Paulinho Moska lança álbum “Beleza e Medo”

Que beleza”…em tempos de pouca fé e muito ódio, Moska abre seu novo álbum falando, fuçando, apontando “Beleza e Medo”, assim, complementares que são, com letras maiúsculas. Um artista que sempre cantou principalmente o amor e seus desdobramentos, se sente compelido a afiar a língua em outras direções, sinal dos tempos e de sua necessidade de falar o que está vendo e sentindo na pele. Ele lança seus dardos-pensamentos-canções em direção ao alvo perfeito que somos nós, seus ávidos ouvintes, acostumados ao alento que sua arte sempre nos proporcionou. Diz ele que era pra ser um álbum só de amor, mas a angústia de quem vive e vê fez com que a necessidade de se colocar sobre o que temos sofrido escorresse também a urgência do caos para a cena de algumas composições. E falar disso não é também amor?

Mas para cada queda, um voo. Para cada abismo, um par de asas. Assim vai nos salvando do ordinário da vida a audição dessas dez vibrantes canções. A pegada é muitas vezes rock’n’roll, universo que Moska frequenta muito bem e está finamente acompanhado para isso e muito mais. Mas a abertura, com a pensativa “Que Beleza” é macia, suingada, convida o ouvido a enxergar e pensar o Belo, através da arte e da evolução. O jeito Moska de ser, onde há sempre mais beleza por vir, como anuncia e cumpre! A produção, assinada por Liminha, traz excelência e bela sonoridade. As exuberantes baterias são irmãmente revezadas entre Adriano Trindade e Adal Fonseca, entre firmeza, suingue e linda afinação. Rodrigo Tavares pilota com sensibilidade os teclados todos. Rodrigo “Suricato” Nogueira sela cada vez mais esse encontro com o universo amplo de Moska, através de seus sons e intervenções sempre extremamente inspirados, assinados com sua guitarra.

O álbum traz uma urgência nos assuntos e na voz. Moska, mais do que nos acolher, nos convoca. Existe um chamado de multidão, inclusive na pegada roqueira, pra poder dizer “mas pra que morrer hoje, se amanhã eu estarei melhor? Viver pra sempre ninguém pode, o jeito é não ficar só!” E ele deu seu jeito, pois seus álbuns não costumam apresentar muitas parcerias, acostumado e vitorioso ao compor sozinho, confirma aqui a caneta de Carlos Rennó, que mais uma vez comparece e com ele assina três faixas, dando o tom de manifesto, que lhe é peculiar, na necessária “Nenhum Direito a Menos”, que já na primeira audição nasce pertencendo a todos nós, que sentimos o ímpeto legítimo e urgente de dizer “não” ao que nos afunda como povo e nação.

Logo depois, para quem ainda como eu, gosta de um roteiro, a irresistível “Pela Milésima Vez”, primeira parceria com Zeca Baleiro, que para além de Noel Rosa, jura em sua letra, não mais amar pela milésima vez e “não chorar como um compositor”. O que seria de nós, sem os poetas fingidores? Que seja a primeira de mil parcerias desses vizinhos de geração!

“Medo do Medo”, parceria com Zélia Duncan (a felizarda eu!), faz contraponto mais explícito com a Beleza que também o contém! E “pelo que há nela de fragilidade e de incerteza”, como diz um certo poeta. Traz também uma composição diferente. É um reggae nada preguiçoso, cheio de vigor e vontade de olhar o medo dentro dos olhos. O baixo de Liminha anuncia a base e faz a bela locomotiva seguir em frente, sem olhar para trás.

Nosso usualmente doce cantor, até para falar de assuntos amargos, prepara o terreno com explosões de beleza e uma irremediável esperança. Se você continua seguindo o roteiro, vai terminar de ouvir esse novo trabalho deixando nos ouvidos duas canções de amor, desse amor que o autor tanto usa como matéria prima principal de sua vida e sua música, despudoradamente amorosa.

Estamos mais desumanos, é fato, que a arte sempre nos salve, nos (re)humanize, nem que seja pelo tempo que durar uma dessas canções! E afinal, do caos não se faz a luz?

Os shows de lançamento serão dia 1 de setembro no Circo Voador (RJ) e dia 21 de setembro na Casa Natura (SP).

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