O harpista Jonathan Faganello fala sobre seu trabalho em entrevista exclusiva à Cult Magazine
Essa semana, nós tivemos a oportunidade de bater um papo interessantíssimo com o harpista Jonathan Faganello, que faz um trabalho incrível misturando o som da harpa com o do heavy metal, criando uma explosão de sensações a todos que podem apreciar sua música. Um show de técnica e muita criatividade. Leia a entrevista completa!
Jonathan, muitos já sabem que a sua iniciação na música foi bem cedo, mas como exatamente foi a sua escolha pela harpa?
Meu primeiro contato com a música foi aos seis anos. Na época estudava violino na antiga escola de música de Rio Claro, Fábio Marasca. Por ser muito novo, não me empenhava tanto no aprendizado. Na realidade, minha mãe tinha esperanças de que a música iria me fazer bem, já que na época eu era meio “pavio curto” e ela procurava algo que pudesse melhorar meu comportamento, então, com certeza minha escolha foi a princípio por influência dela e até hoje eu a agradeço por isso.
Agora, o que é mais curioso, a harpa não é um instrumento popular aqui no Brasi, como você fez para aprender a tocar?
Aos 11 anos, por incentivo da minha mãe, me inscrevi no curso de harpa paraguaia oferecido pelo Centro Cultural de minha cidade. Além de me apaixonar pelo instrumento musical, tive o prazer de conhecer o professor argentino José Antonio Britez, o qual me orientou por seis anos e me ensinou a confeccionar harpas. No começo não foi fácil, demorei pouco mais de um ano para ganhar minha primeira harpa paraguaia e nesse tempo, o único contato que tinha com o instrumento era nos dias em que tinha aula.
E em relação ao seu gosto pelo heavy metal, foi por influência de alguém?
Sim, meu primo Júnior. Ele me emprestou dois CDs do Iron Maiden (Powerslave e Live After Death) quando eu tinha por volta de 11 anos de idade.
De onde surgiu a ideia de tocar um som que, já é mais “agressivo”, num instrumento tão clássico como a harpa?
A princípio, por só tocar músicas típicas da harpa paraguaia (guarânias, polcas), meus amigos da escola ficavam brincando que eu tocava sempre a mesma música, então tive a ideia de fazer algo diferente e a primeira musica que toquei foi “Que País É Esse?” do Legião Urbana. Vendo a aceitação do público e a minha satisfação de tocar algo que eu gostava no meu instrumento, comecei a tirar novas músicas do gênero, e a seguinte foi “Fear Of The Dark” do Iron Maiden.
Quais as suas maiores referências musicais? Queria que você citasse tanto do heavy metal quanto harpistas no qual você admira.
Adoro inúmeras bandas de Heavy Metal, como Iron Maiden, Rhapsody of Fire, Nightwish, Sonata Arctica, Hammerfall, Helloween, Angra entre muitas outras. E também admiro muito o trabalho de vários harpistas do Brasil, como Vanja Ferreira, Hélio Leite, Marcelo Penido, Silas Lima , Angélica Vianna (os quais tenho o imenso prazer de conhecer) e também outros harpistas do mundo, como Deborah Henson, Helga Stork e Nicolasito Caballero, por exemplo.
Várias pessoas te admiram não só pelo estilo que você toca, mas também pelo belo trabalho que você executa. Como você encara isso? Acha que essa mistura de música erudita com o heavy metal contribuiu para uma melhor divulgação e valorização do trabalho dos harpistas?
Fico muito feliz! É maravilhoso saber que meu trabalho agrada e faz bem a tantas pessoas. Sinto-me honrado e abençoado por poder realizar isso. Acredito que a fusão do heavy metal com a música clássica contribui muito para transpor barreiras, mas também tem muitos outros harpistas pelo Brasil que realizam trabalhos maravilhosos com MPB, Choro, Samba… Isso com certeza também traz uma grande valorização do nosso trabalho, quebrando o estereótipo de que harpa é apenas um instrumento para orquestra.
Você também gosta de tocar para crianças e em hospitais. Como e por que você começou a realizar esses trabalhos?
Em 2008 estava morando na cidade de Presidente Prudente / SP, onde cursava Educação Física na UNESP. Porém, minhas aulas eram apenas no período da manhã, e como eu ficava com a tarde livre, senti que nesse tempo poderia fazer algo pelas pessoas que estão passando por um momento difícil. Fui até a Santa Casa e conversei com a assistente social sobre minha intenção de levar a música às pessoas internadas. A cada 10 dias eu ia ao hospital, onde passava a tarde tocando na pediatria, nos setores de coronária e hemodiálise, nos leitos coletivos e até mesmo na UTI (devidamente vestido, com toca e máscara). Em um desses dias ouvi de um senhor a seguinte frase: “Hoje você me provou a existência de Deus e que os anjos também existem”. Só posso dizer que depois disso minha vida já valeu a pena! Ainda hoje, mesmo com os horários mais apertados, tento na medida do possível visitar hospitais, orfanatos e asilos.
Além da carreira solo, você concilia mais dois projetos, que são o “Burning Symphony” e o “Celtic Charms”. Como você foi conquistando público ao longo do tempo?
Sempre gostei de interagir com o público, sou de sorriso fácil e isso sempre foi algo que marcava minhas apresentações. Por mais que as músicas que eu tocasse fossem comuns e simples, eu sempre tocava com uma paixão enorme, e o público sentia isso, sentia a energia positiva.
Você tem vontade de se apresentar em parceria com algum músico que ainda não teve a oportunidade?
Se é pra sonhar, vou sonhar alto (risos). Meu maior sonho seria tocar com o Iron Maiden, ou pelo menos ter uma de minhas harpas assinadas pela banda. Mas se eu tivesse a oportunidade de tocar com eles, com certeza eu quebraria a harpa no palco (muitos risos)!
No mês passado, você se apresentou no “Rio Harp Festival”, evento no qual você já participou diversas vezes. O que acha do retorno do público a cada ano? Notou alguma evolução de 2012 pra cá?
Tocar no Rio sempre foi incrível! A cada ano que passa, mais e mais pessoas comparecem para prestigiar. Com certeza evoluí muito, a começar por estar tocando agora com uma banda. Em 2012 não havia baterista na banda, eu não possuía harpa elétrica e a banda estava em fase de amadurecimento. Esse ano, fizemos o lançamento oficial do nosso primeiro CD, “Ashes to Ashes” e, no meu ponto de vista, isso já foi uma evolução considerável.
E o público costuma ser muito específico? Qual a faixa etária dos seus fãs?
Não! E isso que é fantástico! Você está no palco tocando, e quando olha para o público, vê senhores (as), crianças, jovens, famílias, metaleiros (barbudos e tatuados), todos juntos, curtindo a música. Em nossos shows, já vimos de recém nascidos até gente com mais de 90 anos! Isso é muito rock and roll.
Agora falando um pouquinho do futuro… (risos) Tem alguma novidade por vir? O que os fãs podem esperar para os próximos meses?
Estou empenhando meu trabalho na Burning Symphony. Acredito que tudo está sendo feito com tanta boa vontade e amor, que teremos um caminho cheio de boas oportunidades pela frente. Em 2014, podem esperar que estaremos de volta ao Rio de Janeiro (se não antes, não é?) com um repertório totalmente novo e cheio dos clássicos do rock.
Quem quiser ficar por dentro das novidades da banda, é só acessar o site oficial.
Fotos: Sérgio Ricardo
Entrevista: Jessica Coccoli