaneios da personagem, em uma vídeo-instalação criada por André Guerreiro Lopes. Enquanto parte do público ouve ruídos característicos de um hotel, como vozes ou barulho de elevador, outra parte escuta sons que evocam o universo interior da protagonista. Inspirado em cantoras de cabaré e divas da música, o figurino combina ao mesmo tempo sensualidade e fragilidade, vaidade e loucura, elegância e decadência, espelhando a personalidade da protagonista. O homem, o ser amado, tem uma caracterização não realista, inspirada em desenhos, fotos e filmes de Cocteau como O Sangue do Poeta e O Testamento de Orfeu e em desenhos de Picasso sobre o amigo francês.

Escrita por um dos mais originais artistas franceses de todos os tempos, Jean Cocteau, O Belo Indiferente estreou em Paris em 1940 com atuação de Edith Piaf, para quem a peça foi escrita. Cocteau mostra a fúria verborrágica de uma cantora de cabaré, ignorada por seu amante calado, o que causou alvoroço no público da época. Traduzida para todas as línguas, o texto foi encenado por grandes atrizes de todo o mundo.

Pouco montado no Brasil, O Belo Indiferente ganhou nos anos 80 e 90 atuações marcantes como as de Helena Ignez, Glauce Rocha e Maria Alice Vergueiro e carece de releituras contemporâneas, que levem o riquíssimo universo de Cocteau ao público de hoje.

Esta é a terceira vez que Helena Ignez faz a peça O Belo Indiferente. “A primeira vez que fiz foi no Teatro Castro Alves, em Salvador, nos anos 1980. Eu atuava e o Rogério Sganzerla dirigia. Nos anos 1990, fiz uma montagem de teatro-dança. O que é moderno sempre será, independente da década. É um desafio adorável”, revela Ignez que agora dirige a filha.

O Belo Indiferente estreia no dia 24 de agosto no Teatro Ipanema, onde fica em cartaz, sextas e sábados às 21h e domingos às 20h, até o dia 2 de setembro. No dia 14 de setembro reestreia no Teatro Dulcina, onde fica em cartaz, de sexta a domingo às 19h, até 30 de setembro.

 

“Djin circula pelo ambiente de atmosfera vintage como um misto de personagem de desenho animado (iluminada pela diversidade de cores) e heroína trágica prestes a dar cabo da própria vida”, analisa o crítico Dirceu Alves Jr., da Veja São Paulo.

“Preste atenção na atriz, de corpo e rosto de belezas angelicais, mas um furacão tecnicamente impecável na modulação do olhar clamoroso e da voz visceral ou dissimulada ao telefone”, recomenda o crítico Valmir Santos, da Revista Bravo!

 

SERVIÇO

1ª temporada – Teatro Ipanema: Estreia dia 24 de agosto, sexta-feira, às 21h | Teatro Ipanema. Rua Prudente de Moraes 824, Ipanema | Informações: 2523-9794 | Bilheteria: 16h/20h (ter. a dom.) | Temporada: Sexta e sábado às 21h; domingo às 20h | R$ 20,00 (inteira) | 55 minutos | 12 anos | Até 2 de setembro.

2ª temporada – Teatro Dulcina: Reestreia dia 14 de setembro, sexta-feira, às 19h | Local: Teatro Dulcina – Rua Alcindo Guanabara 17, Cinelândia | Informações: 2240-4879 | Metro Cinelândia | Bilheteria: 14h/20h (qua. a dom.) | Temporada: 14 a 30 de setembro, de sexta a domingo às 19h | R$ 20,00 (inteira) | 55 minutos | 12 anos | Até 30 de setembro.

 

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