Os 20 melhores lançamentos internacionais de 2020
Sempre é bom lembrarmos… Suscita pretensiosidade listas como essa, não acham? Deixamos claro: os VINTE melhores álbuns internacionais (aumentamos pelo crescente absurdo de lançamentos em tempos de pandemia) para o CULT MAGAZINE mediante o olhar particular deste que vos escreve. Pronto! Ah, e comentários são bem vindos em nossas redes sociais, já que COM CERTEZA algum poderá faltar na seleção particular de alguém. Observação: a ordem disponibilizada não é por juízo de valor, mas sim, aleatória…
PRETENDERS – “Hate for Sale”
Capitaneados pela líder (vocalista, guitarrista e compositora) Chrissie Hynde desde sua fundação na segunda metade dos anos 70, os Pretenders alcançaram um grau de respeitabilidade invejável e merecido. Depois de incríveis 42 anos de trajetória e 11 trabalhos autorais lançados, “Hate for Sale” demonstra vigor e entusiasmo! Justificável, faziam 4 anos que não era lançado material de inéditas.
E a primeira vez com a banda que acompanha Hynde há mais de uma década. Entrosamento foi o que não faltou… Vale frisar a participação do baterista original Martin Chambers, uma grata surpresa. O guitarrista James Walbourne compôs todas as canções em parceria com Chrissie. que mostra como o veganismo a fez bem, seu vocal está absolutamente bem contundente no alto dos seus 68 anos.
“Acho que todos sabemos que casos de amor podem assumir as características do vício em drogas. É sobre isso. Não no meu caso, é claro: nunca sou obsessiva, nunca obsessiva, nunca obsessiva”, filosofa Chrissie Hynde sobre o primeiro single do disco, a ótima “The Buzz”, que foi lançado no início da pandemia. “Hate for sale” foi incensado merecidamente como um dos MELHORES trabalhos da banda!
BLUES PILLS – “Holy Moly!”
O terceiro álbum de estúdio dos suecos do Blues Pills, “Holy Moly!”, embarcam o ouvinte para um mundo de melodias psicodélicas, paisagens sonoras altíssimas, hinos emocionantes e a poderosa voz soul de Elin Larsson. Depois de liderar as paradas em vários países (chegou a posição 1 na Alemanha) com o registro anterior, “Lady In Gold”, a banda decidiu trabalhar com os renomados vencedores do Grammy, Andrew Scheps (Red Hot Chili Peppers, Iggy Pop, Black Sabbath, Rival Sons) e Nicolaus Arson (The Hives).
O resultado prova que eles vieram para ficar como líderes da nova geração do “vintage rock”. Os dois primeiros singles lançados, as matadoras “Kiss My Past Goodbye” e “Proud Woman”, já anunciavam que “Holy Moly!” figuraria entre os grandes álbuns de rock’n’roll da década! O Blues Pills vai LONGE, podem anotar aí…
CHARLI XCX – “How i’m Feeling Now”
A pandemia proporcionou naturalmente que artistas aproveitassem o tempo hábil da quarentena para criação musical e poética. A inglesa Charli XCX estava em processo de divulgação de “Charli” (2019), mas imergiu diretamente no conteúdo de inéditas que iria originar “How i’m Feeling Now”. Fatalmente as letras apresentam conteúdo desbravadamente confessional e atual mediante o momento vigente. Mas nada de melancolia ostensiva! “Pink Diamond” por exemplo, fala da necessidade de se relacionar a distância com a liberdade sexual que lhe é cabida. Autoaceitação, estabilidade mental e novas possibilidades emocionais, interpretadas com ambientações “eletronicamente sujas” e vozes carregadas de efeitos.
A deliciosa despretensão carregada de experimentalismo, podemos creditar bastante ao produtor BJ Burton (Bon Iver, Banks), como na hipnótica “Claws”, com a participação de Dylan Brady. Impressiona o amadurecimento avassalador de uma das pioneiras da “PC Music”, subgênero expoente com o nome da inventiva gravadora, música acessível com luxuosa estética retrô, repleta de cores e energia. Esse GRANDE álbum de Charli XCX, acena promissores e otimistas rumos para a música POP na próxima década!
LONG DISTANCE CALLING – “How Do We Want To Live?”
“How Do We Want To Live?” do Long Distance Calling, é um dos mais DESAFIADORES registros de 2020! O som é predominantemente instrumental e afiado (apenas “Beyound Your Limits” tem vocais convencionais), dialogando com narrações incrivelmente intrigantes, de observações bastante aprofundadas sobre o mundo, a raça humana e o futuro. O álbum é bastante soturno, mas o quarteto almejou suscitar o conceito em ângulos diversos, não fechando um ponto de vista definido, deixando ao ouvinte a sua resolução. E conseguem com louvor o objetivo almejado, na simbiose entre o poder da poesia declamada permeadas nos tons, texturas, camadas e atmosferas, criadas pela “vanguardista” sonoridade.
Os alemães neste sétimo registro autoral, também investem bastante nos efeitos eletrônicos, “abusando” incisivamente dos sintetizadores. O bardo formado por David Jordan (guitarra), Janosch Rathmer (bateria), Florian Füntmann (guitarra) e Jan Hoffmann (baixo), prometeu uma “viagem pensante” sem precedentes aos fãs do seu “prog/metal/rock” nesses tempos difíceis, e conseguiram lindamente!
PAUL WELLER: “On Sunset”
“Ainda estou empolgado com as novidades. Acho deprimente quando as pessoas atingem uma certa idade e param de ouvir novas músicas. Tenho 62 anos e estou procurando coisas novas diariamente. Isso me dá esperança de que ainda haja muita música incrível sendo feita. Música é minha obsessão, é minha educação, é meu entretenimento, é o jeito que eu me comunico, é tudo para mim. Cada faixa aqui reflete essa obsessão”, diz Paul Weller ao refletir sobre “On Sunset”, seu 15º álbum solo. O “The Modfather” revisita seu passado da época do Style Council em todas as experimentações anunciadas, onde grooves ricos e swingados, passeiam por jazz fusion, rock (não poderia faltar para um ex-The Jam), elementos eletrônicos, em uma simbiose de vibrações contagiantes!
“Muitas das letras são sobre olhar para trás, do ponto de vista de um homem de sessenta e poucos anos, não com arrependimento ou tristeza, mas com enorme otimismo. Fazer 60 anos pode ser algo que desencadeia algum tipo de crise em muitas pessoas, mas isso me acalmou e me inspirou a criar da melhor maneira. Nos últimos dez anos, desisti da bebida e me limpei. Tenho três filhos pequenos e agora posso ver as coisas com muito mais clareza do que jamais consegui. E acho que isso começou a aparecer nas minhas letras”, afirmou. E o “tesão” pelo trabalho se consiste no processo, pois Weller se encarregou de todos os instrumentos da gravação, sendo esta uma rotina do próprio disco (apesar de ter vários convidados especiais). Modfather continua afiadíssimo e apesar dessa retomada sonora, o potente vanguardismo de outrora é o que mais se faz presente.
BRUCE SPRINGSTEEN – ‘Letter To You’
A nota soltada pelo “The Boss’, demonstra toda a empolgação pelo retorno a parceria com sua banda clássica: “Adoro o som da E Street Band tocando completamente ao vivo no estúdio, de uma maneira que nunca fizemos antes, e sem overdubs. Fizemos o álbum em apenas 5 dias e acabou sendo uma das melhores experiências de gravação que já tive”, frisou Bruce, após a confirmação do lançamento do álbum, ‘Letter To You’, o vigésimo de sua carreira.
A sucessão do excelente experimento “country-rock-orquestral”, “Western Stars” (2019), foi gravado no estúdio caseiro de Springsteen, em New Jersey, e tem 12 canções (três são raridades dos anos 70, suas primeiras gravações) inspiradas no “The Castiles”, a primeira banda que integrou. O falecimento do último integrante que ainda estava entre nós (só restando ele próprio), o motivou a mergulhar nesse exercício nostálgico de primeiríssima. O questionamento filosófico intimista sobre vida e morte foi inevitável (a verve poética está um deslumbre!), o que motivou naturalmente a urgência no processo de gravação. Completados 70 anos, Bruce Springsteen só nos proporciona momentos sublimes. A audição deste trabalho é inevitavelmente um ACONTECIMENTO!
THE KILLERS: “Imploding the Mirage”
O sexto registro autoral do The Killers, “Imploding the Mirage”, é o primeiro sem o guitarrista Dave Keuning. As guitarras do disco são tocadas por convidados diversos, como Lindsey Buckingham (Fleetwood Mac), que aparece no single “Caution”. A saída de Dave provavelmente possibilitou ainda mais uma tendência que já percebíamos anteriormente: a aproximação maior com uma sonoridade mais acessível, fortemente inclinada para o POP de forte tom saudosista. Os sintetizadores que navegam por timbres dos anos 80 (principalmente!) e 90, são vistos nitidamente se “apossando” de canções como “Dying Breed”, por exemplo.
Simultaneamente, a análise pode suscitar sentimentos positivos e negativos, mais o contexto apresentado é exatamente condizente com o atual momento do agora trio. E fica perceptível, que a mensagem do cotidiano intimista de Brandon Flowers, dita a temática de tudo que envolve “Imploding the Mirage”. A mudança para uma realidade menos efervescente do que Las Vegas, se reflete diretamente no disco. O resultado final tem sido bastante ACLAMADO, com justiça!
PVRIS – ‘Use Me’
Lynn Gunn canta de forma desafiadora sobre guitarras escuras e brilhantes na linha de abertura de ‘Give Me A Minute’, a primeira faixa do novo registro do PVRIS, ‘Use Me’. A cantora está se referindo ao ponto de inflexão após anos de turbulência pessoal, em que lutou contra a depressão, danificou a voz e perdeu durante um bom tempo sua autoconfiança. Agora sabemos que desde o primeiro dia, Gunn foi a maior mentora por trás do elegante rock alternativo de forte textura POP da banda de Massachusetts, uma mistura envolvente de refrões eufóricos, sintetizadores irresistíveis e guitarras repletas de efeitos. Até agora, Lynn parecia não ter confiança para receber o crédito por seu projeto de vida, mas tudo se transformou com o lançamento do terceiro álbum.
‘Use Me’ é o disco que Gunn deixa sua ansiedade para trás e avança para os holofotes! Como resultado, muitas dessas músicas foram criadas (a maioria com videoclipes de divulgação) em torno de batidas fortes que evocam uma aura vibrante, mas sem abandonar o tom soturno de outrora. PVRIS sempre esteve de olho nas pistas, mesmo que às vezes tenha voltado para cantos de maior profundidade e evocando climas atmosféricos. Mas no single ‘Stay Gold’, Lynn canta “você viu meu lado negro”, sobre uma parede de linhas de baixo sufocantes, enquanto o hino agitado ‘Dead Weight’, afirma: “tão cansada de ser seu doador”. Em ambas, ela deixa de lado seus problemas sob os “reflexos caleidoscópicos de uma bola de discoteca cintilante” e de forma FESTIVA, caminha adiante com brilhantismo.
ENUFF Z’NUFF – “Brainwashed Generation”
Apesar do tom espalhafatoso, as influências dos caras sempre foram as mais díspares: bom humor nas alturas ao soar como um encontro de Redd Kross com Cheap Trick, e pasmem, The Beatles! Nenhuma banda de hard/glam/metal remetia tanto ao quarteto de Liverpool como o Enuff Z’Nuff. Foi o encontro do movimento “flower power” com as linhas vocais reverberadas do glam rock. Desde 1984 na estrada, “Brainwashed Generation” é o décimo quinto registro da lenda do estilo vinda de Chicago, tendo apenas o baixista e vocalista Chip Z’Nuff, oriundo da formação original.
Após lançar seus dois primeiros singles, “Fatal Distraction” e “Broken Love”, a banda descreveu a vibração do novo álbum: “Uma coleção diversificada de músicas que demonstram a progressão de estilos musicais no catálogo do Enuff Z’Nuff, mantendo a tendência atual que lhe mantém uma base de fãs leais desde os anos 80”. Sobre trabalhar com músicos convidados, Z’nuff disse: “Músicos de rock fabulosos apareceram durante as sessões para emprestar suas habilidades magníficas, como membros do Cheap Trick (Daxx Nielsen), Mike Portnoy e Steve Ramone”. BELÍSSIMO registro!
DUA LIPA – “Future Nostalgia”
Possivelmente, “Future Nostalgia” estará em todas as listas de melhores álbuns do ano. É simplesmente irresistível! O segundo registro autoral de Dua Lipa, é a consagração definitiva para o hall estelar de cantoras POP no planeta. Se ancorando no revisionismo dos sintetizadores e batidas dos anos 80 e 90 (como descreve o título), programados para grudar na cabeça da audiência e automaticamente o teletransportar para as pistas, com a execução de uma competência assombrosa.
Além da referência direta com a versão azeitada para “Physical” (Olivia Newton-John), temos ecos de Madonna, Daft Punk, Blondie e INXS, atualizados em uma linguagem musical parelha a Lady Gaga e Kate Perry. “Um misto de passado e presente, reverência e interpretação, como se Dua Lipa fosse capaz de transitar por diferentes campos de música de forma autoral, preservando a própria identidade criativa”, sentenciou certeiramente o crítico Cleber Facchi. O tom obviamente é de diversão e metáforas sexuais, mas temos conscientização sobre a “passação de pano” da sociedade referente ao comportamento abusivo dos homens em “Boys Will Be Boys”. PERFEIÇÃO!
THE DIRTY DENIMS: “Ready, Steady, Go!”
A banda “hard rock feliz” provinda de Eindhoven, The Dirty Denims, em “Ready, Steady, Go!” destila versatilidade cheia de ecos em sua sonoridade power pop/ punk rock, que desce como um alento para qualquer fã de rock’n’roll. Já foram descritos com um senso de diversão sonora tão impactante, que seria como se The Offspring, AC/DC, The Stranglers, Joan Jett e Blondie estivessem dando uma festa conjunta DA PESADA! O grupo é formado por Mirjam Sieben (vocais, guitarra, órgão), Jeroen Teunis (guitarra, vocais), Marc Eijkhout (baixo, vocais) e Suzanne Driessen (bateria, vocais).
A excelente repercussão vem desde o lançamento da matadora faixa-título como single em 2019. Em tempos de pandemia, repleto de atmosfera tensa ao redor, os holandeses prestam um excelente serviço de alto astral para elevar a adrenalina automaticamente do seu ouvinte. Esses caras e meninas mostraram obviamente que curtiram DEMAIS fazer esse álbum. É uma CELEBRAÇÃO!
Bob Dylan – “Rough and Rowdy Ways”
Depois de botar uma canção no topo da Bilboard pela primeira vez (“Murder Most Foul”, com a duração de 17 minutos) em março deste ano, a lenda viva Bob Dylan finalmente botou na praça “Rough and Rowdy Ways”, lançamento autoral após um extenso período de 8 anos. “Murder Most Foul” já acenava que a expectativa era imensa, pois o primeiro single apesar da longa duração e o tema pesado (o assassinato do Presidente Kennedy) totalizou mais de 10.000 downloads entre o lançamento no dia 27 de março e o dia 2 de abril. Um marco!
“Rough and Rowdy Ways” acerca que o “Mr. Tambourine Man” sempre quando surge, tem muito o que dizer. A capa que foi tirada há mais de 50 anos pelo fotógrafo Ian Berry, acaba sendo um grande indicador para o conteúdo do álbum: as raízes da música black americana. Isso fica latente com o single disponibilizado juntamente a esse lançamento, o lindo “bluezaço”, “False Prophet”. Depois de ganhar o Prêmio Nobel por contribuição literária através da poesia descrita sobre suas melodias, Robert Zimmerman mesmo aos 79 anos recém contemplados, não se cansa de sempre arrumar “um jeitinho” de escrever AINDA MAIS o seu nome na história. OBRIGATÓRIO!
FIONA APPLE – “Fetch the Bolt Cutters”
IMPACTAR! É o que nos proporciona esse “tiro” multiplicador de sensações que é “Fetch the Bolt Cutters”. Sabemos que quando Fiona Apple senta a frente do piano e resolve criar, sempre sai “coisa fina”, como avaliamos anteriormente em seus quatro registros autorais. Só que aqui, fatalmente nos deparamos com seu maior clássico até então! A sonoridade que permeia por jazz, rock alternativo, art pop e experimentalismo caótico, com verve poética sôfrega em sua confessionalidade, chega ao ápice.
Além das teclas de praxe, instrumentos não convencionais acrescidos do som de talheres, mesas, latidos de cães e objetos dos mais diversos, tornam a experiência repleta de rara imprevisibilidade. A alternância abrupta em meio a fragmentos minimalistas, só valoriza ainda mais a voz da protagonista e o que ela tem a nos dizer. A avaliação final é que “estruturas despadronizadas” a parte, Fiona Apple demonstra total domínio de cada detalhe em sua obra, tamanho sentido acentua-se claramente, por mais que haja um proposital estranhamento. Simplesmente GENIAL! Foi um dos discos melhor avaliados do ano por crítica e público. Aliás, a quantidade de tatoos com alicates que brotou por aí, “não está no gibi”…
PET SHOP BOYS – “Hotspot”
Em seu décimo-quarto álbum e com aproximadamente 40 anos de carreira, os Pet Shop Boys mostram que ainda tem “muita lenha para queimar”! Em uma declaração de amor a Alemanha, uma nova trilogia de Berlim (a exemplo de David Bowie) é concebida. “Hotpost” é o capítulo mais sombrio, em comparação aos anteriores “Super” (2016) e “Eletric” (2013), por mais que sonoramente revisite todas as fases de sua gloriosa carreira. Os versos acabam lidando com melancolia e devaneios intimistas, mesmo em momentos mais vibrantes no indefectível sinth-pop do duo.
E a capital germânica acaba surgindo como a saída para todos os males… O vídeo da irresistível “Dreamland” (com participação do Years & Years) cumpre bem essa metáfora, ao passear pelas estações de metrô da cidade. Mas não pense que toda a premissa reflexiva lhe negue um convite para dançar. IMPOSSÍVEL! São os PSB, esqueceu? A regularidade de Neill Tennant e Chris Lowe sempre impressionou, mas aqui temos um trabalho na lista dos mais inspirados na discografia.
MAGENTA – “Masters Of Illusion”
Assumir temas grandiosos e incomuns como conceitos de álbum, tornou-se uma prática comum para a principal banda prog metal do País de Gales. Em trabalhos anteriores, astros do rock que morreram aos 27 anos, os sete pecados capitais e o trauma da emigração, foram os temas decorrentes. Nesse “Masters Of Illusion”, aborda talvez o mais incomum até agora: a vida e os trabalhos de seis estrelas de filmes de terror clássicos dos anos 50 e 60. Interessante, não??? O mais importante é que o conceito levou o Magenta a fornecer uma coleção de seis canções amplamente diversificadas, que arrebatarão qualquer base de fãs do progressivo. “Uma paleta multicromática combinada de cores tão variadas quanto o arco-íris. Do funk cinza granito ao pop rosa cintilante, das profundezas negras do arrependimento, à sensação triunfante”, é como os galeses descrevem a experiência do processo.
A atual formação do Magenta é Reed nos teclados (e arranjos), a premiada cantora Christina Booth nos vocais, Chris Fry nas guitarras e os jovens Dan Nelson e Jiffy Griffiths no baixo e bateria, respectivamente. Há participações especiais de duas estrelas que impressionaram em suas performances: os talentosos John Mitchell (vocais) e Peter Jones (saxofone). E como em alguns lançamentos anteriores do Magenta, o Uilleann Pipes de Troy Donockley e o oboé de Karla Powell. Diversidade sonora é a palavra de ordem! Bela Lugosi, Christopher Lee, Lon Chaney Jr, Ingrid Pitt, Peter Cushing e Vincent Price estão MUITO bem representados com temas épicos a altura da brilhante contribuição desses mestres a sétima arte.
LADY GAGA – “Chromatica”
Lady Gaga depois de mostrar que “joga nas onze” com toda a categoria que lhe é cabida, volta ao POP que tanto lhe consagrou. VOCÊS TEM ALGUMA DÚVIDA da explosão que é “Chromatica”? A exemplo de Dua Lipa e do The Killers, o tom é revisionista. Seria uma tendência? A estética visual nos remete a um mundo pós-apocalíptico, inevitável não remetermos a um “Mad Max fashion”, mais uma das muitas referências nostálgicas.
Apesar do retorno com força total as pistas, a sonoridade é mais enxuta, sem os arroubos que caracterizaram o seu grande estouro na década passada. Se o caráter mais orgânico atrapalha a festa? Jamais! A Lady do POP sabe como ninguém abalar as estruturas, com toda a exuberância que lhe tem direito. Potente sim, só que com melodias mais simples e nem um pouco menos contagiantes. O suficiente para estar fácil AQUI, entre os melhores lançamentos do ano!
JUICE WRLD – “Legends Never Die”
Jarad Higgins, conhecido artisticamente como Juice Wrld, morreu no dia 8 de dezembro de 2019, após sofrer uma convulsão no Aeroporto de Chicago. A causa do falecimento teve como causa uma overdose acidental de opiáceos dos mais diversos. Em seu jato particular ainda foi encontrado 30 kg de maconha e codeína. Tinha apenas 21 anos. Este registro póstumo, “Legends Never Die”, nos mostra o quanto é sentida essa perda. As letras indicam bastante do que estava acontecendo, o tom é pesado e explícito na referência a depressão, o uso desenfreado de drogas e a morte iminente.
O que nos faz saltar os olhos, é a ponte de forma incrivelmente personalizada entre o rap e diversos subgêneros do rock. O resultado é VIGOROSO e CONTAGIANTE musicalmente! Todo o álbum é inspiradíssimo, era o seu auge artístico, mas como carro-chefe indico a faixa “Come & Go” (o primeiro single automaticamente nos coloca no clima) para iniciar os trabalhos. Ressalto o trecho falado de 30 segundos chamado “Juice WRLD Speaks From Heaven” que encerra o disco, impressiona pelo tom premonitório. Uma pena essa precoce partida, “Legends Never Die” enfatiza o grande artista que eclodia em Juice WRLD.
JEHNNY BETH – “To Love is to Live”
Esta pérola sombria, conceitual e visceral, é o retrato genuíno da maturidade musical de uma artista. A forma como viaja por gêneros musicais dos mais díspares, representa bastante o que foi a sua trajetória profissional. A francesa iniciou os trabalhos no indie-rock da dupla John and Jehn em meados da década de 2000. A partir de 2011, fez fama frente ao multifacetado post-punk do Savages. “Eu realmente queria fazer esse álbum, porque queria mudar o jeito como trabalhava”, afirmou. A partir da passagem de David Bowie em 2016, o conceito para uma viagem solo surgia mediante o trauma da perda do ídolo. O temor ao estágio de morrer deixando desejos e projetos pendentes, suscitou essa urgência!
As letras de “To Love is to Live” permeiam filosoficamente por essas questões em cunho bastante pessoal. Ao invés de se voltar primordialmente para as performances nos palcos, como fazia no Savages, ela buscou se concentrar na narrativa do disco. Apesar de termos um aparato visual bem impactante na incursão solitária, trazendo uma sensualidade natural. Neste acachapante conflito sonoro, temos guitarras distorcidas, um piano sensível, vocais indecifráveis por causa dos efeitos, vozes graves e sóbrias, gemidos, sussurros e agudos angustiados ou raivosos. Um dos GRANDES trabalhos dessa década e uma das melhores estreias solo da história!
THE FLAMING LIPS – “American Head”
Wayne Coyne e companhia, são os grandes representantes do rock psicodélico no planeta, e dotados de uma capacidade de produção incomensurável. Nos deparamos frequentemente com alguma novidade, o fazer artístico dos The Flaming Lips é incansável! Nem deu para degustarmos com toda a calma do mundo as belas canções carregadas de “singelidade etérea”, em “King”s Mouth” (2019). E aqui estão eles novamente nessa relação! É o décimo sexto disco da banda na sua linha “oficial” de álbuns cheios, sem contar outros projetos, colaborações e formatos.
Wayne Coyne publicou um texto discorrendo sobre o novo conceito: “The Flaming Lips é uma banda de Oklahoma. Nós nunca nos enxergamos como uma banda AMERICANA. Eu sei que crescendo em Oklahoma (quando tinha tipo 6 ou 7 anos de idade) eu nunca fui influenciado ou tive conhecimento de músicos locais. O que a gente mais ouvia era Beatles e a minha mãe amava Tom Jones (isso aconteceu nos Anos 60)…”
O petardo “American Head” imerge sobre a sociedade americana no formato de canções mais “redondinhas”, mas com sua costumeira identidade (não bebe em influências do país, realmente!). A lisergia está mais contida no caráter sonoro, mas visualmente a coisa continua “tresloucada” (TODAS as músicas do álbum ganharam vídeo!). Fora a grande contribuição durante a pandemia, com os shows dentro de bolhas para preservar o distanciamento social. São uma das forças criativas mais fortes da música mundial!
PAUL McCARTNEY – “McCartney III”
Aos 45 do segundo tempo no tão difícil ano de 2020, nos deparamos com um presentaço desses! No final do mês de dezembro, o “bom e velho” Macca fecha sua trilogia iniciada com “McCartney” em 1970 (após a dissolução dos Beatles) e prosseguida com “McCartney II”, 1980 (ao sair dos Wings). Os trabalhos anteriores tinham a característica primordial da incursão totalmente solitária em todo o conceito, inclusive com a gravação de todos os instrumentos e produção. O cenário pandêmico nos suscitou o isolamento obrigatório, o que acabou sendo perfeitamente favorável para esse processo de imersão. O ESTUPENDO “McCartney III” é o seu mais brilhante álbum desde o poderoso “Flaming Pie” (1997), e isso muito se deve a espontaneidade imbuída e o total descomprometimento com qualquer viés mercadológico. E com a liberdade que é cabida, gênios costumam aflorar e “tirar seus coelhos da cartola” ainda mais!
O experimentalismo obviamente se faz mais presente, mas por incrível que pareça o seu forte sotaque de acessibilidade sonora também acaba surgindo, afinal de contas temos aqui um dos maiores criadores de HITS da história. A delicia está na contradição, ao mesmo tempo que não existe a necessidade de entregar algo absolutamente novo, ele nos apresenta canções absurdamente “grudáveis” após primeira audição e outras que precisam ser melhor “entendidas” com o tempo. Paul McCartney nos dando o seu melhor, com a sensibilidade e criatividade que já é sabida, inevitavelmente teria que estar aqui nessa relação. Dica: fica cada vez mais DELICIOSO após cada audição, então “maratone”, seja feliz e agradeça por ainda termos o eterno “fab four” entre nós criando maravilhas. OBRA-PRIMA!
TEM MAIS!!!
Foram muitos os álbuns que também poderiam estar aqui nessa relação, ainda mais em um ano com tantas produções musicais motivadas pelo isolamento. Grandes astros vieram com ótimos trabalhos: Alanis Morrissete (“Such Pretty Forks in the Road”), Ozzy Osbourne (“Ordinary Man”), Neil Young (“Homegrown”), AC/DC (“Power Up”), Pearl Jam (“Gigaton”), Kansas (“The Abescense of Presence”), entre outros…
Entre as novidades, MUITA COISA! Arca (“KiCk i”), Grimes (“Miss Anthropocene”), Fountaines D.C. (“A Hero’s Death”), o auto-intitulado álbum do Oceans of Slumber, Hayley Williams (“Petals for Armor”), Laura Marling (“Song for Our Daughter”), Halsey (“Manic”), nossa, a lista poderia ter mais uns vinte nomes!
Decepções do ano: sim, é no plural! Se os trabalhos mais incensados de Green Day e The Strokes passaram longe de um atestado positivo da obra com mais amplitude, o que dizer então das bombas “Father of All Motherfuckers” e “The New Abnormal” respectivamente? É muita mediocridade vindo das ex “salvações do rock”! Tá na hora de fazer outra coisa na vida, chega de área musical. Assim como o irreconhecível para as tradições do lendário Deep Purple, “Whoosh!”. Vamos encerrar os trabalhos mais dignamente, não é?
Por Alessandro Iglesias