Os 15 melhores lançamentos internacionais de 2019
Sempre suscita pretensiosidade listas como essa né? Deixarei claro: os QUINZE melhores álbuns internacionais para o CULT MAGAZINE mediante o olhar particular deste que vos escreve. Pronto! Ah, e comentários são bem vindos em nossas redes sociais, já que COM CERTEZA algum poderá faltar na seleção particular de alguém. Observação: a ordem disponibilizada não é por juízo de valor, mas sim aleatória…
1 – THE WHO – “Who”
Primeiro, com 55 anos de carreira. fôlego ainda para um novo álbum! A maioria dos lançamentos atuais de grandes nomes, são “pingados”, com singles sendo trabalhados. Segundo, o melhor disco da banda desde o clássico “Quadrophenia”(1973)… E isso definitivamente NÃO É POUCA COISA! Um petardo irrepreensível, com toda a fúria JUVENIL que sempre caracterizou o DNA do grupo, e canções permeando a disparidade de sonoridades que acompanharam sua trajetória. A química Roger Daltrey e Peter Townshend funcionando magistralmente. Se você mais novo ficou de “queixo caído” com a primeira apresentação dos caras por aqui no Rock in Rio de 2017, pode começar por esse sem susto. Um grande privilégio para todos nós o lançamento dessa obra-prima!
2 – BRUCE SPRINGSTEEN – “Western Stars”
Análise SIMPLES: pegue o clássico “Nebraska” (1982), e substitua o acompanhamento acústico recorrente da música folk (violas e gaita), por arranjos orquestrais grandiloquentes. Mais um clássico do THE BOSS!
Primeiro álbum sem a E-Street Band desde 2005, como contraponto do disco citado como referência, destaco as letras, que apesar de carregar toda a melancolia dos personagens que trafegam pela amplitude do Oeste americano, vem acrescidas de uma positividade comovente… Seria o “Nebraska” muito mais esperançoso! Viagem para ser sentida do início ao fim, e INFINDÁVEIS vezes. A audição nunca será a mesma, posso assegurar…
3 – RIVAL SONS – “Feral Roots”
Não estamos falando apenas de um dos melhores discos do ano, mais sim DA DÉCADA! Completando 10 anos de carreira, o Hard Rock de pegada setentista do grupo chega a excelência absoluta! É tão arrebatador que me arrisco a dizer que se fosse lançado na época onde moram a maior parte de suas referências, também estaria reconhecido entre aqueles clássicos… A influência de Southern Rock que sempre os caracterizou, em “Feral Roots” está diluída em ecos mais abrangentes (soul, gospel, passagens acústicas) e beirando o experimentalismo, mas sem perder a fúria JAMAIS! Merece destaque a voz de Jay Buchanan, com arranjos vocais ímpares e raivosos! Chega como a melhor banda de rock’n’roll para a década que se inicia…
4 – THE FLAMING LIPS – “King’s Mouth”
Os substitutos da genialidade de SYD BARRET (nas devidas proporções, é claro!) no planeta, nunca nos decepcionam! Quando não estão destilando lisergia e experimentalismo a “torto e a direito”, sempre caracterizados por uma ousadia comovente, investem em projetos de belas canções carregadas de “singelidade etérea”, como nesse “King”s Mouth”. Apesar da minha descrição denotar algo mais “fechadinho”, o abstracionismo esta lá, com letras delirantes, paisagens futuristas e algumas passagens de pop palatável e eletrônica imponente de ares progressivos. Inevitável não se lembrar do clássico “Yoshimi Battles the Pink Robots”(2002), é por aí… Na verdade é sempre muito difícil descrever uma obra de Wayne Coyne e companhia, pela eterna complexidade. OUÇAM! Vale destacar o auxílio luxuoso de Mick Jones (The Clash) nas guitarras
5 – DIDO – “Still on my Mind”
Após 6 anos sem lançamentos e 15 sem turnês, a inglesinha que no auge dos seus 47 anos, se recusou a envelhecer fisicamente (chega a impressionar!). Mas em se tratando do seu novo trabalho… Que maravilha é o amadurecimento em “Still on my Mind”! Com certeza colocamos no patamar do seu início triunfal, que a fez ser uma grande estrela em vendagens no final dos anos 90, ao lado de “No Angel” (1999) e “Life For Rent” (2003). A produção/parceria com o irmão Rollo Armstrong, vem dos bons tempos do saudoso grupo de eletrônica Faithless. E permeia influências dessa época no álbum. Além também da indefectível pegada de pop-rock alternativo (grande incidência acústica), climas etéreos com ecos da new age e letras desbragadamente confessionais, elementos que permearam sua personalidade artística. A fórmula matadora de DIDO que faz esse álbum descer “redondinho”, encruado de classe e extremo bom gosto!
6 – NEW MODEL ARMY – “From Here”
A integridade nos quase 40 anos de carreira do bardo inglês, é um requisito admirável para fãs ou não… O respeito a instituição que nunca chegou ao mainstream, mas não abdicou de suas ousadas escolhas artísticas, merece aplausos de pares de quaisquer que seja o gênero. Apesar do rótulo pós-punk/folk, pelo uso particular de violões, é no discurso político incisivo capitaneado pelo líder Justin Sullivan, que mora a grandeza do NMA. Mas esse disco traz um passo a frente na história da banda. A agressividade poética, aliada a contundência sonora, fazem o ouvinte receber uma “paulada”, que em nada se traduz em vibrações energéticas no formato de hits. É denso, soturno, com uma coesão absurdamente particular. Também não recomendável ouvi-lo se não for de uma tacada só. Mas tenho certeza que o acorde inicial já comensura a obrigatoriedade em percorrer a catarse hipnótica até o fim! Exagero? Confira!
7 – TOOL – “Fear Inoculum”
O TOOL para muitos é considerada a banda mais subestimada de sua geração. O incorformismo pelo reconhecimento distante de companheiros de geração dos anos 90, sempre foi gritante pelos seus admiradores! Talvez independente da qualidade muito bem avaliada dos americanos, o experimentalismo do particular rock alternativo, em simbiose com Heavy-Metal, sonoridades étnicas e art-rock tenha cobrado esse preço… Isso foi manifestado também no vanguardismo da estética visual, onde raramente os membros da banda aparecem. Mas “Fear Inoculum” é o “canto dos cisnes” da carreira dos caras! Após 13 anos sem lançamentos, ser surpreendido dessa forma é um bálsamo. Um trabalho para ser degustado sem atropelos, dispondo de tempo considerável e atenção em sua audição… Como costuma acontecer com TODAS as obras de arte a frente do seu tempo! Faixas com 10 minutos de duração, métricas sonoras dissonantes, imagens sensoriais e um final de disco arrebatador, como se presenteasse quem chegou até lá! Daqui há muitos anos estaremos “confabulando” sobre esse disco, tendo o ouvinte “entendido” a proposta ou não. Pode anotar aí!
8 – BRIAN ADAMS – “Shine a Light”
Não é nada fácil manter uma fórmula de sucesso, injetar frescor e ainda dialogar satisfatoriamente com as novas gerações (parcerias com Ed Sheeran e Jeniffer Lopez por exemplo). Com louvor, esse disco merece estar nessa lista, por todo esse satisfatório trabalho conjunto! Há muito tempo sem ter um trabalho de destaque como esse, talvez por ter se desprendido em outras frentes: na defesa da paternidade opcionalmente tardia E OBRIGATÓRIA, “estaremos mais preparados para sermos pais melhores” (sua primeira filha nasceu quando tinha 51 anos), por seu intenso ativismo vegano, e principalmente ter cancelado um show no Mississipi em virtude de uma lei aprovada recentemente discriminatória contra homossexuais. Fora seus livros premiados na área da fotografia, e a promessa em plantar uma árvore para cada ingresso vendido nessa turnê! Voltando a “Shine a Light”, a mistura de rock, pop e rhythm & blues, soa atualíssima, mas sem em nenhum momento descaracterizar o seu estilo. Elementos acústicos, som para as pistas, rock de arena, e claro, BALADAS (por incrível que pareça, nesse quesito não tão inspiradas), a voz em EXCELENTE forma, mostram bem que não é a toa que o veterano canadense chegou ao seu 14º trabalho. O cara desde os anos 80 SABE MUITO BEM o que faz…
9 – PRINCE – “Originals”
Você deve estar me perguntando… “Um disco de sobras entre os melhores do ano”? Vou ser curto e grosso. O nome disso é GENIALIDADE. PRINCE mesmo não estando mais entre nós, facilmente continua ditando os rumos da música negra mundial. As músicas foram selecionadas por Jay-Z e Troy Carter, representante do The Prince Estate, escritas por PRINCE para outros artistas da época. Não há muito o que dizer a respeito, apenas CAIA DENTRO!
10 -BILLIE EILISH – “When we all fall asleep where do we go”
Uma voz docemente cortante; melancolia explícita em simbiose com pop, eletrônica, trap e suas sub variações; uma postura cênica impressionante, desespero mesclado com uma beleza de inocência angelical. A fórmula do sucesso??? Parece que sim… Nesse disco de estréia, Eilish com apenas 17 anos chegou ao topo da Bilboard! Apesar do amadurecimento impressionante das melodias (remetem bastante a uma Lana Del Rey mais “aberta”), o grande insight é conseguirmos perceber que temos uma adolescente ali dialogando conosco. A depressão vem de questionamentos muito sutis dos conflitos dessa faixa etária. As faixas mais dançantes são consistentes, nunca soam como mera “bobagem”, como vinha se acenando os rumos da música POP há bastante tempo. Um disco (de meteórico sucesso) como esse adentrando uma nova década, enchem os nossos corações de esperança… Muitos afirmaram que seria “o retrato de uma geração perdida”. Discordo, acho UM ACHADO.
11 – SOLANGE – “When I Get Home”
Olha a MOTOWN aí gente!!! É um daqueles discos de soul music (com ecos sutis de R&B e Hip-Hop) que te fazer delirar, sair correndo, amar, se emocionar! Te provocará reações extremadas mediante tamanha beleza dos arranjos, das vocalizações… Um suspiro dentro de um gênero que definitivamente exige a elegância suprema para se destacar, porque a concorrência é pesadíssima! E apesar das referências explícitas, o trabalho é de extrema personalidade. A irmã da diva Beyoncé, passa distante do estilo “caseiro”, apesar de administrar também sua sensualidade em prol do trabalho, de forma bem mais teatral e irônica. A discussão sobre empoderamento feminino e o peso do preconceito racial que sufoca as mulheres negras está lá, como no álbum de estreia “A seal at the table” (2016). SOLANGE, definitivamente veio para FICAR!
12 – THE DARKNESS – “Easter Is Cancelled”
Ainda com humor afiado, só que mais contido em prol da musicalidade, a banda nos entrega em 2019 seu melhor disco COM SOBRAS! Segundo o baixista Frankie Pullain, o disco “Easter Is Cancelled” examina “a brutalidade do homem contra o homem, a dicotomia em que as pessoas vivem. As músicas definem a existência humana através de uma parábola – o lento ciclo da morte e o eventual e glorioso renascimento do rock and roll”. A pretensão nos faz lembrar o QUEEN no início de carreira, juntamente com o vocal que remete diretamente a androginia. Quem criticava por ser “galhofeiro” demais, tem TUDO para se render… Aliás, qualquer um que aprecie bastante (lá vem frase clichê) “o bom e velho rock’n’roll”!
13 – Tyler, The Creator – “IGOR”
Definitivamente nunca poderia ser classificado como um disco de RAP. Além de reducionista, seria injusto… O quinto álbum de Tyler definitivamente reinventa o gênero como há muito tempo não percebíamos. A instrumentalização é algo deveras impactante aqui! Sintetizadores retrô, inserções eletrônicas hipnóticas, dando apoio a narrativas densas e imersivas. A vocalização rap e o talento para as rimas é só um pequeno detalhe… E mesmo com o caráter confessional das letras, passa longe do baixo astral. A base de backings gospel, traz um lirismo único na concepção final. Outro disco que tem um leque múltiplo de detalhes, tornando a tarefa de descrição bastante hercúlea. Parte pra cima que a vitória é certa!
14 – THE CLAYPOOL LENNON DELIRIUM – “South of Reality”
Les Claypool, mentor do PRIMUS e SEAN LENNON juntos??? Como se deu isso? Pois é, analisando friamente é uma parceria um tanto quanto inusitada, não acham? Sean abriu a última turnê do Primus, e acabaram desenvolvendo além de amizade, afinidades musicais mais profundas. É não é que deu certo? Um conseguiu extrair o que o outro tem de melhor, e o resultado foi um “chute de balde”. Música como se fazia antigamente, gostamos, “vamos gravar, é isso aí”! Nesse segundo disco da banda, a proposta sonora ficou mais bem definida, com sinais “floydianos” aqui, e um pouco de Beatles ali, criando canções com longas esferas espaciais. O descompromisso acaba tornando o resultado final irresistível, pois é extremamente divertido!
15 – AURORA – “A Different Kind Of Human – Step 2”
Só em um lugar como a Noruega que poderíamos encontrar um pop palatável, muitas das vezes “açucarado” em suas músicas de trabalho, mas ativista até a medula! A produção complementa seu disco anterior “Infections of a Different Kind – Step 1”. O primeiro discorre sobre a aceitação dos sentimentos mais íntimos. Esse já diserta sobre as consequências da imersão íntima para ampliar a relação com o mundo de forma geral. Com o decorrer do álbum, Aurora conduz que nós mesmos somos a mudança que o planeta precisa! As críticas a ambição humana no qual “exterioriza sua juventude selvagem” são de uma profundidade absurda em se tratando de uma pessoa tão jovem, que sozinha produziu e compôs todo o álbum. Em várias canções, percebemos influência nítida de Kate Bush e Cocteau Twins. Uma pérola como “The Seed” é necessária ser ouvida, um grito contundente pela preservação da natureza, com o clipe se consistindo em um espetáculo a parte. Finalizando, vou repetir o que escrevi sobre BILLIE EILISH: a música POP GRITA por mais ousadia!!! Precisamos de mais Auroras nessa década!
Álbuns que poderiam estar aqui: LANA DEL REY – “Norman Fucking Rockwell!”, JACK BROADBENT – “Moonshine Blue”, NORAH JONES – “Begin Again”, KING GIZZARD – “Infest the Rats’ Nest”, NEIL YOUNG – “Colorado”, RAMMSTEIM – “Rammstein”
Decepção do ano: MADONNA – “Madame X”. Madonna Louise Veronica Ciccone, POR FAVOR, você é a rainha do POP, da cocada preta, de tudo que tem direito! Quer se aproximar das novas gerações? ELES que tem que dialogar contigo diva! Descer a mediocridade da sonoridade de Malula e Anitta por exemplo… Dois singles lamentáveis, que fizeram muita gente fugir de “Madame X”. Que obviamente tem ótimos momentos, como não poderia deixar de ser. Brian Adams fez essa “dobradinha” MUITO BEM, só dar uma olhadinha…
Por Alessandro Iglesias