Tentando ser mais original que o pop atual, álbum de estreia da Camila Cabello alcança as expectativas

Quando Camila Cabello anunciou a data de lançamento do seu álbum de estreia disse que ele “era sobre quando descobriu seu próprio caminho”. E é exatamente assim que ele soa. “Camila” foi lançado através da Epic Records e da Syco Music nesta sexta-feira, 12, no mundo todo e já como número 1 em diversos países. O disco mistura o R&B que tradicionalmente faz sucesso no pop, mas com uma sonoridade muito diferente do que encontramos em artistas desta cena. Parece que a cubana/mexicana/americana encontrou o seu estilo. E ele passa bem longe do Fifth Harmony, onde ganhou notoriedade.

Já presente nas principais plataformas por streaming e lojas virtuais, o novo trabalho tem as tradicionais batidas digitais, porém com arranjos que misturam tentativas de jazz com pianos e uma pegada latina nos médios, que é o que marca e dá identidade a sonoridade do CD. Mesmo deixando de fora o seu primeiro grande sucesso, “Crying in the Club”, a estreia da jovem é em grande estilo e bem autêntico, se falamos de um mercado cuja grande armadilha é repetir fórmulas iguais para se chegar ao topo. Com bons trechos e músicas aspirantes a grandes hits durante o ano.

São 11 faixas ao todo, com Cabello lançando sua voz em diversas cenas, como o single “Never Be the Same” que abre o projeto. A mais “similar” ao que encontramos, curiosamente é a que destoa do todo. Se vê uma vocalização artificial demais, coisa que as outras não têm. Porém em “All These Years” e “She Loves Control” ouvimos sua voz sensual e característica, com alguma pegada meio reggaeton, meio pop. Cada um dos pés no que a indústria fonográfica abraçou como sucesso comercial do momento. Até nas letras, que narram suas aventuras.

Depois vem o que já se tornou um dos maiores sucessos desta década, “Havana”. Como falamos aqui, Camila se alçou ao patamar de estrela graças a ela e por seu som muito peculiar, ótimo, por sinal. Trompetes e ritmos ao piano, à lá Buena Vista Social Club, fazem esse hit ser algo absurdamente delicioso. Tão bom que “Inside Out”, em seguida, vem no embalo e ritmando junto. “Eu quero te amar de dentro pra fora”, na tradução literal, faz até mais sentido para esse hit, porque é como nos toca.

“Consequences” é uma balada meio água com açucar, porém deixa que a cantora coloque em prova seu talento vocal. E aprovado. Lembra, em alguns momentos, Ariana Grande pelo timbre e Christina Aguilera pelos vibratos. “Real Friends”, como quase diz o nome, é uma canção bem amigável. Se na letra ela quer ser apenas nossa amiga, seu jeito hip-hop de versar e pegada mais pop a tornam uma boa faixa.

Ao piano, “Something’s Gotta Give” é mais uma onde tem muito de Camila e pouco de batidas eletrônicas. A produção teve o cuidado (e claro que a cantora também deixa isso fácil com seu talento) de não suplantar a sua qualidade vocal com muitos elementos que a pudessem deixar em segundo plano. “In The Dark” faz esse papel. Coloca pra fora as características do que ouvimos com frequência nas rádios. Não é algo ruim, porém passa quase batido quando há outras boas músicas no trabalho.

“Into it” tem uma sensualidade na letra que encerra bem para um projeto que tem como grande trunfo a honestidade em ser algo que não seja mais do mesmo. Não é uma tentativa de trilhar caminhos já trilhados. É seu próprio, como afirmou. Como bem disse Cabello, “todas as canções contêm alguma memória por trás delas“. E aí a grande chave para o bom trabalho: algo feito para ser seu, não repetir o que dá certo. Talvez os outros que, agora, passem a beber mais dessa fonte pop, porém caribenha, latina e muito swingada de “Camila”.

Classificação: Bom

OUÇA “CAMILA”

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