Primeira noite do Back2Black leva grande lotação a Cidade das Artes

Finalmente!!! É o que podemos dizer com a confirmação de mais uma edição do festival Back2Black, um dos mais representativos eventos culturais que acontecem em território nacional. Tradicionalmente, ocorria na cidade no mês de Novembro, já tendo nos proporcionado 5 grandes acontecimentos anteriores. Isso sem contar com a edição londrina em 2012.

A relevância proporcionada pelo resgate da curadoria do evento é ímpar: “Mas como ignorar a importância de um continente que é o verdadeiro berço da humanidade? Foi ao perceber essa flagrante distorção que concebemos o festival Back2Black, para refazer essas pontes frágeis e devolver a África ao Brasil e ao mundo”, sinaliza a produção do festival.

Só que não tivemos a edição de 2014. Isso deixou muitos apreensivos, porque foi notório que a mudança da estação férrea desativada da Leopoldina, no centro da cidade, para a polêmica, contestada e longínqua Cidade das Artes na Barra da Tijuca em 2013, possa ter abreviada uma história que estava sendo lindamente contada. Mas realmente a estrutura do atual local é MUITO melhor, e com sua esplendorosa beleza arquitetônica, só tem a acrescentar a tão representativo evento. Vide que tivemos GRANDES e inesquecíveis momentos na anterior.

Esse ano não teremos o show na Sala de Concerto (fantástica por sinal), que como denunciei por aqui, causava uma “barriga” entre as atrações pela possibilidade de pagamento a parte, e o horário da apresentação ser no meio da grade dos dois palcos aonde acontece o festival na sua essência, com toda a diversidade étnica que lhe é peculiar. E sempre nos trazendo surpresas fantásticas. Mas em compensação, terão ainda mais palestras, debates, workshop, ciclo de poesias, exibição de filme (sempre no início do evento), além de expositores dos mais diversos. E as “mais do que tradicionais” projeções na arquitetura do espaço.

No PALCO RIO, os trabalhos já começam com peso histórico. Considerado o ‘pai da poesia dub’ e um dos maiores nomes da poesia contemporânea em língua inglesa, o jamaicano Linton Kwesi Johnson se tornou em 2002, o primeiro poeta negro a ter seu trabalho publicado na prestigiosa série Selected Poems da Penguin Classic, um feito inédito! E ainda acompanhado pelo parceiro de mais de 20 anos em gravações e shows pelo mundo, Dennis Bovell, também produtor e arranjador, que estará à frente do seu septeto Dub Band.

Com uma banda “azeitada”, com naipe de metais e violino, o show foi uma verdadeira “viagem”, com as projeções “lisérgicas” do telão só contribuindo ainda mais para esse propósito. Dennis pregava seus versos tal qual um reverendo cristão, enquanto a base “enfumaçada” do seu “proto-dub” comia solta. Não empolgou, mas agradou. Aliás, era para empolgar? Precisamente não…

DU

Logo em seguida, rumamos para o PALCO CIDADE para ver o rapper e produtor musical carioca Dughettu. Conhecido inicialmente por seu trabalho com o AfroReggae, teve um badalado álbum (“É questão de que?) lançado em 2009 com produção de Plínio Profeta (Lenine). Depois de aberturas no Brasil para Lauryn Hill, Joss Stone, Akon, 50 Cent e Chris Brown, ainda teve seu novo trabalho (“BPM 021”) produzido em Los Angeles. E toda a atenção em prol do seu nome é JUSTIFICÁVEL!

O cara fez um showzaço! Acompanhado de uma bela banda, com bateria, percussão e Dj simultaneamente contribuindo para um molho afro em uma base BEM pesada, foi uma pauleira só, sem tempo para respirar. A versão de “Para Lennon e McCartney”, eternizada na voz de Milton Nascimento, foi um belo momento, juntamente com a homenagem soul (pungente dueto com sua afinadíssima backing vocal) aos points de música negra da cidade. O cara veio para ficar, guardem esse nome… 

PH 2

Voltamos correndo para o PALCO RIO para ver um grupo que dispensa comentários. O Planet Hemp foi um dos grandes nomes dos anos 90, com sua mistura de rap, rock’n’roll, psicodelia, hardcore e ragga (como denuncia a letra do clássico “Deisdazseis”) e letras pró legalização da Maconha. Obviamente quem não pode ver a banda no seu auge, e também fãs mais antigos, enlouqueceram quando souberam do seu retorno para uma série de shows depois de um longoooooooo tempo. Então já é sabido que esses acontecimentos são de total comoção.

E no Back2Black  não poderia ser diferente! TODAS as músicas foram cantadas em uníssono, com o set-list sendo apresentado de forma cronológica. Cada disco (dos 3 da discografia) era destacado como um ato, onde Marcelo D2 e BNegão aproveitavam para contar um pouco da história da banda. A nostalgia se tornou ainda maior pela qualidade do som, alto demais e que “embolava” em vários momentos. Para os nostálgicos como eu, remeteu aos shows na clássica e “falecida” casa underground “Garage Art Cult”, onde a banda fez as suas primeiras apresentações no início dos anos 90. Mas nada que comprometa a verdadeira PORRADA que foi o show, não há outra definição para o ocorrido naquele palco…

CK 2

Uma dar grandes revelações do rap nacional aporta no PALCO CIDADE, a estilosíssima curitibana Karol Konka. Milhões de visualizações no Youtube, premiações diversas como revelação, disco de estreia Batuk Freak” com recorde de downloads na semana de lançamento, além de muito carisma e personalidade. MUITA expectativa para o seu show! Seu rap cheio de groove e com letras abordando imagens de baladas enlouquecidas e conceitos feministas, colocou o povo para dançar durante toda a apresentação.

Ela já chegou anunciando: “vim para quebrar os padrões, f… eles!” E sabe muito bem usar a sensualidade a seu favor. A troca com o público se dá de forma intensa, todos são absorvidos nessa experiência sensorial. E dentro do padrão clássico dos shows de rap, Dj e um percussionista convidado, nada mais. Sua figura é o grande diferencial, chamando a responsabilidade para si. O final com uma versão matadora de “Dança do Caxambú”  do mestre Almir Guineto só veio para coroar a belíssima apresentação. PONTO!

Damian

Para dar uma relaxada, o “filho do homi” no PALCO RIODamian ‘Jr. Gong’ Marley, o quinto da dinastia Marley. Quem desconhecia o trabalho do vencedor do Grammy em 2002, esperava um “roots” de ares acústicos bem ao gosto do seu lendário pai. Mas Damian vai mais além! Hip hop e dancehall também compõe o seu “pacote” sonoro. Só que nessa noite preferiu fazer uma espécie de homenagem ao papai Bob, com uma apresentação bem tradicional dentro da cartilha do reggae. Os puristas amaram! A Jamaica tomou conta do local e o clima foi de paz, amor e JAH, como ditam os mandamentos “sagrados”. Eu particularmente achei burocrático…

Todos devidamente relaxados para ver corpos em movimentos inacreditáveis no PALCO CIDADE, na apresentação do Dream Team do Passinho com os Bailarinos do Kuduro. Realmente, é inacreditável o que os jovens das periferias brasileiras e de Angola fazem corporalmente. Ainda sob efeito da viagem do reggae, as pessoas riam admiradas, mas ninguém se atrevia a acompanhar em nenhum momento. Foi um belo final, com o primeiro dia do festival recebendo grande lotação, proporcionando também na plateia um belo espetáculo de diversidade de estilos. E vale frisar o golaço da produção, os shows seguiram perfeitamente de forma sequencial, sem atrasos. Hoje ainda tem mais!

Por Alessandro Iglesias

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