Stacey Kent maravilhosa e cada vez mais brasileira

Cantora americana fez show no Citibank Hall

 

Stacey Kent, a premiada cantora americana (com residência em Londres e Paris) que cada vez possui relações mais estreitas com o Brasil, vêm para uma nova turnê no país em um intervalo de 6 meses (última passagem foi em abril). Talvez esse seja um dos motivos que explique a frequência tão baixa (cerca de 20% das cadeiras ocupadas) nessa apresentação de terça-feira no Citibank Hall, juntamente com o fato de ser um dia de semana com tempo chuvoso.

Acompanhada do Trio Corrente (Edu Ribeiro, Fabio Torres e Paulo Paulelli, contrabaixo acústico, piano e bateria respectivamente) e do marido, o saxofonista Jim Tomlinson, num formato que já denunciava uma apresentação intimista, bem propícia para aquela situação proporcionada pelas condições. Mas adentrar ao palco e iniciar os trabalhos com o clássico “They Can’t Take That Away From Me” (dos irmãos Gershwin e eternizada em gravações de Frank Sinatra e Tony Bennett) foi pura covardia! Dentro do seu estilo cool jazz de interpretação, impressiona de forma absurda: cada fraseado, a sutileza na concepção das linhas vocais, o sussurro sincopado, as pausas com texturas dramáticas e principalmente a beleza da sua voz, nos apresenta um conjunto sublime e que emociona bastante…

As canções seguintes já foram mostrando qual seria o tom da apresentação, a proxilidade do jazz ia cada vez mais se aproximando da concisão da música popular brasileira. Dirigindo-se ao público num português QUASE perfeito, conseguiu encantar ainda mais a audiência, pois sua simpatia, carisma e demostração de alegria por estar se apresentando mais uma vez por nossas paragens, é indubitavelmente cativante! A proximidade que o formato propiciava, fez com que nos sentíssemos cada vez mais íntimos, conforme nos relatava suas histórias.

Chorou ao dizer que hoje finalmente pode entender a nossa língua, estar frequentemente em nosso país e interpretar corretamente canções de ícones do nosso cancioneiro. Depois de cantar em inglês e francês, uma interpretação singela de “Corcovado” (Tom Jobim) em nosso idioma (pediu permissão ao público para tal feito), fez ao final da execução a emoção tomar conta de vez, quando nos relata o primeiro contato que teve com a música brasileira: “Aos 14 anos, fiquei vidrada quando ouvi o disco do Stan Getz com o João Gilberto e tentava convencer aos meus amigos fãs do Aerosmith que aquela era a melhor música do mundo, mesmo sem entendermos o idioma. Aquela música mudou a minha vida. Mas também adoro o Aerosmith!”

E entre belíssimos números instrumentais (com todos os músicos se destacando soberbamente) e Stacey com seu canto minimalista e pungentemente belo, o Brasil começou a se manifestar ainda mais no repertório, mas de forma global: “Vivo Sonhando” (Dreamer) e “Águas de Março” (olha o maestro Tom Jobim de novo!), em inglês e francês respectivamente.

Quando anuncia que vai cantar uma canção de um dos seus heróis, Marcos Valle, para surpresa sua o mesmo estava na plateia e sem se importar com a discordância do marido (no mínimo estava achando o apelo “deselegante”), implorou para que realizasse seu sonho de cantar com ela. Foi o grande momento da noite ver toda sua sinceridade no sentimento em dividir o palco no total improviso com seu ídolo (já tinham gravado juntos, mas nunca se apresentado ao vivo) na clássica “Samba do Verão”. Ovação total!!! Volta num insistente pedido de bis que não estava no roteiro, numa versão também improvisada de “Carinhoso”, do mestre Pixinguinha.

Após o término do espetáculo sublime no qual tivemos o privilégio de assistir, fica a sensação que Stacey Kent merecia por parte do público o mesmo carinho que ela dispõe com a música do nosso país, com uma plateia numericamente a altura do seu enorme talento. E o lamento por quem não pode ou não quis estar presente, pois deixou de presenciar uma das melhores cantoras do MUNDO em ação.

Texto: Alessandro Iglesias

Fotos: Sites Terra e Goio Villanueva

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